Por Bruno Romano*
Fotos Drew Taylor
RESPIRE BEM FUNDO antes de ver a trupe Storror em ação. É bem provável que esse seja seu último suspiro mais tranquilo. Ao assistir a qualquer performance do coletivo britânico, segurar o ar e arregalar os olhos é uma reação bastante comum. O que à primeira vista parece completa insanidade se revela um (quase inacreditável) ápice do parkour, modalidade de raízes urbanas que já nasceu ousada e transgressora. Ao seguir essa linha, o grupo tem criado cenas que ficam na mente – dê uma espiada no canal StorrorBlog, no YouTube, ou na conta @Storror, no Instagram –, quebrando fronteiras do esporte a cada novo frame.
Da Europa às Américas, da Ásia ao Oriente Médio, fazer parte de um tour do Storror significa explorar grandes centros urbanos com um olhar atrevido, um talento bem acima da média e um apetite gigante de aventura. Isso inclui manobras de alto risco e saltos entre enormes vãos de prédios – a marca registrada do bando. Os feitos têm atraído fama: milhares de seguidores nas mídias digitais, filmes independentes lançados com sucesso e contratos para apresentações mundo afora. Por outro lado, não quer dizer que a onda agrada a todo mundo: críticas, batidas policiais e perseguição de autoridades são uma constante na rotina.
Entre a veia underground e a evolução do esporte, a questão é que esses sete jovens do sul da Inglaterra estão mesmo dispostos a arriscar tudo para seguir fazendo o que mais amam. Para entender melhor o que move a cena, falamos com Drew Taylor, um dos fundadores do grupo, que estava com visita marcada para o Brasil em fevereiro, celebrando uma inédita passagem com time completo pelo país. Dos bastidores das filmagens aos novos voos previstos no horizonte, captamos um pouco do espírito Storror a seguir.
A PAIXÃO PELO RISCO
“Essa fascinação por saltos entre prédios e telhados (os chamados roof tops ou roof gaps) surgiu do espaço limitado que tínhamos para treinar nas pequenas vilas do sul da Inglaterra, onde nascemos. Depois de anos explorando obstáculos em alturas mais perto do chão, naturalmente começamos a olhar para cima – o que abriu um novo mundo de possibilidades.”
PENSAMENTO LIVRE
“Quando começamos, não tínhamos audiência, então era mais fácil fazer vídeos bizarros e divertidos, pois simplesmente não haveria críticas ou parâmetros. Agora temos um público de quase 1 milhão de pessoas [inscritas no canal do YouTube] que se interessou pelo que fazemos. É impossível não ser influenciado por isso de alguma forma. O problema é que, com tanta gente, não dá para agradar a todos. Sempre ouvimos o que as pessoas têm a dizer e o que elas pensam sobre o que estamos criando. Mas, se algum de nós tem uma ideia na qual realmente acreditamos, nada mais interessa para a gente. Nós vamos fazer acontecer de um jeito ou de outro.”
RAÍZES FORTES
“Somos unidos por uma paixão pelo movimento. E estamos sempre rodeados por nossos melhores amigos de infância. Além disso, cada um de nós é extremamente focado em desenvolver as habilidades individuais, esforçando-se de verdade para alcançar feitos incríveis. Quando uma paixão de criança vira o seu trabalho, torna-se importante sempre se lembrar da razão de tudo isso ter começado; no nosso caso, do amor genuíno pelos movimentos e pela liberdade de criar vídeos que nos empolgam e nos deixam satisfeitos com o resultado. E é isso o que fazemos até hoje.”
PROFISSÃO: PARKOUR
“O grande desafio de viajar pelo mundo e viver de parkour é que ninguém fez algo como o que estamos nos propondo. Não há um exemplo a seguir. Estamos descobrindo por conta própria, no dia a dia – o que traz vários desafios, claro. Mas isso também gera um enorme sentimento de liberdade, sabendo que somos pioneiros. Por trás dos perrengues, o maior benefício que tudo isso traz é poder viver a maior parte do nosso tempo fazendo o que amamos.”
Em feverereiro o grupo de parkour esteve no Brasil:
VIVA A LIBERDADE
“É claro que há um ar de protesto sempre que alguém decide fazer ‘arte com o corpo’ se movendo em estruturas urbanas concebidas para outros fins específicos. Esse tipo de atitude é naturalmente transgressor e representa uma quebra com a norma. Mas, para ser bem sincero, nós não ficamos pensando muito no assunto. Deixamos para cada um que vê o que fazemos decidir o que tudo isso significa ou representa.”
ESTÁ TUDO NA SUA CABEÇA
“Acreditamos no parkour como um método de treinamento que te permite superar aquela voz dentro da mente que te impede de alcançar seu máximo potencial – isso pode acontecer na forma de desafios físicos ou barreiras mentais. Para nós do Storror, o parkour representa a liberdade de ser capaz de definir o que se enxerga como possível.”
*Reportagem publicada na edição nº 149 da Revista Go Outside, março de 2018.