Enquanto o Brasil e o mundo acompanham com perplexidade as cenas de devastação vindas do pantanal brasileiro, remadores de Corumbá, MS, se esforçam para se manterem na água em condições adversas.

De janeiro ao início de setembro, foram registrados 16 mil focos de calor no Pantanal, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

REMADORES DO PANTANAL: Monica remando sob o sol encoberto pela fumaça.

O fogo se alastra e devasta boa parte do bioma pantaneiro, sobretudo no estado do Mato Grosso, de onde a maioria das tristes imagens de animais carbonizados são feitas.

Contudo, os efeitos da devastação também são sentidos no estado vizinho, Mato Grosso do Sul onde todos os anos também são realizadas queimadas.

“Este ano as queimadas chegaram bem próximas da cidade. Durante algumas semanas a gente conseguiu treinar, mas após algumas semanas a fumaça ficou muito forte, atrapalhando inclusive nossas marcações de tempo para a Molokai”, conta a remadora de Corumbá (MS) Monica Salustiano Luckner, um dos destaques brasileiros na competição virtual Molokai 2 Oahu, vencendo a categoria SUP Unilimited 16 milhas.

Monica conta que esse ano o fogo chegou a praticamente atingir as margens do rio Paraguai, principal point de remada da região:

“Teve dias em que os barrancos do rio, ao nosso lado, estavam pegando fogo. Isso dificulta muito a respiração e deixa o ar mais seco ainda”, revela a remadora.

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O ar seco, característico do período de estiagem, que naturalmente ocorre na região, torna-se mais intenso por conta das queimadas. Em algumas cidades pantaneira, a umidade do ar chega aos 11%.

Para se ter uma ideia, a umidade do deserto do Saara, na África, é de aproximados 15% segundo dados da Organização Mundial da Saúde.

“Remar nessa época do ano aqui em Corumbá é muito complicado. A garganta seca e a boca chega a ‘colar’. A gente tem que levar sempre um pouco mais de água do que o normal”, conta Paulo Luckner, ressaltando que a fumaça está muito intensa este ano:

“A respiração fica muito comprometida e os treinos têm que ser mais curtos. É muita fumaça. O pantanal, aqui na região de Corumbá, está totalmente queimado e agora está chegando a fumaça das queimadas em Mato Grosso”, esclarece o remador.

Remadores tentam se adaptar em meio à pouca visibilidade e ar contaminado por fumaça.

A secura do ar e a falta de chuvas têm provocado outro problema: o nível da água está incrivelmente baixo.

Em meio a tantas dificuldades para se manter os treinos em dia, Monica conta que os remadores têm optado em ir para água nas primeiras horas do dia, pois os ventos, muito mais brandos, acabam retardando a chegada da fumaça vinda do Mato Grosso.

Mesmo assim, a remadora revela que há dias em que é praticamente impossível treinar: “Tem dia que você não consegue puxar o ar para respirar”, revela.

“O remador se torna um fumante passivo”

Carlos Roberto Padovani, Pesquisador da Embrapa Pantanal e remador de stand up paddle, esclarece que em 2020 o Pantanal enfrenta uma de suas maiores estiagens da história, que, por sua vez, está ocasionando a menor cheia do rio Paraguai nos últimos 47 anos.

“É realmente uma situação diferente e rara pela qual o Pantanal está passando, mas não inédita, pois já tivemos uma estiagem semelhante há 47 anos”, esclarece.

Contudo, o acúmulo de fumaça, somado à estiagem, criam condições muito ruins para quem quer se exercitar ao ar livre: “Você praticamente se torna um fumante passivo”, compara Padovani.

REMADORES DO PANTANAL: Carlos Padovani meses antes das queimadas. O remador agora prefere não ir para água até o fim da estiagem.

Carlos revela que por conta disto, somado ao distanciamento social preventivo, devido à Covid-19, optou por não remar durante esse período.

O pesquisador explica que o fenômeno se tornou muito acentuado na região de Corumbá por conta do regime de ventos, que circulam vindos do norte, trazendo a fumaça de Mato Grosso, onde as queimadas são muito mais intensas do que em MS.

Ele esclarece que o período de seca, que normalmente termina em outubro, com a chegada das chuvas, poderá começar somente em novembro.

“O clima da região é bastante sazonal e a chuvas irão chegar. Isso já irá melhorar bastante a qualidade do ar na região”, informa.

Carlos faz também questão de enaltecer as belezas da região, que afloram no período da chuva, trazendo a cheia e a abundante vida em torno do rio Paraguai, permitindo o avistamento das mais variadas espécies.

Porém, como lembra Mônica Salustiano, o fogo nas matas acaba por trazer às margens dos rios uma grande quantidade de animais selvagens, em busca de um pouco de proteção nas esparsas reservas de água no período da seca. Um fenômeno ao mesmo tempo belo e triste.







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