Fica triste no Natal? Isso é mais comum do que você pensa!

Triste no Natal
Foto Shutterstock

Outro dia, conversando com familiares, escutei uma frase comum nesta época do ano: “se eu pudesse dormia antes do Natal e acordava somente depois do ano novo”. Em meu consultório, como médica psiquiatra, ano após ano ouço pacientes repetindo a queixa de estar triste no Natal.

Mas afinal de contas, o que acontece no período de Festas que afeta tanto a todos nós?

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Mesmo quem gosta de Natal e das comemorações do final de ano passa por algum sentimento de desconforto. Pesquisadores americanos, em 1975, em artigo para a revista científica: “Perspectives in Psychiatric Care” afirmaram que “poucas pessoas passam ilesas pelos ‘holydays seasons’, sem sentir tristeza, desapontamento, ansiedade ou algum grau de dor emocional”.

São diversas as razões para estar triste no Natal e experimentar tais sentimentos:

– Expectativas inalcançáveis e fantasias relacionadas ao Natal;

– Pessoas mais velhas revivendo memórias de um Natal dos “velhos tempos”;

– Fadiga e estresse intensos que surgem do excesso de atividades, compromissos e informações;

– Mercantilização da data, que se tornou muito comercial e o estresse financeiro e a pressão por “dar e receber presentes”, em período de crise econômica e desemprego;

– A impossibilidade de estar com os familiares ou amigos, por luto, separações e conflitos ou até mesmo doenças na família.

Este ano, em especial, dá para acrescentar muitos motivos relacionados a pandemia. As pessoas atravessaram sentimentos negativos ligados a perdas e isolamento, e o clima de tensão e pessimismo foi recorrente.

Além disso, mesmo não estando tão envolvido com a data ou ocupado com outros assuntos, somos mergulhados involuntariamente num mar de informações natalinas? São os shoppings, ruas enfeitadas, redes sociais, rádio, TV, conversas e os famosos convites para os sorteios de “amigo secreto”. Presentes muitas vezes comprados às pressas sem significado e que a maior parte dos presenteados fica com suas expressões de: “por que achou que eu gostaria de ganhar isso?!”

Muitos, então, passam a sentir dor de cabeça, bebem álcool em excesso, comem demais e se queixam de insônia. Haja energia para lidar com tamanha ansiedade e tantas frustrações!

É importante destacar que triste no Natal não é sinônimo de doença ou depressão. São sentimentos e sensações absolutamente normais e até esperados.

Muitos se sentem culpados por não sentirem a empolgação e não se identificarem com as alegrias de uma época relacionada à harmonia e ao entendimento entre as pessoas. Outros se sentem solitários e sem planos.

Mas, então, o que fazer? Organizei algumas dicas para nos ajudar a passar “ilesos” ou, pelo menos, com menos sofrimento neste período:

1 – Crie expectativas realistas: entender que dificilmente haverá grandes mudanças/realizações nesse período.

2 – Não se sobrecarregue nos preparativos: divida as tarefas. Cada um dos membros da família ficando responsável por uma parte da festa (um compra a comida, outro cuida dos enfeites, as bebidas são responsabilidade de um terceiro, e assim por diante). Abre espaço para que todos possam curtir e estar descansados.

3 – Viva o presente: cada minuto pode ser muito precioso, e o pilar fundamental de plenitude ou felicidade tem a ver com conseguir estar no momento atual. Respirar ajuda, desacelerar e curtir cada instante é fundamental. Já reparou como muitas vezes só damos valor àquilo que perdemos? Isso está fortemente relacionado à falta de foco no aqui e agora.

4 – Não faça gastos maiores que seu orçamento: como uma das principais fontes de estresse e sofrimento do período de festas, essa é uma das dicas mais difíceis de seguir e uma das mais efetivas. Estar presente na vida de quem nos ama e de quem amamos é muito mais precioso e raro (nos dias de hoje) que um bem material, esse que será esquecido no primeiro semestre do próximo ano quando novos lançamentos imperdíveis chegarão nas lojas, tornando o presente caríssimo, numa peça defasada e sem valor. Dê a sua companhia como o melhor presente de Natal.

5 – Limite o consumo de bebidas alcoólicas: “mas, Ana Paula, tem comemoração todos os dias! Como eu faço?” . Preste atenção nisso, o consumo em excesso de álcool está diretamente relacionado ao surgimento de sintomas depressivos e ansiosos. Que tal tomar mais água com o vinho? Diminuir os destilados e não beber com o estômago vazio?

6 – Separe um tempo para relaxar: tire um tempo para você. Descanse. Leia o livro que estava na estante há décadas esperando uma oportunidade, vá ao parque e caminhe com seu animal de estimação, ou simplesmente não faça nada.

7 – Faça algo para o próximo: trabalho voluntário; visitas a creches, hospitais e/ou asilos; juntar-se a uma igreja ou comunidade de ajuda a moradores de rua. Qualquer causa com a qual você se identifique e o conecte a outro ser humano irá fazer bem à sua saúde emocional e trazer sentimentos positivos. Ajudar ao próximo está cientificamente relacionado ao aumento de hormônios que aumentam o sentimento de conforto, segurança e felicidade.

“Fiz tudo isso, e sigo me sentindo mal”

Nunca deixe de procurar ajuda especializada e entender que depressão é sim uma doença e demanda avaliação e acompanhamento médico. Se for o caso consulte um especialista.

É possível não se sentir triste no Natal, ao tentar tornar o período de festas mais tranquilo e até mesmo alegre. Esteja com pessoas importantes para você. Permita-se ficar em sua melhor companhia, você mesmo e até sair para festejar!

Dra. Ana Paula Carvalho

*Ana Paula Carvalho é Médica Psiquiatra, Mestre em Psiquiatria pela Escola Paulista de Medicina, sendo a primeira psiquiatra brasileira com certificação internacional em Medicina do Estilo de Vida pelo International Board of Lifestyle Medicine (Board Certified Lifestyle Medicine Physician).







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