A escaladora nepalesa que chegou ao cume do Monte Everest três vezes em duas semanas sempre seguiu seu próprio caminho.
Nascida em uma família de agricultores de subsistência no pequeno vilarejo de Arughat, no Nepal, Purnima Shrestha achava que as montanhas ao seu redor estavam fora de alcance. Sua vila é uma parada no Circuito de Manaslu, a caminho do pico homônimo de 8.000 metros, mas a família de Shrestha nem sequer tinha água encanada. Como mulher, esperava-se que ela se casasse jovem, criasse filhos e cuidasse da casa.
Shrestha decidiu cedo que esse caminho não era para ela. Primeiro, rompeu com a tradição ao se mudar para Katmandu aos 16 anos para continuar seus estudos. Ela ficou com parentes até se formar no ensino médio e depois se matriculou na faculdade para estudar comunicação. Mais tarde, conseguiu um estágio na Hospitality, Food and Wine, dando início a uma carreira no setor editorial.
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Enquanto cobria a Maratona do Everest em 2017, Shrestha ficou fascinada pelo cume mais alto do mundo. Para ela, representava o ápice da realização humana. “No Nepal e em todo o mundo, todos pensam no Everest quando falam de montanhas”, disse ela. O cume de 8.848 metros era um objetivo monumental para a filha de agricultores pobres, mas Shrestha seguiu um passo de cada vez. “No começo, eu não tinha nada”, contou. “Não tinha experiência. Não tinha dinheiro. Nem sequer era atlética. Eu não fazia ideia de quão forte era meu corpo, mas queria tentar.”
Então, Shrestha fez empréstimos, começou a treinar e se comprometeu com a escalada. Nos últimos sete anos, ela chegou ao cume de oito dos picos de 8.000 metros do mundo. Este ano, aos 34 anos, ela se tornou a primeira mulher da história a alcançar o cume do Everest três vezes em uma única temporada, entre os dias 12 e 25 de maio.
Shrestha não tinha a intenção de quebrar recordes. O Everest era apenas o objetivo mais alto e difícil que ela podia imaginar. “Eu queria ver do que era capaz”, disse ela. Depois de alcançar o cume uma vez, contou: “Todos os meus sonhos se centraram em escalá-lo novamente. Eu rezei por um motivo para voltar.”
Com sua nova visibilidade, Shrestha sente a obrigação de ser um farol de mudança. Por meio de seu trabalho, ela presenciou os problemas que afetam a indústria de montanhismo em seu país. Entre os principais estão o trabalho exaustivo realizado pelos guias Sherpas, carregadores e outros trabalhadores da montanha, junto com os riscos físicos e os poucos benefícios.
“Você só consegue fazer esse trabalho enquanto o seu corpo permitir”, disse Shrestha. “É difícil, e não há segurança ou seguro. Esta geração de trabalhadores da montanha não quer que as próximas gerações entrem na indústria. Isso não é sustentável.” Shrestha diz que espera que o governo nepalês considere fornecer seguros e outros benefícios, como um fundo de aposentadoria, para os trabalhadores da montanha.
O sucesso não é garantido quando se trata dos picos mais altos do mundo, onde avalanches, tempestades e altitude podem derrotar os pulmões mais preparados e as vontades mais firmes. “O importante é tentar”, disse Shrestha, especialmente como mulher escaladora. “As pessoas sempre fazem as mulheres se sentirem fracas, e nós internalizamos isso. Nós nos convencemos de que não conseguimos fazer certas coisas, de que vamos falhar. Quero dizer a outras mulheres que não há nada que nos limite.”