Após um montanhista tcheco sofrer mal da altitude no Everest, um piloto realizou um dramático resgate com cabo longo no Acampamento III, a 7.300 metros de altitude.
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Na noite desta quarta-feira (14), horário local do Nepal, o Acampamento Base do Everest estava em alvoroço. Equipes de resgate e operadores de expedições celebravam a ousadia de um piloto de helicóptero que acabara de executar um resgate de alto risco nos flancos da montanha mais alta do planeta.
O drama começou por volta das 6h45 da manhã, após uma grande leva de montanhistas alcançar o cume e iniciar a descida. O céu limpo no topo do Everest rapidamente deu lugar a nuvens e ventos enquanto o grupo descia. Um montanhista tcheco, integrante de uma expedição guiada pela operadora 8K Expeditions, começou a apresentar sinais de mal da altitude durante a descida, segundo informou um representante da empresa à revista Outside USA.
O montanhista, cuja identidade não foi divulgada, conseguiu descer do cume até o Acampamento III, a 7.300 metros de altitude, mas não tinha condições de seguir adiante. Lhakpa Sherpa, diretor da 8K Expeditions, contou à Outside USA que a empresa acionou o pedido de resgate aéreo por volta das 16h.
A Kailash Helicopters, empresa de transporte sediada em Katmandu, enviou o piloto italiano Maurizio Folini para realizar a missão.
“Maurizio é o melhor piloto do mundo para esse tipo de resgate”, disse Lhakpa Sherpa. “Ele já chegou ao cume do Everest e é um guia certificado pela IFMGA.”
Fontes do Sagarmatha Pollution Control Committee, ONG local que ajuda a gerenciar a rota do Everest, confirmaram os detalhes do resgate à Outside USA.
Folini pilotava um helicóptero Airbus AS350 B3e equipado com um sistema de guincho por cabo longo. A aeronave saiu de Katmandu em direção a Lukla, onde Folini assumiu os controles e seguiu em direção ao Everest.
Enquanto o helicóptero voava, a condição do montanhista tcheco piorou, segundo Lhakpa Sherpa.
“Recebemos relatos de que ele ficou inconsciente por dez minutos”, contou. “Nossas equipes fizeram massagem cardíaca, e ele voltou a si.”
O Acampamento III fica na metade da encosta íngreme da Face Lhotse, uma parede imponente de rocha e gelo que sobe cerca de 1.130 metros verticais. É o último acampamento antes da chamada “Zona da Morte”, que começa a cerca de 7.900 metros de altitude.
A altitude do Acampamento III está próxima dos limites operacionais dos helicópteros de alta performance usados no Himalaia. Pilotar nessas condições é uma tarefa extremamente arriscada — sistemas de clima severo podem surgir sem aviso, e o ar rarefeito em grandes altitudes oferece muito menos sustentação do que ao nível do mar. Não há margem para erro.
Às 17h30, o helicóptero de Folini sobrevoou o Acampamento Base do Everest e iniciou a subida pela Cascata de Gelo do Khumbu em direção ao Acampamento III, com uma corda de resgate — o chamado “long line” — pendendo sob a aeronave. Após uma primeira passagem pela área de pouso, Folini pairou sobre o acampamento.
A legislação nepalesa proíbe o pouso de helicópteros no Monte Everest. No Acampamento Base, uma equipe em solo composta por membros da Himalayan Rescue Association, do Sagarmatha Pollution Control Committee e da 8K Expeditions entrou em contato com a Autoridade de Aviação Civil do Nepal e solicitou permissão para concluir a missão.
Segundo autoridades ouvidas pela Outside USA, a permissão foi concedida e transmitida via rádio para Folini. Enquanto ele mantinha a aeronave estável no ar, os socorristas do Acampamento III prenderam o montanhista tcheco à corda longa. Folini então voou de volta ao Acampamento Base com o paciente pendurado sob o helicóptero, onde uma equipe de emergência médica já aguardava na sala de atendimento da Himalayan Rescue Association.
“Tivemos muita sorte hoje”, disse Lhakpa Sherpa. “Os médicos disseram que o peito dele estava completamente inchado. Ele não teria sobrevivido à noite.”
As autoridades confirmaram que o montanhista tcheco foi diagnosticado com edema pulmonar grave e precisava ser levado imediatamente a uma altitude mais baixa. Após o pouso no Acampamento Base, a equipe embarcou o paciente no helicóptero, que partiu rumo à cidade de Lukla, no sopé do Himalaia.
O resgate foi o ponto alto de um dia agitado no Everest. Aproveitando uma janela de bom tempo, cerca de 40 montanhistas de duas expedições diferentes chegaram ao cume. Ainda segundo as autoridades, outro resgate foi necessário mais tarde naquele mesmo dia, depois que um sherpa escorregou e caiu na Face Lhotse. Ele sobreviveu.
Centenas de outros montanhistas ainda aguardam no Acampamento Base por melhores condições climáticas ou estão em acampamentos mais baixos a caminho do topo.