Na primeira vez que decidi acampar sozinho, escrevi no meu diário logo no começo da aventura: “Acabei de ouvir um barulho de galhos quebrando, seguido de pancadas fortes. Parecia um urso. Não protegi minha comida contra ursos. Ops”. Eu me encolhi no saco de dormir, segurando meu canivete, enquanto imaginava um animal rosnando rasgando minha barraca como se fosse papel de seda. Desejei poder me virar para a pessoa ao meu lado e sussurrar com um riso nervoso: “O que você acha que era esse som?”.

Depois passei o dia caminhando pelas matas de Seneca Creek, em West Virginia (EUA). Algumas semanas antes, alguém me falou de um lugar que lembrava as florestas do noroeste do Pacífico. Inspirado nas aulas de literatura transcendentalista que eu estava estudando na faculdade, decidi explorá-la por conta própria. Foi um teste: será que eu sobreviveria uma noite sozinho ao acampar na mata?

Tracei um plano – percorreria 30 km em dois dias. Imprimi os mapas da região, estudei as trilhas locais e verifiquei cuidadosamente a previsão do tempo. Eu tinha conhecimento suficiente para que a viagem não se transformasse em um perrengue solitário. Ou, pelo menos, era isso o que eu achava.

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Preocupado com a expectativa de montar a barraca e acampar sozinho no escuro, parti para a trilha como um foguete, bufando ao ultrapassar outras pessoas, que pareciam se divertir com meu ritmo frenético. Talvez tenha sido a tempestade que caiu e me encharcou, mas horas depois percebi que havia passado reto em uma curva. Eu estava cansado, chateado e molhado. Com a luz do dia, montei a barraca, peguei algumas barras de cereais (não havia nenhuma razão para preparar um belo banquete só para mim no camping), tirei minhas meias – que pareciam panos de chão – e me joguei no saco de dormir.

Algumas pessoas adoram a liberdade de acampar sozinhas. Tenho amigos que gostam de usar clichês sobre paz e sossego que encontram na companhia das árvores. Mas a emoção dominadora que experimentei naquela noite foi… tédio. Às 18h, peguei um livro na mochila sobre relatos de viagem inchado da umidade da chuva. Não encontrei nenhuma história emocionante para ler naquela noite. Então escrevi um pouco no meu diário, fiz alongamento e depois me perdi em meus pensamentos. Finalmente, eu me arrastei para dentro do saco de dormir.

Daí veio o urso – ou o que quer que tenha provocado aquela barulheira.

Depois que percebi meu erro de novato – esquecer de guardar a comida –, pensei ansiosamente na voz da razão que havia me abandonado algumas horas atrás: antes de esticar as pernas, vamos tirar toda a comida da barraca para que um urso não nos coma, certo? Eu já imaginava as manchetes: “Viajante solitário morto por urso em West Virginia”. Os sons perturbadores continuaram: galhos estalando, passos pesados e, espere!, será que ouvi um grito? A ausência de outro ser humano era perturbadora. Minhas preocupações se elevaram a ponto de parecerem um perigo real. Tal – vez eu tenha conseguido dormir por uma hora naquela noite.

Acordei quando a luz da manhã bateu na barraca. Ainda em estado de alerta, espiei cautelosamente pela abertura do zíper. A paisagem chamou minha atenção: folhas tons amarelo-canário e vermelho-fogo espalhadas sobre o chão molhado; milhares mais pairavam sobre mim como ornamentos. O céu era de um cinza-claro e leitoso.

O poeta e filósofo norte-americano Emerson escreveu que o homem “não pode ser feliz e forte até que ele também viva com a natureza no presente, acima do tempo”. Ele está certo. Eu estava tão focado no objetivo final que tinha ignorado a folhagem linda e fugaz que me cercava. Comecei a caminhar de volta para meu carro, agradecido por estar ali, cheio de autoconfiança. Eu havia sobrevivido àquela noite, sem precisar da segurança proporcionada por um amigo.







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