Irreconhecível, Rio Iguaçu tem menor vazão do ano e está ‘doente’

Desmatamento e escassez de chuvas estão secando Rio Iguaçu, cenário das Cataratas, no PR
Desmatamento e escassez de chuvas estão secando Rio Iguaçu, cenário das Cataratas, no PR - Reprodução Facebook

Com a menor vazão de água do ano, com queda em torno de 308 mil litros por segundo, ou um quinto do fluxo normal, o Rio Iguaçu, que abriga as Cataratas do Iguaçu, atinge o menor nível de 2021, está secando e, ainda, perdendo mata nativa.

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Reconhecida como patrimônio natural da humanidade pela Unesco, a atração  já havia sofrido queda severa no fluxo de suas águas em abril de 2020, mas ainda menos que a atual, chegando a 259 mil litros por segundo.

Os dados são Companhia Paranaense de Energia (Copel) e meteorologistas atribuem o problema também à falta de chuvas no estado do Paraná que, desde fevereiro, tem estado abaixo da média histórica.

Em entrevista à BBC, Malu Ribeiro, diretora de Políticas Públicas da ONG SOS Mata Atlântica, disse que na sub-bacia que abarca as cabeceiras do rio restam hoje apenas 7,2% da vegetação original. “O Iguaçu é um rio doente e que, para se recuperar, precisa de mata ciliar”, afirmou.

O MapBiomas, plataforma que monitora o uso do solo no Brasil informou que entre os anos de 1985 e 2019 a região perdeu 21,3% de sua vegetação nativa, formada principalmente pela Mata Atlântica. A escassez de vegetação nativa impacta diretamente o fluxo da água; tudo está interligado.

Quando preservada, a Mata Atlântica atenua o impacto de secas e temporais sobre os rios. A floresta retém no solo a umidade acumulada no período chuvoso, garantindo que as nascentes continuem a jorrar mesmo na estiagem, explicou Malu Ribeiro. Quando as árvores são removidas e substituídas por lavouras ou pastagens, o solo deixa de segurar a umidade. Isso faz com que, na estiagem, as nascentes próximas gerem menos água ou até sequem, explicou Malu Ribeiro.

Já na época úmida, as chuvas não conseguem infiltrar no solo desmatado e tendem a escorrer direto para os rios, causando erosão e enchentes. Isso explica porque o Rio Iguaçu e as cataratas estão, aparentemente, secando.

Em 2018, ela participou de uma expedição que percorreu todo o curso do Rio Iguaçu para analisar a qualidade da água e o impacto do desmatamento e da construção de hidrelétricas na bacia. Ribeiro conta que o rio está poluído em praticamente toda sua extensão, principalmente por causa de agrotóxicos, e que a qualidade da água é ruim até mesmo no Parque Nacional do Iguaçu, a maior área protegida da bacia.