Brasil da maratona aquática

Poliana Okimoto conquista medalha inédita para o Brasil na #Rio2016

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GARRA: Poliana, capa da edição de agosto/2016

DIFÍCIL IMAGINAR QUE, nos últimos quatro anos, o Brasil se tornaria o país da maratona aquática. Mesmo que pouca gente ainda saiba disso, nos Jogos do Rio 2016, competindo em casa, nossos três atletas – Ana Marcela Cunha, Poliana Okimoto e Allan do Carmo – têm chances reais para conquistar a primeira medalha olímpica para o país nesse esporte, que integra as Olimpíadas desde 2008, em Pequim — (ATUALIZAÇÃO: Na Rio 2016, Poliana terminou a prova de 10 km na quarta colocação, mas por desclassificação da francesa Aurielle Muller, que bateu em segundo, mas violando as regras do fair play contra a adversária italiana Rachele Bruni, ela levou a medalha de bronze. O ouro ficou com a holandesa Sharon von Rouwendaal).  

Natural de São Paulo, Poliana, de 33 anos, possui a experiência a seu favor. A nadadora, que em 2009 foi campeã da Copa do Mundo de Maratonas Aquáticas (vencendo nove das 12 etapas de que participou), tem conseguido se manter no auge por um bom tempo. “Nesse esporte, as provas são muito diferentes uma da outra”, explica. “A gente costuma nadar em condições adversas – mar mexido, água muito quente ou muito fria, com água viva… Além disso, é necessário se posicionar bem durante a prova, saber quem é quem para fazer sua estratégia funcionar e não se machucar. E só com a vivência você aprende a tomar as atitudes certas.”

A cada competição, Poliana se conhece um pouco mais, o que, na prática, significa evolução. Em 2013, no Mundial de Barcelona, ela ganhou a prata na prova de 5 km e, dias depois, sagrou-se campeã mundial na maratona aquática na disputa de 10 km (a mesma distância da prova olímpica). Foi também nos 10 km que, no ano passado, a atleta terminou em 6º lugar no mundial de Kazan, na Rússia. Foi essa colocação que garantiu sua participação na Rio 2016, sua terceira olimpíada.

APESAR DE VIAJAREM JUNTAS com a seleção brasileira há mais de dez anos, Poliana e Ana Marcela são adversárias. “A maratona aquática é um esporte quase sempre individual, e não é possível unirmos forças”, justifica Poliana. “Por isso, dentro d’água, uma quer ganhar da outra.”

No Mundial de Kazan, foi Ana Marcela que fez a maratona aquática bombar no noticiário esportivo ao vencer a prova de 25 km. No mesmo evento, a baiana de 24 anos ainda conquistou o bronze na disputa de 10 km e a prata na de 5 km por equipe. “Meu objetivo no ano passado foi mais do que alcançado”, diz Ana Marcela, que em 2015, só em eventos internacionais, subiu no pódio nada menos do que 11 vezes. Atualmente ela vive a coroação quase absoluta que o esporte pode conceder a um atleta que se dedicou ao extremo durante uma década inteira. “Quase” porque agora só falta mesmo a medalha olímpica.

Ana Marcela fez sua estreia nanatação de águas abertas em 2006, aos 14 anos. Hoje é tricampeã mundial (2011, 2012 e 2015), além de já ter sido eleita pela Federação Internacional de Natação (FINA) a melhor nadadora de maratonas aquáticas do mundo por dois anos (2010 e 2014). Em 2014, não apenas venceu a tradicional Travessia Capri-Napoli, realizada no Mar Tirreno, na Itália, como baixou em sete minutos o recorde da prova – nadou 36 km em 6h24min47s.

Experiência também não lhe falta. Ela tinha 16 anos quando participou de sua primeira Olimpíada – em Pequim 2008, na estreia da maratona aquática nos Jogos. Logo de cara, conseguiu um heroico quinto lugar. E, apesar de o excesso de confiança ter sido o motivo para ela ficar de fora de Londres 2012 (por apenas uma colocação), o maior aprendizado vem, segundo a moça, com as derrotas. É por isso que não há dúvidas de que Ana Marcela estará em sua melhor fase no Rio.

ENQUANTO O FOCO se volta para a chance em dobro do Brasil na maratona aquática feminina, o baiano Allan do Carmo, de 26 anos, nosso único representante entre os homens, vem ganhando espaço pelas beiradas. Literalmente. Na água, essa é a estratégia que ele adota para fugir da muvuca da largada, quando costumam rolar tapas e até trapaças.

Em 2008, durante a primeira seletiva olímpica da história desse esporte, realizada na Espanha, Allan lembra que chegou a ter sua roupa de borracha propositalmente desabotoada por um adversário durante o alvoroço. Mesmo assim, conseguiu a vaga para disputar a Olimpíada de Pequim, onde terminou em 14º.  Apesar de ter ficado de fora de Londres 2012 – exatamente como aconteceu com a amiga e conterrânea Ana Marcela –, desta vez ele fez um ciclo olímpico impecável: em 2013, ficou entre os dez primeiros no Mundial de Barcelona e ainda conquistou o bronze para o Brasil na prova de equipe mista (com Samuel de Bona e Poliana Okimoto). No ano seguinte, venceu nos 10 km da Copa do Mundo de Maratonas Aquáticas, em Hong Kong, e entrou para a história como o primeiro brasileiro a ganhar um mundial.

Para a Rio 2016, ele está otimista – e não apenas porque estará competindo em seu país. É que, diferentemente do que aconteceu em Pequim e Londres, a maratona aquática não será disputada na calmaria de uma lagoa, mas no mar de Copacabana. “No ano passado, ganhei o evento-teste em um mar agitado, com ondas grandes”, lembra. Desta vez, a nova raia natural pode ajudar Allan a derrotar seus principais adversários, entre eles o tunisiano Oussama Mellouli, atual campeão olímpico.

(Parte da matéria Brasil das Águas, publicada pela revista Go Outside em Agosto/ 2016)







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