O Prêmio Outsiders, promovido pela Go Outside, reconhece anualmente atletas, projetos e personalidades que brilharam no universo da vida ao ar livre. Em 2024, selecionamos 14 destaques que merecem a sua atenção neste fim de ano.

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Jordana Agapito

Primeira mulher brasileira a escalar uma via de graduação 11a

Jordana Agapito
Jordana Agapito na via Gigante pela Natureza. Foto: Fábio Moreira

Em setembro, a escaladora goiana Jordana Agapito tornou-se a primeira mulher brasileira a completar uma via de graduação 11a ao mandar a desafiadora “Gigante Pela Natureza”, localizada no Morro do Macaco, em Pirenópolis (GO).

A via, com 35 metros de extensão e uma inclinação que desafia até os atletas mais experientes, inclui boulders de altíssima dificuldade. A conquista foi fruto de mais de um ano de dedicação e treinamento focado, com uma preparação que começou em abril de 2023.

Jordana não é apenas uma atleta excepcional, mas também uma pioneira e fonte de inspiração para a nova geração de escaladoras. Antes de se destacar na escalada esportiva, já havia marcado seu nome na história ao ser a primeira mulher brasileira a escalar um boulder V12, o icônico “Kalunga”, em 2015.

Com seu título de Outsider 2024, ela solidifica sua posição como referência na busca pela excelência esportiva. “Esse foi um ano de muita conquista pra mim, muita colheita, estou grata de verdade”, diz.

E os treinos para o ano que vem já começaram! “Para 2025, estarei bem focada em vias no meu estado e em outros lugares do Brasil”, conta.

Fernanda Maciel

Escalou a Pirâmide de Carstensz, pico mais alto da Oceania, em tempo recorde

Fernanda Maciel escala a Pirâmide de Carstensz
Foto: Red Bull Media House

Em 2024, Fernanda Maciel reforçou seu status como uma das mais relevantes atletas de resistência ao alcançar o cume da desafiadora Pirâmide de Carstensz, na Indonésia, o ponto mais alto da Oceania, em tempo recorde.

A mineira completou a rota desde a base até o pico da Pirâmide em apenas 1 hora e 48 minutos. Com o feito, ela conquistou dois recordes de FKT (Fastest Known Time), o tempo total de subida e descida na montanha, e o recorde feminino de subida, realizado em 1 hora e 04 minutos. A atleta percorreu, sem suporte de oxigênio suplementar, uma distância total de 4.300m, com um desnível positivo de 582mD+ e 1.164m de ganho acumulado.

Essa é mais uma etapa concluída em sua jornada pelos Sete Cumes, o projeto que busca escalar as montanhas mais altas de cada continente. Até agora, ela já conquistou o Kilimanjaro, o Aconcágua, o Monte Vinson, o Elbrus e, agora, a Pirâmide de Carstensz. Restam o Everest e o Denali para completar o desafio.

Reconhecida pela sua determinação e espírito de superação, Fernanda Maciel exemplifica o que significa ser uma Outsider: alguém que vive além dos limites convencionais, enfrentando desafios extremos com paixão e coragem. Sua nomeação celebra não apenas suas conquistas esportivas, mas também o impacto inspirador de sua trajetória no mundo da aventura.

Com os olhos voltados para os próximos desafios, Fernanda segue sendo uma referência de força, persistência e dedicação, levando o nome do Brasil a alturas ainda maiores.

Renata Falzoni

Cicloativista e jornalista eleita vereadora em São Paulo com 30.206 votos

Renata Falzoni
Foto: Reprodução/Instagram/Renata Falzoni

Esta Outsider é referência na defesa da mobilidade urbana sustentável. Renata Falzoni, renomada cicloativista e jornalista criadora do @bikeelegal, foi eleita vereadora em São Paulo em 2024 aos 71 anos.

Sua atuação política é marcada pela defesa de ciclistas e pedestres, além de iniciativas para reduzir o número de carros em circulação na cidade.

Em novembro de 2024, Falzoni protagonizou ainda um ato de protesto contra o corte de árvores na Rua Sena Madureira, na Vila Mariana. Ela se abraçou a uma das árvores para impedir sua remoção, mas foi retirada à força pela Guarda Civil Metropolitana.

“O reconhecimento [do Prêmio Outsiders] me faz pensar muito a fundo qual o motivo de estarmos aqui nesse planeta, nessa época”, diz Falzoni. “Imagino que o fato de eu ter sido eleita vereadora depois de tantas décadas na promoção de vida ao ar livre, do ciclismo como esporte, transporte e lazer tem influenciado para eu ter sido escolhido entre pessoas tão fortes e seletas.”

Segundo a vereadora, o objetivo para 2025 é levar esses ideais para São Paulo. “O desafio agora será conseguir trazer esse olhar de quem tem a vida ao ar livre como modo de vida – que é respeito, harmonia, sintonia com a natureza, respeito aos limites e trabalho em equipe – para dentro da política”, afirma.

“Faço ainda um apelo: considere cada um de vocês envolverem-se mais nesse plano da política”, completa.

Maikon Liporini

Percorreu o Caminho da Fé e de Peruíbe a Paraty de monociclo

Maikon Liporoni

Maikon Liporoni, professor de educação física e monociclista de Ribeirão Pires (SP), é um Outsider incomum: ele se destaca pelas suas notáveis conquistas em percursos de longa distância sobre uma única roda.

Em fevereiro, Maikon completou os 318 km do Caminho da Fé, partindo de Águas da Prata (SP) até Aparecida (SP). Durante cinco dias, enfrentou terrenos desafiadores, incluindo cascalho e lama, acumulando mais de 7.000 metros de altimetria.

Seis meses depois, ele se desafiou a percorrer 378 km entre Peruíbe (SP) e Paraty (RJ) pela Rodovia Rio-Santos. Além do desafio físico, a jornada teve um propósito solidário: arrecadar doações para o Hospital do Câncer. Para isso, adaptou seu monociclo com um sistema de bikepacking, permitindo-lhe carregar os suprimentos necessários para a viagem.

O atleta é ainda presença constante no Rocky Mountain Games, maior festival de cultura e esportes de montanha do Brasil. Em 2024, participou das três etapas do evento com habilidade e resistência ao desafiar ciclistas da modalidade gravel com seu monociclo nas trilhas da Serra da Mantiqueira.

“Além dos desafios, este ano também consegui formar muitos atletas. Foi um ano de muita superação e de conquistar o impensável”, conta o atleta.

Sempre buscando superar seus limites, Maikon planeja futuras aventuras, incluindo os 500 km do Biking Man e a travessia da Estrada da Morte na Bolívia.

A nomeação de Maikon como Outsider celebra não apenas suas impressionantes conquistas esportivas, mas também sua capacidade de inspirar outros a perseguirem desafios únicos e significativos.

Lua Oliveira

Representou o Brasil no Red Bull Cerro Abajo e lançou seu curta-metragem no Rocky Spirit

Lua Oliveira
Foto: Divulgação/Yin & Yang

Este foi um ano histórico para o mountain bike feminino e, consequentemente, para Lua Oliveira. A atleta profissional e instrutora de MTB é mais uma vencedora do Prêmio Outsiders de 2024, consagrando um ano que já era marcante para a sua carreira.

Entre os destaques do ano, está a comemoração dos 20 anos do Red Bull Cerro Abajo no Chile, um dos eventos mais emblemáticos do downhill urbano, que marcou a volta da categoria feminina. Lua brilhou ao representar o Brasil nessa edição histórica. Outra experiência notável foi sua participação no Fireride, evento de free ride realizado na Costa Rica.

Além das competições, Lua também realizou um sonho pessoal ao lançar seu primeiro curta-metragem, “Yin & Yang”, apresentado no Rocky Spirit, principal festival de filmes outdoor do Brasil. O documentário mostra a atleta e outras mulheres pedalando juntas no deserto de Utah, nos EUA, destacando a colaboração, intuição e equilíbrio — qualidades yin essenciais para atingir o flow. No filme, Lua se prepara para uma descida épica, mergulhando em experiências profundas.

O ano também foi marcado pela estreia feminina no Red Bull Rampage, o evento mais extremo da modalidade free ride. “Esse evento abriu ainda mais possibilidades pra minha carreira”, conta Lua.

Com os aprendizados e vitórias de 2024 em mente, ela entra em 2025 com metas ambiciosas: voltar ao Red Bull Rampage, representar o Brasil novamente no Cerro Abajo e lançar um novo curta-metragem. Além disso, ela segue empenhada em fomentar o mountain bike no Brasil através da Flow Ride, a escola de MTB que dirige com dedicação e que tem como missão formar novas gerações de atletas e entusiastas do esporte.

“Que venha 2025 com ainda mais flow e conquistas”, comemora Lua.

Tamara Klink

Primeira mulher a completar os oito meses do período de invernagem sozinha no Ártico

Aos 27 anos, Tamara Klink viveu uma experiência na qual pouquíssimos navegadores ousariam arriscar suas vidas: a de ser totalmente bloqueada pelo gelo.

Durante a sua longa invernagem no Ártico, a jovem brasileira enfrentou temperaturas de até -40°C, sobreviveu a uma queda no mar congelado e aprendeu a lidar com as intermináveis noites de inverno. Foram três meses sem ver o brilho do sol e outros quatro sem nenhum contato com humanos.

Ainda era 2023 quando a navegadora zarpou da França a bordo do seu veleiro, o Sardinha II, rumo ao inabitado fiorde de Quitermiunnguit, em Disko Bay, uma região extremamente remota na costa oeste da Groelândia, onde Tamara viveria o próximo inverno cercada pelo gelo.

Nesta aventura épica, ela tornou a primeira mulher brasileira — e também a mais jovem navegadora do país — a cruzar o Círculo Polar Ártico em solitário, além de ser a primeira mulher a completar os oito meses do período de invernagem sozinha no Ártico.

Agora, a desbravadora prepara um livro sobre a histórica expedição, enquanto espera mais uma vez mudar o imaginário do que as mulheres (mas não apenas elas, ressalta) são capazes de alcançar.

“Gostaria que todas as mulheres pudessem ter essa oportunidade de descobrir, com toda liberdade, o que é ser você mesma”, afirma Tamara. “Quando a gente vive oito meses sem ser mulher, nem homem, sem precisar ter gênero, a gente muda as nossas próprias crenças sobre as nossas limitações, nossas capacidades”, diz a exploradora, que acaba de lançar o livro “Nós: O Atlântico em Solitário”, sobre a não menos desafiadora travessia do Atlântico em 2021.

Alan Picu

O brasileiro mais jovem a ingressar no Clube dos 6 Mil dos Andes

Montanhista da nova geração, Alan Picu fez história nesta temporada.

Aos 22 anos, ele se tornou o brasileiro mais jovem a ingressar no Clube dos 6 Mil, a seleta lista de alpinistas que escalaram mais de 10 montanhas acima de 6.000 metros na Cordilheira dos Andes.

Em setembro deste ano, Alan chegou ao cume do nevado Illimani (6.438m), na Bolívia, justamente a montanha mais difícil que escalou neste período.

Além do Illimani, a lista atualizada inclui Acotango (6.052m), Sajama (6.542), Parinacota (6.342m), Llullaillaco (6.739m), Acamarachi (6.048m), Aucanquilcha (6.174m), Ojos del Salado (6.891m), Incahuasi (6.652m), Huayna Potosí (6.088m) e Volcán Socompa (6.052m).

Criado na Serra da Mantiqueira, Alan começou sua jornada no montanhismo aos 15 anos. Em 2023, ele decidiu se arriscar na alta montanha ao iniciar essa desafiadora empreitada pelos cumes andinos.

O primeiro 6.000 não demorou, com a subida ao Vulcão Acotango (6.052m), também na Bolívia, montanha que já escalou duas vezes desde então.

Existem cerca de 104 montanhas acima de 6.000 metros na Cordilheira dos Andes e até hoje nenhum montanhista se atreveu a escalar todas elas.

Em um futuro breve, Alan espera colocar mais alguns picos andinos – ou quem sabe todos eles – em sua lista.

“Essa está sendo a minha segunda temporada na Cordilheira dos Andes. Tive a sorte grande de pegar bons climas nas montanhas, o que me permitiu escalar cinco picos acima de 6.000m em apenas 21 dias. Com isso me tornei o brasileiro mais jovem a escalar mais de dez montanhas acima de 6.000m”, diz Alan.

“Agora tenho mais sete meses de viagem para poder explorar essas grandes montanhas da Cordilheira. Tenho dezenas de expedições marcadas pros próximos meses e espero continuar fazendo história aqui nos Andes”, completa o brasileiro.

João Chianca

Determinação para participar das Olimpíadas depois de uma acidente quase fatal

Foto: William Lucas/COB.

Em apenas duas temporadas na elite do surfe mundial, João Chianca já garantiu um lugar entre os cinco melhores do mundo.

Porém, no final de 2023, sua ascensão meteórica foi interrompida após um acidente quase fatal na temida bancada de Pipeline, no Havaí.

Depois de ser resgatado inconsciente do mar e passar por tratamento intensivo para concussão, fratura no crânio e sangramento cerebral, Chianca enfrentou uma longa recuperação.

Seu retorno às ondas e sua preparação para as Olimpíadas de Paris foram temas centrais do documentário “Meu nome é João Chianca”, um dos destaques do Festival Rocky Spirit 2024.

No grande palco olímpico, o surfista protagonizou uma das performances mais memoráveis do evento. Nas oitavas de final, ele derrotou o marroquino Ramzi Boukhiam em uma bateria considerada por muitos como a melhor das Olimpíadas.

Na sequência, o saquaremense enfrentou Gabriel Medina e acabou não avançando na competição.

“Eu realmente tive uma segunda chance. Foi um acidente muito sério que me desabilitou para muitas coisas. Tive que ter muita determinação e fé para vencer isso tudo”, disse Chianca em entrevista após os Jogos de Paris. Ele também destacou os momentos de muitas dúvidas.

“Eu sabia que ia sair dessa, que ia me recuperar e voltar a surfar. Mas a tempo dos Jogos Olímpicos? A tempo de estar apto à alta performance de novo e surfar uma onda tão séria como Teahupoo? Então, são momentos que acabam se tornando divisores de águas e falando para você o atleta que você é. E eu tenho orgulho atleta que sou hoje, da pessoa que sou hoje fora d´água e da perspectiva que tenho de olhar as coisas. Se tem algum teste de disciplina e determinação, eu passei em todos”, completou o Outsider.

Bala Loka

Melhor resultado da história do nosso ciclismo em Olimpíadas

Foto: Mikeila Pelayes.

Desde que começou a decolar nas rampas do Caracas Trail, em Carapicuíba (SP) — a pista de Dirt Jump mais famosa do Brasil — Gustavo Bala Loka já aspirava grandes conquistas. Mas nem nos melhores sonhos imaginava alcançar uma final olímpica com apenas 21 anos.

Agora, depois dos Jogos Olímpicos de Paris, ficou difícil conhecer um brasileiro não familiarizado com o apelido Bala Loka. Com giros e saltos que desafiaram as leis da física, Gustavo Batista de Oliveira brilhou no céu da capital francesa com o melhor resultado da história do nosso ciclismo em Olimpíadas.

Bala Loka terminou a final do BMX Freestyle em sexto lugar e colocou o Brasil em evidência em uma modalidade nova no contexto olímpico, mas que vem ganhando visibilidade no cenário internacional há bastante tempo.

Agora, ele vai colhendo os frutos de uma performance histórica em Paris, sendo premiado pelo COB como o Atleta Revelação de 2024, além de ser o novo ídolo de uma molecada atirada, que começa a andar de BMX por sua causa.

“Ser uma inspiração para essa garotada é realmente incrível e me deixa com ainda mais vontade de ser um dos melhores do mundo. Talvez minha participação nos Jogos tenha vindo para isso: para as pessoas conhecerem o BMX e descobrirem como é lindo o nosso esporte, como é da hora e divertido, né? Foi sim importante para a minha carreira, mas também para fomentar o esporte, devolver um pouco do tanto que o BMX fez por mim. Espero que isso resulte em novos talentos, evolução e visibilidade”, destaca Gustavo.

Dupla do Highline

Recordes e pódios nos principais eventos do highline mundial

Erika Sedlacek e Matheus Vidal.

Para finalizar a lista brasileira do Prêmio Outsiders 2024 com chave de ouro, uma dupla que brilhou nos maiores palcos do highline mundial neste ano: Erika Sedlacek e Matheus Vidal.

Os brasileiros subiram ao pódio nos principais eventos da modalidade, com destaque para o LAAX Highline World Championship, na Suíça, válido pelo Campeonato Mundial, além do Desafio Internacional na China, que reuniu grandes atletas.

Na Suíça, Vidal terminou em terceiro entre os homens, enquanto Erika ficou na segunda colocação entre as mulheres no Speedline, categoria que consiste em atravessar a fita o mais rapidamente possível.

Poucos meses depois, na China, Vidal brilhou com a vitória na categoria individual e Erika anotou o quarto melhor tempo da competição no Speedline.

Nesta temporada, os atletas, que também são artistas circenses e ativistas ambientais, ainda adicionaram novos recordes mundiais ao currículo.

Matheus estabeleceu a melhor marca de todos os tempos na distância de 100 metros, enquanto Erika, dona de três recordes mundiais, quebrou mais um ao atravessar uma fita com os olhos vendados.

“Foi um ano de muito treino e dedicação ao esporte. Esperamos também poder inspirar outros e outras a seguir em busca dos seus objetivos. Muitos desses feitos não seriam possível sem a ajuda de amigos do slack que estiveram conosco nas competições e em travessias épicas”, escreveu a dupla.

Purnima Shrestha

Primeira mulher a escalar o Everest três vezes em uma temporada

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Foto: Pasang Arya Sherpa.

Nascida em uma família de agricultores de subsistência no pequeno vilarejo de Arughat, no Nepal, Purnima Shrestha achava que as montanhas ao seu redor estavam fora de alcance. Sua vila é uma parada no Circuito de Manaslu, a caminho do pico homônimo de 8.000 metros, mas a família de Shrestha nem sequer tinha água encanada. Como mulher, esperava-se que ela se casasse jovem, criasse filhos e cuidasse da casa.

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Shrestha decidiu cedo que esse caminho não era para ela. Primeiro, rompeu com a tradição ao se mudar para Katmandu aos 16 anos para continuar seus estudos. Ela ficou com parentes até se formar no ensino médio e depois se matriculou na faculdade para estudar comunicação. Mais tarde, conseguiu um estágio na Hospitality, Food and Wine, dando início a uma carreira no setor editorial.

Enquanto cobria a Maratona do Everest em 2017, Shrestha ficou fascinada pelo cume mais alto do mundo. Para ela, representava o ápice da realização humana. Então, ela fez empréstimos, começou a treinar e se comprometeu com a escalada. Nos últimos sete anos, ela chegou ao cume de oito dos picos de 8.000 metros do mundo. Este ano, aos 34 anos, ela se tornou a primeira mulher da história a alcançar o cume do Everest três vezes em uma única temporada, entre os dias 12 e 25 de maio.

Shrestha não tinha a intenção de quebrar recordes. O Everest era apenas o objetivo mais alto e difícil que ela podia imaginar. “Eu queria ver do que era capaz”, disse ela. Depois de alcançar o cume uma vez, contou: “Todos os meus sonhos se centraram em escalá-lo novamente. Eu rezei por um motivo para voltar.”

Biniam Girmay

Primeiro negro a vencer uma etapa do Tour de France

Biniam Girmay
Biniam Girmay em sua cidade natal, Asmara, na Eritreia. Foto: Garnier Etienne / Presse Sports.

Os heróis do Tour de France têm algumas características em comum. A maioria são homens brancos, geralmente provenientes de países europeus com culturas de ciclismo fortes e infraestrutura robusta para desenvolver ciclistas profissionais. Ao longo dos 121 anos de história do evento, competidores da França, Bélgica, Espanha e Itália dominaram a corrida.

Talvez por isso os fãs do esporte tenham ficado tão fascinados com um ciclista no Tour de 2024: Biniam Girmay. O jovem de 24 anos vem da Eritreia, um país montanhoso na costa africana do Mar Vermelho, uma das nações mais pobres do mundo.

Na corrida deste ano, Girmay venceu três etapas e conquistou a camisa verde, dada ao melhor velocista. Essas realizações garantiram seu lugar nos livros de história do Tour. Ele se tornou o primeiro ciclista negro a vencer uma etapa e a levar uma das quatro camisas do evento.

Girmay disse à Outside USA que espera que suas vitórias levem mais ciclistas negros ao Tour. “Espero que mais equipes profissionais deem oportunidades aos ciclistas africanos”, disse ele. “O talento existe, mas é preciso mais investimento.”

Os feitos de Girmay foram frequentemente mencionados durante as transmissões do Tour, ressaltando a notória falta de diversidade no ciclismo profissional. Outros ciclistas negros já competiram na prova, mas suas contribuições sempre foram em papéis de apoio. Em 2015, outro ciclista eritreu, Daniel Teklehaimanot, vestiu a camisa de bolinhas — dada ao melhor escalador — por várias etapas antes de perder a liderança nessa competição. O colombiano Egan Bernal tornou-se o primeiro sul-americano a vencer a corrida em 2019.

Jasmin Paris

Primeira mulher a completar a infame Barkley Marathons

Barkley Marathons
Foto: Howie Stern.

Em um vídeo de 2015 no YouTube, um entrevistador perguntou a Gary “Laz” Cantrell por que nenhuma mulher havia concluído sua corrida, a infame Barkley Marathons, nas montanhas acidentadas do Tennessee. “A corrida é muito difícil para mulheres”, respondeu ele com um sorriso malicioso. “Elas simplesmente não são fortes o bastante para fazê-la, e eu posso dizer isso enquanto ninguém provar o contrário.” Desde a criação da corrida — que consiste em cinco voltas consecutivas de mais de 32 km cada — em 1986, apenas 20 corredores haviam terminado. Até este ano, todos eram homens.

Em 22 de março, uma multidão se reuniu ao longo de uma estrada cercada por árvores em um acampamento no Parque Estadual Frozen Head. Os espectadores apontaram suas câmeras para uma mulher de camisa vermelha e calça capri preta que corria o mais rápido que podia. Jasmin Paris, 40 anos, estava coberta de sujeira e arranhões, e mal conseguia manter os olhos abertos. Quando a britânica tocou o portão amarelo desgastado —tornando-se a primeira mulher a completar a Barkley Marathons — ela se dobrou ao meio e depois desabou no chão.

O relógio marcava 59 horas, 58 minutos e 21 segundos. Paris já havia tentado a Barkley em duas ocasiões anteriores; em 2023, tornou-se apenas a segunda mulher a chegar à quarta volta. Este ano, ela completou todas as 100 milhas não sinalizadas, em sua maioria fora de trilhas, incluindo aproximadamente 19.800 metros de ganho de elevação, com apenas 99 segundos restantes antes do limite de 60 horas. Fotógrafos se aglomeraram ao redor dela enquanto seu peito arfava e ela lutava por ar, capturando as imagens amplamente compartilhadas do momento em que sua vida mudou.

Embora a conclusão da Barkley tenha impulsionado a notoriedade de Paris — ela foi destaque em inúmeros veículos de mídia e recebeu uma honraria da família real britânica — ela não é novata no sucesso em corridas de longa distância. Em 2019, Paris tornou-se a primeira mulher a vencer a Montane Spine Race, uma prova de 268 milhas no Reino Unido, quebrando o recorde do percurso por 12 horas, mesmo parando para bombear leite materno para sua filha de 14 meses. Paris é mãe de dois filhos pequenos e professora na Escola de Estudos Veterinários da Universidade de Edimburgo, onde se especializa em medicina interna de pequenos animais. Seu treinamento para a Barkley aconteceu durante o inverno frio e úmido da Escócia, nas primeiras horas da manhã, antes de seus filhos acordarem.

Marley Blonsky

Ciclista que está tornando o esporte inclusivo para pessoas de todos os tamanhos

Foto: Patty Valencia.

Aprender a andar de bicicleta pode ser o seu primeiro gosto de liberdade. De repente, um mundo além da porta de casa se abre, pronto para ser explorado sobre duas rodas.

Mas, para Marley Blonsky, não foi tão simples assim. Quando tinha 8 anos, tentando pedalar com sua irmã mais velha e suas amigas, ouviu que era muito lenta. “Eu sempre quis fazer parte do grupo”, diz ela. “Parecia algo pelo qual eu estava constantemente lutando, mas nunca alcançando de verdade.”

Já adulta, Blonsky, agora com 38 anos, enfrentou barreiras semelhantes — e algumas novas que ela não esperava. Descobriu que os limites de peso na maioria das bikes de estrada eram baixos demais para ela; suas pedaladas eram prejudicadas por raios quebrados e trilhos de selim rachados. A maioria das marcas de roupas de ciclismo tinha tamanhos limitados, então ela tinha dificuldade em encontrar camisetas e bermudas confortáveis. Nos passeios em grupo, sentia aquela sensação familiar de ser deixada para trás.

Então ela decidiu agir. Em 2021, junto com Kailey Kornhauser, Blonsky fundou o All Bodies on Bikes, um clube que acolhe ciclistas independentemente do tamanho, gênero, raça ou capacidade. Nos últimos três anos, o grupo se expandiu para dez capítulos, com planos de adicionar quase 30 novos até 2027. Cada capítulo é incentivado a organizar passeios, colaborar com outras organizações de defesa do ciclismo em sua área e realizar eventos como trocas de equipamentos e oficinas para consertar pneus furados. “Não nos importamos com o motivo pelo qual você está pedalando”, diz ela. “Queremos apenas te capacitar a fazer isso com alegria.”

Em 2024, o All Bodies on Bikes organizou diversas viagens de bikepacking e coorganizou a maior festa de linha de chegada do ciclismo de cascalho: a festa DFL (Dead Fucking Last) no MidSouth Gravel. Olhando para o futuro, o plano estratégico da organização inclui estabelecer padrões da indústria para limites de peso em bicicletas e componentes, pressionar marcas para representarem uma maior diversidade de tamanhos em suas publicidades e criar uma certificação de varejo para lojas de bicicletas, que permitirá aos clientes saber que “essa loja tem conhecimento para atender pessoas maiores e te tratará com dignidade e respeito”, afirma Blonsky.

Ao criar uma comunidade de ciclismo que acolhe pessoas de todas as formas e tamanhos, Blonsky tornou um esporte que pode ser intimidador mais acessível para novos ciclistas. Ela frequentemente recebe mensagens de pessoas sobre o quanto é significativo ver uma diversidade de corpos representada no ciclismo. Depois de anos se sentindo excluída, a ciclista, que se identifica como gorda, encontrou poder ao abrir os portões.

“Não parece que o que estamos fazendo seja tão radical”, diz ela. “Ir um pouco mais devagar, ver as pessoas e encontrá-las onde elas estão, não deveria ser algo tão incrível. Mas é.”