Turismo em alta, moradores no limite: é hora de escutar os locais

Por Tim Neville*

Paige McClanahan aborda uma questão polêmica do turismo com empatia, sem culpar ninguém ou dar lições de moral. Foto: Céline Clanet / Outside USA.

Paige McClanahan, jornalista e escritora de viagens, é muito diplomática para dizer isso diretamente, então deixe-me simplificar: você é o motivo pelo qual os moradores locais muitas vezes não gostam de turistas.

“Viajar se tornou um exercício consumista, onde o objetivo é tirar o máximo proveito de um lugar pelo que pagamos”, diz McClanahan em uma entrevista à Outside por telefone de sua casa, na França. “Precisamos acordar. Paris não lhe deve nada.”

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A tensão entre turistas e moradores existe desde antes de Marco Polo, mas em seu livro de estreia The New Tourist: Waking Up to the Power and Perils of Travel” (O Novo Turista: Despertando para o Poder e os Perigos das Viagens, em tradução livre), McClanahan nos mostra como a situação piorou.

Globalmente, até o final de 2024, os viajantes terão feito cerca de 1,5 bilhão de viagens internacionais – o maior movimento de pessoas que o planeta já viu. Em poucos anos, esse número pode chegar a 1,8 bilhão.

Apesar do entusiasmo por experiências conscientes e viagens sustentáveis, os moradores de Atenas a Zermatt já tiveram o suficiente. Alguns havaianos pediram que fiquemos em casa. Romanos multam turistas em até 280 dólares por obstruir a Escadaria Espanhola. Em julho, uma multidão irritada percorreu as avenidas de Barcelona jogando água com pistolas de brinquedo nos visitantes.

McClanahan, que escreve para jornais como The New York Times, The Washington Post e The Guardian, aborda essa questão com empatia, sem culpar ou dar lições de moral a ninguém. Tampouco pede que as pessoas parem de viajar, o que seria prejudicial ao trabalho de conservação, à prosperidade e à construção de conexões culturais.

Em vez disso, McClanahan usa as vozes dos moradores afetados negativamente pelo turismo para nos inspirar a viajar com mais curiosidade, humildade e apreço por como nossas férias podem ser um inferno para o clima e para os residentes locais. Acima de tudo, ela quer que saibamos que temos o poder de transformar as viagens em uma força para o bem.

Essa mentalidade elevada é a marca registrada do novo turista. Tornar-se um não é difícil. Significa visitar a Islândia fora da alta temporada ou trocar a fila no Louvre por um passeio Paris Noir para mergulhar na história negra da cidade. Significa controlar sua festa em Amsterdã e ficar atrás da cerca no Grand Canyon. Você pode insistir em apoiar guias locais e hotéis, restaurantes e barracas de comida de propriedade local. (A multidão de Barcelona mirou pessoas que comiam em lugares como o Taco Bell.)

“Mesmo se você for um viajante de orçamento limitado, ainda pode ser um visitante de alto valor”, diz McClanahan.

McClanahan, que deixou os Estados Unidos aos 26 anos e passou os últimos 17 anos escrevendo da África e da Europa, admite que já cometeu muitos erros de “velho turista” – como postar um vídeo no Instagram de Angkor Wat que mal mostrava Angkor Wat. “Eu também tenho teto de vidro”, afirma.

McClanahan não critica os tipos de viagens que as pessoas gostam, mas fica incomodada com quem se considera um “viajante” e não um turista. “Não nego que as pessoas viajem por uma enorme variedade de razões, algumas mais elevadas do que outras”, escreve em seu livro. “Então, claro, chame-se de viajante, mas nunca se esqueça de que você também é um turista.” O que importa é tomar decisões informadas sobre como viajar de maneiras que priorizem os lugares e as pessoas que vivem neles.

“Uma das coisas mais construtivas que podemos fazer em nosso breve momento de vida é abraçar a chance de sair de nossas zonas de conforto – aqueles esconderijos perigosos onde aprendemos a nos acomodar”, escreve. Ela acrescenta: “Nenhum de nós pode agitar uma varinha mágica e mudar o comportamento de milhões de outras pessoas, mas cada um de nós pode ser essa mudança.”

*Outside USA