Rosto vermelho ao correr: por que isso acontece?

Por Outside USA RUN

rosto vermelho ao correr
Foto: Freepik

Você não está envergonhado, emocionado nem com vergonha. Então por que, afinal, seu rosto fica com essa aparência depois de uma boa corrida? Um médico explica a fisiologia por trás da vermelhidão facial.

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Nossos rostos são um elemento essencial da nossa identidade. Gastamos uma quantidade enorme de tempo cuidando da aparência deles e garantindo que reflitam quem somos e o que sentimos. Por isso, é compreensível que alguns corredores fiquem frustrados e se perguntem: por que meu rosto fica tão vermelho quando corro?

Embora o “vermelhão” no rosto possa estar associado a emoções como vergonha ou constrangimento, não é isso o que está acontecendo no caso dos corredores. Ainda assim, nem todos ficam confortáveis com esse visual — e entender o que o causa pode trazer algum alívio.

Como o corpo regula sua temperatura interna

Os seres humanos evoluíram para sobreviver em uma ampla variedade de climas — do calor seco dos desertos às selvas úmidas e quentes do equador, passando pelo frio cortante das regiões polares. Essa resiliência e adaptabilidade só são possíveis graças a uma série de processos afinados que atuam juntos para manter a temperatura corporal o mais constante possível, independentemente das condições externas.

Assim como o motor de um carro funciona melhor em uma temperatura ideal, o corpo humano também. Se estiver frio demais, o motor perde eficiência e gera menos potência do que deveria. Se estiver quente demais, começa a falhar. O corpo humano sofre efeitos semelhantes quando sua temperatura interna se desvia demais dos 37 °C, para mais ou para menos.

Aliás, a analogia automotiva continua sendo útil por outros motivos. Assim como um carro tem termostato, fluido de arrefecimento, mangueiras e radiador, o corpo humano possui sistemas semelhantes.

Nosso hipotálamo funciona como o termostato, monitorando a temperatura e ativando mecanismos para aumentá-la ou reduzi-la quando necessário. O “fluido de arrefecimento” é o sangue, que circula por “mangueiras” — os vasos sanguíneos — até o nosso “radiador”: a pele, que dissipa o calor para o ambiente. O coração, por sua vez, age como a bomba que impulsiona esse fluido. Qualquer problema ou doença que afete um desses sistemas pode levar a uma falha na regulação térmica.

A sequência fisiológica que explica seu rosto vermelho após a corrida

Quando tudo está funcionando como deveria, o corpo começa a se resfriar à medida que aquece — seja por causa do ambiente quente, seja por uma atividade intensa como correr. Uma das respostas de resfriamento mais importantes é o aumento do fluxo sanguíneo para a pele.

A sequência de eventos é a seguinte:

  1. Os músculos em atividade queimam combustível (glicose e gordura), liberando energia para o movimento — e muito calor no processo.
  2. O sangue que passa pelos músculos se aquece com esse calor, que é então transportado para outras partes do corpo.
  3. O hipotálamo detecta o aumento de temperatura no sangue e desencadeia uma série de sinais que aumentam a frequência cardíaca e provocam a dilatação dos vasos sanguíneos na pele. Isso pode multiplicar várias vezes o fluxo sanguíneo para a superfície da pele.
  4. O sangue aquecido é resfriado de forma eficiente ao passar pela pele e entrar em contato com temperaturas externas mais amenas.
  5. O sangue, agora resfriado, retorna aos músculos, onde é novamente aquecido — e o ciclo continua.

A eficiência desse sistema de resfriamento aumenta bastante com alguns fatores: suor, aumento do débito cardíaco e maior dilatação dos vasos sanguíneos da pele.

O suor ajuda a reduzir a temperatura corporal ao permitir que o calor escape através da evaporação. Quando o sangue quente chega à pele, transfere calor para o suor, que ao evaporar leva esse calor embora. Esse processo — chamado de perda de calor por evaporação — pode reduzir significativamente a temperatura do corpo. Ao mesmo tempo, o coração bombeia mais sangue para atender às demandas do exercício, enviando-o tanto para os músculos quanto para a pele. Isso acelera a transferência de calor do interior do corpo para a superfície, de onde ele é liberado para o ambiente.

Por fim, a vasodilatação — ou seja, a abertura dos vasos sanguíneos da pele — permite que mais sangue fique concentrado nessas áreas para facilitar o resfriamento. O resultado é o tom avermelhado que aparece nessas regiões.

Um dos locais com maior densidade de capilares que tendem a se dilatar dessa forma em resposta ao calor é o rosto. Portanto, o motivo do rubor facial durante ou depois da corrida é, simplesmente, uma resposta fisiológica normal ao aumento da temperatura corporal provocado pelo esforço físico.

Ficar com o rosto vermelho ao correr é motivo de preocupação?

O rosto vermelho durante ou depois de correr não é um problema que precise ser resolvido. Em vez de se preocupar com isso, saiba que seu corpo está fazendo exatamente o que deveria — e você está apenas demonstrando os sinais de um bom desempenho. Além disso, o fenômeno é passageiro e desaparece assim que a temperatura do corpo volta ao seu nível normal.

No entanto, se você tiver um compromisso importante logo após correr ou simplesmente quiser acelerar o retorno da cor normal ao rosto, experimente:

  • Fazer um desaquecimento mais longo (caminhada leve, alongamento);
  • Aplicar compressas frias e úmidas no rosto;
  • Ir rapidamente para um ambiente fresco logo após a corrida.