Com o nome elegante de “visible mending”, remendos visíveis na roupa são a nova moda. E é para ficar na cara que são remendos, sem tentar fazer pontinhos invisíveis que disfarcem o conserto. A ideia é justamente se posicionar perante a indústria da moda. Dar uma segunda vida para roupas com um rasgadinho, um furo, um descosturado é uma forma de questionar a ideia de roupas descartáveis e até valorizar roupas de segunda mão.
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A ideia é bem debatida no livro “MEND! A Refashioning Manual and Manifesto” (Penguin Random House, 2020), ou “REMENDO! Um manifesto e um manual para refazer a moda”, em tradução livre. Escrito pela historiadora de moda Kate Sekules, defende que qualquer um pode alongar a vida útil de suas roupas preferidas aderindo à esta estética.
Kate não é a única: outra praticante do visible mending é Erin Lewis-Fitzgerald, autora do livro “Modern Mending” – “Remendos Modernos” em português. Outro livro sobre o assunto é o Mending Matters, da Katrina Rodabaugh, que pode ser traduzido como “Remendar Importa”.
Viver o outdoor sem esgotar recursos
Para quem discute o esgotamento dos recursos do planeta e como deve ser o consumo com consciência social, a moda cai como uma luva. De quebra, faz todo sentido para quem pratica esportes outdoor. Quem nunca rasgou uma calça escalando ou fazendo trilha? Ou perdeu uma roupa de ciclismo que enganchou em alguma coisa? Continuar usando estas roupas enquanto os remendos não atrapalharem a funcionalidade delas é um ato de consciência.
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Além disso, o visible mending é democrático: não exige grandes habilidades para garantir uma costura perfeita. Você pode inclusive aproveitar a oportunidade para customizar roupas: cada reparo deixa ela única.
Remendos visíveis, menos impacto ambiental
No livro, Sekules critica o que está por trás de roupas baratas oferecidas pela indústria da moda. Trata-se de uma indústria bastante destrutiva, de alto impacto ambiental e com uma cadeia que envolve trabalho escravo em muitas partes do mundo. Comprar menos roupas é uma das formas mais efetivas de se posicionar – para a autora, bem mais efetivo do que a ação dos departamentos de responsabilidade social da indústria.
“Ter um departamento de responsabilidade social é melhor do que não ter, mas a mudança não virá de nada corporativo”, defende a autora. Para ela, a conta não fecha. Não tem como produzir roupas em massa com lucro sem danos ambientais. E a solução, segundo Sekules, passa pela decisão individual de não alimentar este sistema – recosturando roupas sempre que possível, por exemplo.
As habilidades básicas para fazer remendos visíveis são simples. No livro, ela ensina a manipular linha e agulha, dar pontos e criar soluções para os remendos mais comuns, como fechar rasgos, fazer remendos, costurar um patch, fazer bordados de linha ou cobrir manchas e furos criando um bolso. Além de colocar remendos decorativos para customizar a roupa. Com isso, o visible mending está criando uma estética própria.
Não compre esta jaqueta
No mundo outdoor, ficou célebre o anúncio da Patagonia “Don’t buy this jacket”, em 2011. A marca fez uma campanha de marketing ousada, desafiando seus consumidores a não comprarem nada a não ser que estivessem precisando. O anúncio de página inteira no New York Times falava em não consumir, reparar, reusar e reciclar.
Coerente com o DNA ambiental da marca, fundada por Yvon Chouinard em 1973, a proposta vinha acompanhada com um convite. Caso suas peças da Patagonia estivessem rasgadas, a marca se oferecia para consertá-las. Não à toa, ela tem fãs fiéis, que se agregam justamente ao redor deste tipo de valor: menos é mais.
Se para você roupa nova não é automaticamente sinônimo de status, pode ser uma boa hora para se arriscar com linha e agulha.