Por que a volta do Talibã é uma ameaça às mulheres ciclistas do Afeganistão?

Por Redação

Lançado em 2018, documentário Afghan Cycles mostrou mulheres do Afeganistão enfrentando barreiras culturais e de gênero com a ajuda da bicicleta. Foto Reprodução / YouTube.

No último domingo (15), o grupo extremista Talibã voltou à Cabul, capital do Afeganistão, 20 anos depois de ser expulso pelas tropas dos Estados Unidos.

+ Sara Haba é primeira mulher a chegar a Meca de bicicleta
+ Mais mulheres estão escalando o Everest
+ Surf feminino: mulheres compartilham seus desafios

Assim como a capital, as maiores cidades do país também já estão controladas pelo grupo islâmico.

Mas o que isso significa para a população local, que já passou por diversas guerras ao longo das últimas décadas?

Para muitos, a nova ofensiva do Talibã ameaça, principalmente, os direitos conquistados pelas mulheres do país ao longo dos últimos 20 anos.

Dentre elas, estão centenas de ciclistas que, com a ajuda da bicicleta, decidiram enfrentar as inúmeras barreiras culturais e de gênero.

Da última vez que o Talibã governou o país, de 1996 a 2001, as mulheres não podiam trabalhar, sair de casa sem cobrir o rosto ou desacompanhadas por parentes homens.

Além disso, uma mulher pedalar significaria uma ofensa social enorme, sinônimo de imoralidade.

Mesmo com o fim do regime, as feridas não cicatrizaram e as mulheres ciclistas do Afeganistão continuaram sofrendo preconceito. Em 2013, esse contexto inspirou a norte-americana Shannon Galpin a iniciar uma revolução sobre rodas.

Galpin teve a ousadia de montar um time de mulheres ciclistas do Afeganistão, história que foi contada no documentário Afghan Cycles (2018). O filme mostra que para essas jovens ciclistas afegãs, a bicicleta é um símbolo de liberdade.

Agora, a volta do Talibã e a iminente aplicação da forma mais rígida da Lei Sharia, pode significar a perda de direitos básicos de toda uma geração de mulheres que cresceu em escolas e praticando esportes com menos preconceito.

Duas mulheres pioneiras, a ativista Malala Yousafzai – ganhadora do prêmio Nobel da Paz e que há 10 anos sobreviveu a um tiro na cabeça disparado por integrantes do Talibã no Paquistão – e a cineasta Sahraa Karimi, a primeira mulher a ocupar a direção da Afghan Film, organização estatal responsável pelo cinema afegão, expressaram recentemente as suas preocupações nas redes sociais.

“Assistimos em completo choque enquanto o Talibã assume o controle do Afeganistão. Estou profundamente preocupada com as mulheres, as minorias e os defensores dos Direitos Humanos. As potências globais, regionais e locais devem exigir um cessar-fogo imediato, fornecer ajuda humanitária urgente e proteger refugiados e civis”, escreveu Malala.

“O Talibã entrou em Cabul, infelizmente, e estamos cercados”, afirmou Karimi em desespero, enquanto compartilhou um vídeo na sua rua, com um carro passando com membros do Talibã segurando armas nas mãos.

“O Talibã cercou Cabul. Fui ao banco tirar dinheiro, estava fechado e vazio. Não consigo acreditar que isso aconteceu. Peço outra vez que rezem por nós. Pessoas do mundo, por favor, não fiquem em silêncio. Eles estão vindo nos matar”.







Acompanhe o Rocky Mountain Games Pedra Grande 2024 ao vivo