Rede Brasileira de Trilhas lança mapa que conecta os caminhos verdes do país

Por Alexandre Versiani

Rede Brasileira de Trilhas
Pegadas amarelas e pretas são a marca registrada da Rede Brasileira de Trilhas. Foto: Divulgação.

NA LISTA DOS PAÍSES com a maior biodiversidade do mundo, o Brasil ocupa o primeiro lugar. Mas quando se trata do manejo das trilhas em áreas verdes, ainda estamos atrás de lugares como Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Japão, Austrália e muitos outros.

Em 2018, a Rede Brasileira de Trilhas foi criada com o intuito de mudar esse cenário, trazendo políticas públicas voltadas à implementação, manutenção, divulgação e padronização das trilhas brasileiras de longo curso. Agora, uma nova ferramenta foi disponibilizada pela associação com o objetivo de alavancar os caminhos que conectam as Unidades de Conservação do país.

Mapa elaborado pela Rede foi feito em colaboração com topógrafos. Foto: Reprodução.
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Durante o 1° Congresso Brasileiro de Trilhas de Longo Curso, realizado na cidade de Goiânia (GO), a Rede Trilhas apresentou seu mapa colaborativo, com 48 das 160 trilhas que fazem parte da associação cadastrada. A equipe envolvida no projeto contou com os topógrafos Luciano Soares e Gabriel Moreti, voluntários da Rede Trilhas, que trabalharam no desenvolvimento e na busca de informações para torná-lo o mais completo possível – e o mapa ainda será um processo continuado.

“O mapa está em atualização permanente. Como a Rede é algo de baixo para cima, com forte participação voluntária, primeiro as pessoas se concentram em sinalizar a trilha e organizar um pouco a governança local. O caminho só vai para o mapa quando o voluntário lá na ponta disponibilizar para a diretoria nacional todas as informações do circuito”, explica Pedro da Cunha e Menezes, diretor da Rede e fundador da pioneira Trilha Transcarioca, um caminho de 180 km que cruza o Rio de Janeiro, da Barra de Guaratiba até o Morro da Urca, aos pés do Pão de Açúcar.

No mapa, o que diferencia cada percurso são as “pegadas amarelas e pretas”, uma das marcas registradas da Rede. O desenho lembra a pegada deixada durante um trekking e pode ser adaptado para outros modais, como caiaque e bicicleta, mas sempre respeitando uma mesma padronização. Essa foi a maneira encontrada para consolidar uma identidade visual de todas as trilhas brasileiras. Desde que foi lançado, o símbolo brasileiro virou referência e ganhou respaldo nos maiores encontros do setor, como a Conferência Mundial de Trilhas. Hoje são mais de 5.000 km em 26 estados e no Distrito Federal sinalizados com a logomarca amarela e preta.

“É fundamental ter uma sinalização padronizada. O modelo facilita a divulgação do país como destino de caminhadas, pedaladas e remadas em todo o mundo. Por exemplo, no dia em que uma turista espanhola tirar uma fotografia junto a uma pegada da sinalização do Caminho das Araucárias e postar em uma rede social, essa foto vai certamente ser vista por outro turista, possivelmente um alemão em férias na Tailândia. Talvez ele não saiba que aquela pegada é do Caminho das Araucárias, mas saberá que é uma trilha no Brasil. Dessa forma, as trilhas brasileiras se complementarão em vez de competirem entre si. Uma trilha divulga todas! Assim funciona a Rede”, pontua Pedro, que acredita que muitas pessoas ainda confundem a Rede com um projeto.

“Na verdade, somos uma política pública que serve para disciplinar as iniciativas de trilha no Brasil inteiro, de maneira que, daqui a 30 anos, as trilhas se conectem e possibilitem uma sinalização padronizada. A ideia da Rede é democratizar o conhecimento, democratizar o processo decisório, sendo sempre de baixo para cima, deixando muito claro que a gente tem um sistema e não um conjunto”, afirma o diretor da associação, que tem como objetivo de longo prazo conectar de forma coordenada todas as áreas verdes do Brasil.

Rede Brasileira de Trilhas
Trilhas de longo curso mapeadas pela Rede no país: a sinalização e o manejo dos caminhos são feitos por voluntários. Foto: Divulgação.
TRILHAR PARA PRESERVAR

Trilhas de longo curso e corredores ecológicos são ferramentas reconhecidas na legislação brasileira através da Portaria Conjunta no 407 entre os Ministérios do Meio Ambiente e do Turismo, que visam ampliar a conectividade entre áreas preservadas e a manutenção da vida selvagem. É por meio dessas rodovias verdes, por exemplo, que os animais se deslocam pelos diferentes territórios, ajudando a manter vivas as florestas e outras formações naturais.

As grandes trilhas também são catalisadoras de emprego e de renda, principalmente nos serviços de apoio ao turista, favorecendo o desenvolvimento sustentável e minimizando o efeito de esvaziamento das áreas rurais. Elas também podem reduzir o isolamento territorial de parques nacionais e outras Unidades de Conservação no país, muitas vezes provocado por um modelo de desenvolvimento econômico ainda baseado na completa eliminação da vegetação nativa fora das reservas ecológicas.

Para o topógrafo Luciano Soares, ter os caminhos ilustrados num mapa pode inspirar novas pessoas e comunidades a preservarem e sinalizarem suas trilhas em todas as regiões do país, já que voluntários são sempre bem-vindos e formam o DNA da Rede.

“A importância de ter essas informações reunidas num mapa é conseguir projetar os lugares onde poderiam ser implementadas novas trilhas de longo curso, dentro dos estados e municípios, para conectarmos todas as áreas naturais do país. Para quem acessa a ferramenta, também será possível encontrar todas as informações daquela trilha. A pessoa vai olhar no mapa e conseguir situar qual a melhor região para ir”, destaca o topógrafo.

Clique aqui para acessar o mapa da Rede Brasileira de Trilhas.

Matéria originalmente publicada na revista Go Outside nº176.