A cada dia, novos corredores se encantam com as maravilhas do trail run, um esporte conectado com a natureza e que proporciona benefícios que vão muito além da saúde física.
No Brasil, o crescimento da modalidade é visível em competições que não param de surgir pelo país. Provas como o Rocky Mountain Games, La Mision e UTMB Brasil atraem milhares de corredores todos os anos, desde iniciantes até atletas de alta performance.
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Esse aumento também reflete na busca por experiências autênticas e cada vez mais desafiadoras nas trilhas. As redes sociais muitas vezes preenchem esse espaço, com comunidades que compartilham dicas de treino, saúde, eventos, rotas e relatos de aventuras.
Há seis anos, o coletivo Trail Girls nasceu de forma despretensiosa. Na época, as idealizadoras Tamiris Monteiro e Ana Pagiossi realizavam treinões para correr de forma segura em ambientes que oferecessem a oportunidade de conhecer mais mulheres praticantes do esporte.
Hoje, o coletivo se destaca como uma das principais vozes no trail running feminino brasileiro, abordando diversas frentes, desde os aspectos mais técnicos da corrida em trilhas, a escolha de locais para treinos, até a discussão sobre a falta de acolhimento em provas já consolidadas.
Embora a representação feminina no trail running tenha evoluído bastante nos últimos anos, ainda há barreiras significativas relacionadas à falta de segurança, redes de apoio e outros aspectos para as mulheres continuarem praticando este esporte no Brasil.
É o que revela uma pesquisa inédita, promovida pelo Trail Girls, que traz não apenas os principais comportamentos e motivações das praticantes do trail run no Brasil, mas também traça um perfil detalhado das mulheres que se aventuram pelas trilhas do país.
Entre os meses de novembro de 2023 e fevereiro de 2024, foram colhidas percepções de mais de 500 mulheres na primeira pesquisa sobre comportamento feminino no trail run já realizada no Brasil.
“O trail run transformou a minha vida. Digo que quando corro em trilhas, eu canso o corpo e descanso a mente. Mas, além dessa parte prazerosa, existe um mercado emergente que carece de entendimento sobre o comportamento feminino nesse tipo de corrida”, detalha Tamiris Monteiro, que além de incentivadora do esporte, também é jornalista e ultramaratonista.
Tamiris afirma que a pesquisa nasceu do desejo de colaborar com o crescimento do esporte, já que um dos pontos que mais chama a atenção no Trail Girls é o impacto da segurança no cotidiano das mulheres que praticam o trail run. E a pesquisa confirmou isso, já que mais de 70% das entrevistadas revelaram que já deixaram de treinar sozinhas por se sentirem inseguras.
“Esse dado é alarmante e mostra que, apesar do crescimento do esporte entre mulheres, há barreiras significativas relacionadas à falta de segurança em locais públicos, o que afeta diretamente a frequência e a qualidade dos treinos”, acrescenta Ana Pagiossi, também responsável pela pesquisa.
Outro ponto de destaque, segundo Pagiossi, foi o fato de que 52% das corredoras relataram ter sofrido algum tipo de assédio enquanto corriam. Para ela, isso reforça a necessidade de criar ambientes mais seguros e acolhedores para que as mulheres possam praticar o esporte sem medo.
“A segurança é uma questão central, mas também percebemos a importância de redes de apoio: 21% das mulheres disseram que já deixaram de treinar por falta de incentivo ou aceitação do parceiro, e quase metade das mães indicou que a ausência de um suporte para cuidar dos filhos impacta diretamente sua rotina de treinos”, diz Ana.
“Esses números refletem os desafios que vão além das trilhas e nos motivam a continuar buscando soluções e parcerias que promovam mais inclusão no esporte.”
Por mais mulheres na trilha
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Com o trabalho de coletivos como o Trail Girls, o surgimento de novas atletas e a participação de cada vez mais mulheres nas provas, o trail feminino está em franca expansão no Brasil, e os números da pesquisa comprovam essa tendência.
Aproximadamente 60% das mulheres praticantes já correm há mais de cinco anos, e 58% delas já participaram de pelo menos dez provas de trail, dados que reforçam o envolvimento consistente e a experiência acumulada por essas atletas.
Quando questionadas sobre os motivos que as levam a correr, as respostas mais frequentes foram saúde e diversão, com 71% das entrevistadas afirmando que treinam mais de três vezes por semana.
A prática de viajar para competir também é forte entre as mulheres: 94% responderam que já viajaram com esse propósito, e 90% delas costumam combinar corrida e turismo, demonstrando que o trail run vai além do esporte, tornando-se uma experiência que une aventura e a descoberta de novos destinos.
“A pesquisa confirmou algo que já observamos em nossos treinos: correr não é apenas uma atividade física, mas uma forma de manter o equilíbrio emocional, se conectar com a natureza e, principalmente, fortalecer laços com outras mulheres que compartilham a mesma paixão”, destaca Pagiossi.
“Foi um projeto de muita dedicação e aprendizado, que nos permitiu amplificar as vozes dessas mulheres e, ao mesmo tempo, criar oportunidades para que o mercado e os organizadores de eventos passem a considerar com mais atenção suas necessidades e expectativas”, conclui a corredora.
Clique aqui para acessar a pesquisa na íntegra.