A lista é longa. Antigamente dizia-se que “o hábito faz o monge”. Dupla verdade. Aquilo que fazemos regularmente molda não apenas nossos dias, mas influencia nossa personalidade. Desde muito cedo fiz a opção pela saúde, o que resultou em um senso crítico constante que me acompanha em pequenas e grandes escolhas. O que comer? A que horas dormir? No que trabalhar? Onde viver?
Na juventude fazia atividade esportiva intensa todo dia, às vezes duas vezes ao dia. Hoje, aos recém-completados 60 anos de idade, tiro dois ou até três dias de folga na semana. Saúde também é descanso. Nunca fumei, não bebo com regularidade e quando bebo é pouco, evito comer frituras, sobremesas excessivamente doces, comida ultra processada. Coisas que, sabemos, não são saudáveis.
Gradualmente passei a enxergar o sucesso como uma pressão insana, um objetivo incerto e inalcançável, um destino que está sempre em movimento, fugindo de nós.
Mas de todos os hábitos adquiridos que resultaram (já posso falar nesse tempo verbal hoje) em uma vida saudável, acho que deixar de lado a ideia de “sucesso” foi a coisa mais importante que fiz na última década. Gradualmente passei a enxergar o sucesso como uma pressão insana, um objetivo incerto e inalcançável, um destino que está sempre em movimento, fugindo de nós.
Não é fácil eliminar o conceito de sucesso de nossas mentes, criadas e alimentadas no ventre de uma sociedade consumista, superficial, imediatista e competitiva. Se desejamos fortuna, sucesso material, sempre haverá uma multidão à nossa frente, teoricamente mais bem sucedida. Gente, inclusive, que saiu muito na frente nessa corrida e que jamais alcançaremos. Se queremos fama, sucesso social, nos deparamos com atalhos e trilhas enlameadas, onde ética e até a legalidade podem ser esquecidas no afã de alcançar o objetivo. Um beco sem saída. Se desejamos poder, a coisa fica ainda pior.
Enfim, do mesmo jeito que alimento meu corpo com boa comida, água à vontade, sono adequado e exercícios físicos, alimento minha mente com bons livros, bons filmes, discussões inteligentes e pensamentos edificantes. Dentre esses pensamentos está a decisão de não colocar o sucesso como meta ou objetivo. Descobri que isso não leva a lugar algum. Prefiro amarrar meu bode, fechar meu compromisso, com um trabalho onde eu possa investir minhas habilidades com convicção. Onde até minhas deficiências fiquem evidentes e eu possa ajustá-las, não para ser mais bem sucedido, mas para ser uma pessoa melhor.
Em suma, minha dica de vida saudável é: evite transformar a vida numa corrida numérica, quantitativa, acumulativa. Leia mais livros no lugar de consumir o que vem das redes sociais. Medite mais e planeje menos. Pense na vida como um oceano visto de dentro de um caiaque… O que vemos na linha do horizonte não se compara com a profundidade abaixo das nossas bundas!
*Trecho da matéria “O hábito faz o monge”, publicada na edição 178 da Go Outside.