Trekking na Ilha Grande: roteiro de 6 dias

Por Alexandre Cappi

Roteiro: 6 dias de trekking na Ilha Grande
Imagem: Ferran Feixas/Unsplash

Em minha opinião, o trekking de Ilha Grande é um dos melhores trekkings do Brasil. São mais de 130 km de trilhas que contornam boa parte de sua área protegida – algumas são cicatrizes abertas pelos presidiários que escapavam da Colônia Penal que existiu ali.

Toda a ilha está contida na Área de Proteção Ambiental dos Tamoios (APA) e é subdividida em três áreas específicas: Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG), Parque Estadual Marinho do Aventureiro (PEMA) e Reserva Biológica da Praia do Sul (RBPS), totalizando 8.000 hectares, praticamente metade da Ilha.

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Não adianta somente apetite para desafiar esse percurso longo e fantástico. O relevo montanhoso da Ilha Grande exige boa preparação física para suportar uma mochila pesada no trekking. A saga dos tombos ao longo das caminhadas é quase inevitável, ainda mais no período das chuvas. Essa estatística diminui na companhia de um cajado ou bastão, além de aliviar a sobrecarga nos joelhos.

A maioria das trilhas não possui placas de sinalização, tornando obrigatório o uso de um mapa com as trilhas demarcadas, além de uma bússola para evitar contra-tempos. A mais preciosa de todas as dicas é a lábia. Sempre que passar por algum vilarejo compre dois litros d’água e peça informações precisas sobre as condições do trajeto e a exata localização das trilhas.

Roteiro: 6 dias de trekking na Ilha Grande

1° dia

Saindo do cais principal de Angra dos Reis procure um barco que faça a travessia de duas horas até a praia do Aventureiro. A jornada começa com uma ladeira brutal de 5 km, sentido praia de Provetá. Depois, a inclinação fica mais “light” passando pelas praias Vermelha e do Gaúcho, até chegar ao pernoite na praia de Araçatiba, um dos melhores locais para mergulho da ilha. (Total: 16 km em 6 horas)

2° dia

Partindo de Araçatuba, são 12 kmde percurso moderado até a praia de Sítio Forte, passando pelas praias Longa e Ubatuba. De lá, são mais três horas até a praia de Bananal, deixando para trás as belas praias de Manguaraquissaba e Matariz. Nesta parte da Ilha, concentram-se uma série de pequenos vilarejos caiçaras. Vale à pena refazer as energias com uma boa refeição caseira. (Total: 21 km em 7 horas)

3° dia

Distante 5 km da praia do Bananal encontra-se a Lagoa Azul, pausa obrigatória para um mergulho paradisíaco. A lagoa fica na região conhecida como Freguesia de Santana, outro antigo povoado pesqueiro da Ilha. De alma lavada, prepare-se para uma pernada longa até o Vilarejo do Abraão, o maior povoado da ilha. O trecho atravessa toda a enseada do Saco do Céu até chegar à Cachoeira da Feiticeira, já bem próxima do pernoite em Abraão. (Total: 23 km em 8 horas)

4° dia

Em Abraão, procure se instalar em alguma pousada ou camping. A partir deste dia você não precisará mais carregar a pesada mochila, já que as caminhadas passam a ser de ida e volta. Como o dia anterior foi bastante puxado, escolha fazer o percurso moderado até a assombrada praia de Dois Rios, onde se encontram as ruínas do presídio Cândido Mendes (1903-1993). Fica fácil imaginar o lendário traficante Escadinha sendo resgatado por um helicóptero, há mais de 30 anos. (Total: 18 km em 5 horas)

5° dia

Novamente saindo de Abraão, siga por cerca de duas horas até a praia de Palmas. De lá, são apenas 2 quilômetros até a primorosa praia de Lopez Mendes, considerada uma das mais lindas do planeta, com altas ondas para o surf. Outra dica bacana é esticar mais meia hora até a pequena praia de Santo Antônio, um refúgio intocado e deserto. Com sorte, é possível escutar a algazarra dos macacos Bugios, verdadeiros senhores da região que disputam seus territórios no grito. (Total 20 km em 6 horas)

6° dia

Finalmente, depois de cinco dias perambulando pelas trilhas da região, eis o dia mais fascinante de todos: a subida ao Pico do Papagaio. São 11 quilômetros de uma escalada com 982 metros de altitude. Mesmo com o corpo reclamando, a mente agradece a grandeza do feito à alma. No topo de uma ilha mitológica é possível ter uma visão de 360° da maioria do trajeto percorrido. E assim, o fato de não ter que programar a próxima caminhada soa como algo estranho. Basta descer duas horinhas, embarcar na balsa e ir pra casa. Simples demais… (Total 22 km em 5 horas)

Trekking na Ilha Grande: anota aí!

Dica: leve suprimentos para cinco dias, barraca, isolante, saco de dormir, protetor solar, roupas leves, capa de chuva, seis pares de meias, canivete, sacos de lixo, boné legionário, lanterna, tensores para joelhos e muita água.

Vai nessa: Saindo do Rio de Janeiro, siga pela BR-101 (Rio-Santos) até os portos das cidades de Mangaratiba ou Angra dos Reis. Saindo de São Paulo, a melhor opção é seguir pela via Dutra durante a madrugada para chegar cedo em Angra. Siga até a entrada de Barra Mansa (saída 272) e pegue a rodovia Saturnino Braga. A antiga estrada passa por túneis escavados na rocha até chegar à BR-101. Siga em direção ao Rio de Janeiro até o km 443 (entrada de Angra).

Chegando ao cais principal, pergunte pelo estacionamento Dois Irmãos, localizado bem na entrada do Porto. Aí, é só procurar por um barco com destino à praia do Aventureiro. Também existe a possibilidade de fazer o roteiro acima ao contrário saindo de Abraão. A balsa que sai para a capital da Ilha fica a 500 metros do cais principal.

 

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de maio de 2006)

 







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