Fazia um tempo que eu ouvia falar de Paranapiacaba (SP). A antiga vila de tradições inglesas, localizada no meio do caminho para quem segue para o litoral paulista, é também uma cidadezinha que atrai aventureiros em busca do contato com a natureza, por causa de suas trilhas e cachoeiras. E eu, que já estava decidida a fazer de 2016 um ano de mais ação e menos palavras, resolvi ir até lá no primeiro fim de semana de abril, em uma microaventura, à la Alastair Humphreys.
A ideia inicial era ir de São Paulo até Paranapiacaba de bicicleta (cerca de 70 km), acampar, conhecer a cidade, fazer umas trilhas (de bike e a pé), explorar outras trilhas no dia seguinte, tentar mergulhar em uma cachoeira, e então voltar para São Paulo de trem. Meu único pré-requisito era gastar a menor quantidade de dinheiro possível.
Arrumei a minha mala com tudo que eu precisaria: barraca, saco-de-dormir, botas, fogareiro, lanterna… Após analisar todas as minhas possibilidades de trajeto, comecei a questionar: “Quanto tempo eu demoraria de bike?”, “Quanto custaria para ir de ônibus? – e de carro?”, “Se realmente optasse pela bike, será que eu chegaria disposta a encarar uma trilha de 3 horas?”. Conclusão: resolvi ir de carro mesmo. Dessa forma, eu poderia ser mais flexível com os horários, já que os trens e ônibus têm saídas marcadas, e conseguiria chegar mais cedo, a tempo de pôr o pé na terra.
Para começar, acordei um pouco mais tarde do que o previsto. Na estrada, errei a saída e me perdi. Feio. Calculo que atrasei o rolê em torno de uma hora e meia. Resultado: cheguei no camping perto do meio-dia. Como me disseram que é um pouco perigoso se perder nas trilhas de Paranapiacaba, devido à forte cerração que encobre a região à tarde, resolvi curtir um dia mais tranquilo e turístico, e guardar forças para a trilha no domingo. Assim, montei o acampamento e fui visitar Paranapiacaba a pé. Andei pela estação de trem, ouvi uma musiquinha ao vivo, tomei sorvete de cambuci, fruto típico da região, e presenciei a mística cerração baixando e envolvendo a cidade, tornando mesmo impossível enxergar um palmo à frente. “Se eu estivesse enfiada no meio do mato numa hora dessas…”, pensei. A orientação realmente teria sido complicada — até mesmo porque isso já é um problema para mim mesmo com a visão desimpedida.
O camping Simplão de Tudo, onde me hospedei, é mesmo bem simplão de tudo: o terreno fica em um barranco gramado, com uma estrutura bem roots. Há um pequeno bar onde Cris, a dona do estabelecimento, vende cerveja, pinga e alguns salgados. O resto é só para matar a “larica”. Mesmo. Mas o clima daquele lugar supera qualquer aversão às condições pouco atraentes: todos os frequentadores — sem exceção — são trilheiros, pessoas que se aventuram a pé, de moto ou de bike. A música rola constantemente, com Caetano, Mutantes, Gil e muito rock’n’roll. Na parede, um grafite dos Beatles. Cris, com seus dreadlocks grisalhos a fala mansa e acolhedora, se mostrava cada vez mais fiel ao seu espírito hippie.
De volta ao camping, já no começo da noite, tentei fazer uma fogueira, mas que não deu muito certo. Então cortei um pedaço do doce de leite que eu tinha comprado na estrada e fui dormir, ao som do riacho. No dia seguinte, dessa vez sim, eu acordaria cedo para explorar as trilhas do lugar. Mais uma vez, no entanto, não consegui cumprir meu objetivo. Acordei, fiz um delicioso café da manhã estendido no chão (composto por café com leite em pó, mingau de aveia com banana, e ovos mexidos) e resolvi aproveitar a natureza ali mesmo onde eu estava. Tirei o teto da barraca e fiquei lá dentro, lendo um livro, na maior paz, com as árvores sobre a cabeça e os mosquitos do lado de fora. Antes de partir, ainda tomei um banho (de gato) no riacho, pelada.
Apesar de o fim de semana não ter sido como eu tinha imaginado, me diverti muito. Saí da minha zona de conforto, me enfiei na natureza, testei minha habilidade de fazer fogo (apesar de ter fracassado), dormi ao som dos grilos e da água correndo. Descansei bastante e preparei o terreno para a minha próxima microaventura, quando vou poder corrigir alguns erros de planejamento. Da próxima vez, estarei mais confiante. Quase nada aconteceu do jeito que eu tinha em mente, mas isso não é necessariamente uma coisa ruim quando você está conhecendo o mundo, mesmo que seja só uma pequena parte dele, perto da sua casa.