No domingo de Páscoa, o piloto de helicóptero italiano Simone Moro recebeu um chamado de socorro vindo do Annapurna, no Nepal, a 8.091 metros de altitude. Moro contou à Outside USA que um montanhista ucraniano sofria de mal da altitude e exaustão, e estava preso no Acampamento III, a cerca de 6.550 metros.
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A empresa que organizava a expedição, a Seven Summit Treks, pediu a Moro que tentasse resgatar o montanhista, mesmo naquela altitude extrema. Moro realiza missões de resgate aéreo no Nepal durante a temporada de montanhismo desde 2013. Além disso, é um montanhista lendário, já indicado duas vezes ao prêmio Piolet D’Or Asia.
“Disseram que o resgate era no Acampamento III, e eu nunca havia pousado no Acampamento III”, contou Moro à Outside USA. Ele já escalou o Annapurna antes, mas havia usado a chamada rota francesa — diferente da Dutch Rib, onde o ucraniano estava. O que Moro sabia com certeza era que o voo seria arriscado.
“Eu sei onde ficam os acampamentos”, ele disse. “Identifiquei o local e fui até o Acampamento III. Era um ponto de pouso pequeno, e o maior problema era o vento muito, muito forte.”
Pilotar um helicóptero nos Himalaias é uma tarefa extremamente desafiadora. O relevo é difícil de navegar, sistemas climáticos violentos podem surgir sem aviso, e o ar rarefeito em grandes altitudes reduz a sustentação gerada pelas hélices. Só manter a aeronave no ar nessas condições já exige operar no limite do desempenho do helicóptero — com pouca ou nenhuma margem para erro.
“Você precisa estar preparado técnica, física e mentalmente”, explicou o piloto italiano Maurizio Folini ao site PlanetMountain. “Durante a missão, você se sente no controle por conhecer cada detalhe do helicóptero, e também graças a anos de experiência lidando com fatores técnicos e naturais como vento, altitude e nuvens.”
Ao subir o Annapurna — localizado a cerca de 265 km a leste do Everest —, Moro enfrentou fortes correntes descendentes, que impediam o helicóptero de manter um trajeto estável até a zona de pouso. Sem conseguir fazer o “teste de pairar” (quando o piloto sobrevoa o local para verificar se há potência suficiente para um pouso seguro), ele decidiu tentar descer sobre uma estreita saliência na montanha.
“Eu gosto de manter certa velocidade e chegar rápido ao local de pouso”, disse Moro. “A velocidade ajuda a usar menos potência e manter o nariz do helicóptero mais estável. Sinceramente, a área de pouso não era muito grande, e eu tive que tomar cuidado para não bater as hélices no gelo.”
O Nepal exige que todos os voos de helicóptero sigam as chamadas Visual Flight Rules (Regras de Voo Visual), ou seja, o piloto precisa manter sempre uma linha de visão clara. É uma regra sensata, já que, segundo os próprios pilotos dos Himalaias, “todas as nuvens no Nepal têm rochas dentro”.
Em 2023, as autoridades nepalesas chegaram a suspender Moro após ele pousar com sucesso no Acampamento III do Everest, a 7.000 metros, para resgatar um montanhista. O pouso foi considerado acima do limite permitido para aquela aeronave. Moro afirmou à Outside USA que sua licença já foi restabelecida desde então.
No Annapurna, Moro conseguiu pousar o helicóptero em uma minúscula plataforma cavada por resgatistas no topo de uma crista coberta por cornijas de neve. Com as hélices ainda girando, a equipe abriu a porta e embarcou o montanhista debilitado, junto com algumas garrafas vazias de oxigênio. Moro esperou uma breve pausa entre as rajadas de vento para decolar e descer até o Acampamento Base do Annapurna, a 4.130 metros.
O vídeo da operação circulou online pouco depois de seu retorno seguro a Katmandu.
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Segundo Moro, essa foi apenas mais uma missão rotineira para os pilotos de elite que atuam no Nepal. “Não quero descrever esse resgate como algo heroico ou especial, mas com certeza não foi fácil por causa das condições”, disse ele à Outside USA.
Moro faz parte de um pequeno grupo de pilotos — algumas dezenas — que operam missões como essa nos Himalaias todos os anos. Eles trabalham para empresas de helicóptero baseadas em Katmandu, que atendem expedições de montanhismo durante a movimentada temporada de primavera nepalesa. As aeronaves geralmente são acionadas por empresas organizadoras de expedições e passam o resto do tempo transportando escaladores e cargas entre Katmandu e os acampamentos base nas montanhas. Moro é um dos poucos estrangeiros que chegam ao Nepal a cada primavera para emprestar sua expertise nesse período crítico.
Horas após o resgate feito por Moro, outro piloto realizou dois salvamentos bem-sucedidos no mesmo Acampamento III — usando a técnica de long-line, em que um cabo é lançado da aeronave para içar a pessoa até um local seguro após ser amarrada.
De acordo com o site ExplorersWeb, só nesta temporada já foram realizados dez resgates no Acampamento III do Annapurna. O portal questionou se esse número elevado não indicaria que escaladores inexperientes estão simplesmente buscando uma “carona” de volta para casa.
Moro, no entanto, se diz apenas feliz por ter podido ajudar.
“Essa não é uma missão que se possa fazer todo dia ou que qualquer um possa fazer — mas é o trabalho que decidimos fazer aqui”, afirmou. “Fico feliz por ter conseguido.”