Em 1942, um guarda florestal britânico designado para patrulhar o Himalaia indiano durante a Segunda Guerra Mundial encontrou um lago com centenas de esqueletos de pessoas. A notícia se espalhou e o Lago Roopkund, no atual estado indiano de Uttarakhand, foi rebatizado de Skeleton Lake (Lago dos Esqueletos).

Assim começou um mistério de 77 anos sobre quem eram esses humanos, o que os levaram até o lago isolado, muitas vezes congelado, e como eles morreram.

Existe um conto folclórico do Himalaia de mil anos, em que um rei e uma rainha, seguidos por seus súditos, caminhavam pelas montanhas do norte da Índia até o santuário de Nanda Devi, a deusa da montanha. Mas no caminho, a deusa derruba os peregrinos por seu comportamento inadequado, e eles caem no pequeno Lago Roopkund.

O conto de Nanda Devi poderia ajudar a explicar os esqueletos no lago. A peregrinação que eles tentaram, o Nanda Devi Raj Jat, é uma jornada de três semanas ainda realizada hoje para adorar a deusa. Algumas hipóteses dizem que os corpos poderiam ser a evidência de uma expedição militar fatal do século 19. Entretanto, quando identificaram muitas ossadas de mulheres no lago, essa ideia foi descartada. Baseado em evidências de fraturas por compressão em alguns dos crânios humanos, a crença mais comum é que uma chuva de granizo matou todos de uma vez entre 830 e 850 dC. Um novo estudo publicado na Nature Communications, no entanto, contradiz esta teoria.

No estudo, os pesquisadores dataram por radiocarbono e analisaram geneticamente os  esqueletos de 38 corpos encontrados no lago para descobrir a idade dos ossos e a ascendência dos indivíduos. Eles também analisaram os isótopos estáveis ​​nas amostras para aprender mais sobre o que eles comiam. O que os pesquisadores descobriram os surpreenderam.

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“A suposição era que todos os esqueletos datavam por volta do século VIII, mas ficou claro que não foi isso que aconteceu”, diz Éadaoin Harney, principal autora do artigo e doutoranda no departamento de biologia evolutiva e organísmica da Universidade de Harvard. Os corpos no lago, em vez de morrerem em um único evento catastrófico, variam de algumas centenas a mil anos de idade.

Os autores também assumiram que os indivíduos eram todos do subcontinente indiano, como é o que estudos anteriores tinham pensado. Mas, uma vez que eles tinham as antigas amostras de DNA, “ficou claro que definitivamente não era esse o caso”, diz Harney.

Geneticamente, os restos se dividem em três grupos distintos, variando de populações de 1.000 anos do sul da Ásia a populações de 200 anos da Grécia e Creta, juntamente com um indivíduo do leste da Ásia. Vinte e três dos corpos analisados ​​eram do sul da Ásia, enquanto 14 eram de origem mediterrânea. Mesmo aqueles indivíduos do sul da Ásia “têm ancestrais muito diferentes”, diz Harney. “Não é uma população única vinda de algum lugar da Índia. Em vez disso, são pessoas de todo o subcontinente.”

Os resultados da análise isotópica também mostram diversas dietas dentro e entre cada subgrupo, aumentando o mistério.

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Quanto a como eles morreram lá e por que, Harney diz: “A única dica que temos é que o Lago Roopkund está localizado ao longo da rota de peregrinação que pode ter sido usada nos últimos mil anos”. Além disso, para Harney, é difícil imaginar isso como a única razão para tal conjunto de pessoas geneticamente e culturalmente diversas morrerem no mesmo lago remoto.

“Ainda estamos muito confusos”, diz ela, e mais pesquisas são necessárias para determinar a natureza exata dessas mortes. Uma enorme tempestade de granizo ainda não pode ser descartada, mas os cientistas se perguntam se a tempestade de granizo foi o golpe fatal ou se ocorreu após a morte do povo.

E comparado a outros sítios arqueológicos, Roopkund é desafiador para estudar. “Tem sido sujeito a tantos distúrbios, tanto do ambiente natural, como deslizamentos de rochas”, diz Harney, e de peregrinos na trilha próxima descendo para recuperar ossos ou olhar para o local.

O estudo destaca as maneiras pelas quais os humanos viajaram para lugares distantes por centenas, senão milhares, de anos. “Sabíamos que havia conexões de longa distância”, diz Harney, mas o novo estudo demonstra “como a migração e as conexões importantes entre diferentes partes do mundo têm ocorrido ao longo da história”.







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