Incapaz de voar para casa para ficar com seus pais durante a pandemia de coronavírus, Juan Manuel Ballestero, 47, decidiu navegar o Atlântico, de Portugal a Argentina, de barco a vela, em uma viagem que durou três meses.
Juan, que é argentino, chegou a Mar del Plata na quarta-feira (17). Ele disse que planejou a viagem em apenas 24 horas depois de saber que os voos foram cancelados em meio a medidas de bloqueio para conter a propagação do coronavírus.
“Eu queria estar com eles”, disse Ballestero na quinta-feira à agência de notícia AFP, enquanto aguardava em quarentena antes de ver seu pai de 90 anos, Carlos Ballestero, e sua mãe, de 82 anos, Nilda Gomez.
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Juan vive na Espanha, e estava no arquipélago português da Madeira quando os bloqueios na Espanha e na Argentina entraram em vigor. Quando decidiu navegar o Atlântico, ele pegou os € 200 (R$ 1.205) que havia economizado, carregou seu veleiro “Skua” com comida e partiu de Porto Santo, que ainda não havia sido fortemente afetado pela pandemia, em 24 de março.
O argentino disse que tempestades assustadoras o ameaçaram ao longo da jornada. Ele afirma que quase perdeu a vida próximo à costa do Brasil, quando encontrou ventos fortes e ondas que lançavam o pequeno barco. Também não foi fácil navegar pelo rio da Prata que leva a Mar del Plata.
“Agora estou calmo, ancorado aqui no meio deste porto”, disse o marinheiro experiente. “Não há tempestade para me incomodar ou barco para me atropelar.”
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Durante os 85 dias acima do veleiro, Juan atravessou todos os tipos de situações. “Um bando de golfinhos me acompanhou quase 4 mil milhas. Além disso, tive duas andorinhas pretas que me acompanharam quase toda a viagem pelo Brasil “, contou em uma reportagem de rádio. “Em todas as minhas viagens, os golfinhos eram uma grande companhia. Uma vez em Cabo Verde salvaram minha vida porque estava muito cansado e comecei a dormir. Seus sons acordaram e evitaram que eu batesse contra uma pedra “, acrescentou.
Agora, na Argentina, ele deve permanecer em seu barco de 8,8 metros por uma quarentena de 15 dias, incapaz de tocar em seus pais. Juan disse que fez a jornada porque tinha certeza de que as medidas de pandemia e bloqueio permaneceriam por muito tempo e ele queria estar com sua família.
“Vim para minha casa. É humano”, disse Ballestero, que pescou no Alasca e no Atlântico Sul e serviu como comandante de veleiros oceanográficos em busca de baleias ou realizando pesquisas ambientais.
Em sua terra natal, ele quer aproveitar os dias com os pais. “Vou plantar um jardim e comprar três galinhas. Vou passar o inverno com os idosos”, disse ele. “Eu quero estar com a família.”