O vase breathing é uma técnica de respiração profunda, de retenção com contração abdominal e foco visual no abdômen. Também conhecida como kumbhaka em sânscrito e bumpachen em tibetano, é uma técnica usada em práticas budistas e yoguis.
+ O novo “doping” do Everest — e o que ele revela sobre a potência da sua respiração
+ O truque de respiração que atletas usam pra não travar na hora H
Primeiro, você sente os dedos mais lentos. Depois, a fala vacila. As coisas parecem um pouco mais difíceis, mas na sua cabeça, tudo ainda está sob controle. O que você não percebe é que, por dentro, o corpo já começou a apagar. A hipotermia não te leva com violência, ela te apaga devagar. Desliga a memória. A precisão. O juízo. E o mais perigoso? Você não percebe.
Em junho de 2025, uma brasileira desapareceu no Monte Rinjani. Quando o corpo foi encontrado, o mundo das trilhas ficou em comoção coletiva e alerta. A perícia disse que foi o impacto; que a morte não teve a ver com o frio. Mas podia ter sido hipotermia, e com muitos já que tiveram problemas graves na montanha ou mesmo não voltaram, foi esse o golpe final.
Quem já ficou preso em travessia, sem abrigo, com o tempo virando, sabe. Não precisa estar abaixo de zero para o corpo começar a falhar. O frio pede mais do que roupa: não basta uma boa jaqueta. O frio exige uma resposta interna. E a mais acessível — e negligenciada — é a respiração.
Quem vive o outdoor com seriedade treina preparo térmico, sim. Mas poucos treinam com o corpo parado, o vento batendo e a mente ativa. E é aí que mora a potência.
Há respaldo científico nessa camada extra de proteção que a respiração pode dar. Décadas atrás, Herbert Benson, da Harvard Medical School, documentou monges tibetanos aumentando sua temperatura corporal com técnicas de respiração.
Mais tarde, Maria Kozhevnikov, da NUS e Harvard, mediu:
- Até 8,3 °C de aumento na pele
- Temperatura central a 38,3 °C
- Ocidentais comuns replicaram os efeitos em poucos dias
A técnica? Vase breathing: respiração profunda, retenção com contração abdominal e foco visual no abdômen. Também conhecida como kumbhaka em sânscrito e bumpachen em tibetano, essa é uma técnica de respiração usada em práticas budistas e yoguis.
O vase breathing é ciência aplicada e está disponível para quem quiser levar o corpo além do óbvio.
Como fazer vase breathing
- Respiração com retenção
Inspire até a base. Contraia levemente o abdômen. Segure por 10 a 15 segundos. Expire devagar. Repita por 5 minutos.
- Foco no centro
Durante a retenção, leve sua atenção para a região abdominal. Visualize o calor se expandindo. É neurofoco. É direção.
- Exposição gradual ao frio com presença
Em caminhadas ao amanhecer, travessias com vento ou momentos de pausa em altitude, aplique a respiração. Seu corpo aprende, responde, ganha autonomia.
Isso não é sobre substituir as recomendações tradicionais sobre proteção. É sobre ampliar. Você não vai abrir mão do equipamento. Mas pode adicionar a única ferramenta que viaja com você desde o primeiro passo: a respiração consciente. Ela aumenta a sua margem de resposta. Sua lucidez. Sua autonomia. E, no limite, isso muda tudo.
O novo parâmetro de preparo
Quem escala, corre, atravessa, sabe: o que faz diferença não é só técnica. É o quanto o seu corpo sabe se manter presente mesmo quando o ambiente aperta. Respiração é parte disso. É performance invisível. É autocontrole real.
Você não precisa enfrentar o Himalaia para se preparar. Nem cruzar a Patagônia para começar a ativar o que já é seu por natureza. A resposta ao frio pode — e deve — ser treinada agora. No chão da sua casa. Na próxima trilha. No silêncio entre dois passos.
A chama mais importante da sua jornada talvez não esteja no isqueiro. Está no centro do seu corpo. E você pode acendê-la com o ar que entra.
Respire. Expanda. Aqueça por dentro. E continue inteiro até o fim.
*Claudia Faria é praticante de Yoga há mais de 20 anos, escaladora e criadora do Método Yoga Adventure, que integra técnicas de respiração, meditação e biohacking para otimizar a performance mental e física em esportes de aventura. Já abriu uma via de 600 metros no maior monolito do Brasil em Pancas (ES), fez cume no El Capitan, em Yosemite. @yogaadventure.br | @claudiafaria.ya