“50 horas em cima da bike.” Um relato da 555-Serra Geral, prova inédita no Brasil

Por Jéssica Röpcke*

Jéssica Röpcke e Rafaela Catao encaram a Serra Geral, entre SC e RS, em desafio inédito de gravel no Brasil. Foto: Cesar Delong.

No último dia 8 de março (Dia da Mulher), foi dada a largada da 555-Serra Geral, prova inédita de gravel no Brasil e que faz parte do campeonato mundial BikingMan Ultra. São 500 km de distância, com 8.500 metros de altimetria, e tempo limite de 55 horas para cruzar a linha de chegada.

Desta vez optei por fazer a prova em dupla, sempre pedalei sozinha nos eventos, mas quis experimentar algo novo. A escolha da parceira não poderia ter sido melhor, conheci a Rafaela Catao no ano passado, ela pedalava de MTB/TT e tinha acabado de fazer sua primeira experiência no triathlon, ficando em 5º lugar no 70.3 de Florianópolis.

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Logo que começamos a pedalar senti uma forte conexão e já veio a provocação: “Quem sabe um dia a gente faz uma prova juntas de dupla”. Quando soube que o 555 viria para o Sul do Brasil, pensei nela e lancei o desafio. Ela topou na hora e começou o processo de aprender tudo sobre esse novo mundo.

500 km de distância e altimetria de 8.500 metros testam a resistência das ciclistas. Foto: Cesar Delong.

Foram muitas conversas, trocas e treinos nos três meses de preparação até a prova. Sempre falo que nessas provas a preparação é o que ensina e a prova é somente a cereja do bolo.

Desafios como esse são muito mais mentais do que físicos, leva nosso corpo ao limite, enfrentamos as condições climáticas adversas (sempre chove no BikingMan) e conhecemos forças que muitas vezes nem sabíamos que existiam dentro de nós.

A prova em si foi muito especial, passamos por muitos momentos altos e baixos, mas conseguimos administrar muito bem – e eu atribuo isso à nossa conexão e resiliência.

No último dia acordamos às 3:30 da manhã e pedalamos direto 314 km, chegando às 8 horas do outro dia, passando por trechos de pedra desafiadores para gravel e em uma batalha contra o sono.

Cruzamos a linha de chegada totalizando 50 horas de prova, foi muito emocionante ser a primeira dupla feminina da história do 555 em todo mundo a completar esse desafio.

Minha mensagem com tudo isso é de incentivo para que mais mulheres possam se desafiar e descobrir que são capazes de muito mais do que imaginam.
Foto: Catia Martins.

O próximo desafio já tem data marcada: 9 de setembro, na quarta edição do BikingMan Brasil. Serão 1.000 km com 18.000 metros de altimetria em 120 horas com largada em Santo Antônio do Pinhal (SP).

Já fica o convite para todos, mas em especial para as mulheres que agora têm 50% de desconto na inscrição como forma de incentivo.

Depoimento Rafaela Catao

Conheci a Jessica em 2023 durante o meu ciclo para o Ironman 70.3. Começamos a trocar figurinhas através do Instagram e nos conectamos de forma rápida e leve. Acho que de certa forma, uma inspirou a outra.

Antes de conhecê-la eu não tinha conhecimento do “mundo” do gravel e muito menos do ultra ciclismo. Fui me interessando mais pelo assunto conforme a nossa amizade e conexão foram crescendo. Sim, depois de um tempo, a Jess conseguiu fazer os meus olhos brilharem para esse tipo de desafio. Não demorou muito para eu trocar a minha TT por uma gravel.

Até que em setembro, após ela ter participado do Bikingman Brasil, descobrimos que em 2024 seria realizada a distância de 500km em Santa Catarina.

Recebi o convite da Jess, pessoa que se tornou uma grande amiga e inspiração, para realizar esta prova em dupla com ela. E obviamente, com aquele frio na barriga, aceitei!

Ainda me emociono quando lembro dos momentos vividos durante a prova. Foi a experiência mais engrandecedora da minha vida, até o momento. E, viver isso ao lado de uma grande amiga como ela, foi ainda mais especial.

Tiveram momentos difíceis, momentos de alegria e gratidão, momentos de parceria, momentos de solidão… Acho que só vivendo a experiência de uma ultra para entender esse sentimento tão intenso.

Essas 50 horas em cima da bicicleta, fizeram eu me conectar profundamente comigo mesma, acessar lugares que eu nem sabia que existiam dentro de mim e extrair uma força inexplicável da minha mente e do meu corpo.

A Jess me encorajou e fez eu acreditar que seria capaz de realizar uma prova como esta.
E eu, após ter tido essa experiência, gostaria de encorajar mais mulheres a se desafiarem, acreditarem na capacidade, na força e na coragem que existe dentro delas.

O Bikingman foi uma experiência para a vida. Uma nova mulher surgiu, uma mulher com mais coragem para lutar de frente com os medos, uma mulher que não limita mais os seus sonhos.

*Jéssica Röpcke é ciclista especializada em gravel e ultradistâncias.







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