No clima do Tour de France, que começou neste sábado (26), listamos alguns percursos de bike no Brasil que não são pra qualquer um, assim como os da prova francesa que é a competição de ciclismo mais famosa do mundo.

O percurso do Tour de France, que literalmente contorna a França, tem 3.550 km e é dividido em 20 estágios, dos quais sete são etapas-perrengues que sobem os Alpes e os Pirineus, e que deixam os melhores atletas do mundo vesgos de cansaço.

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Esses percursos de bike no Brasil farão você sofrer, gemer, suar, reclamar, xingar…e depois fazer a dança da vitória no topo de cada morro, assim como os franceses.

1. Tudo que sobe, desce

Estrada da Petrobrás

Percurso total: 74 km (até Caraguatatuba) ou 85 km (até São Sebastião)

Subida acumulada: 1.858 metros

Desnível total: 450 metros

A trilha sai de Salesópólis (SP) e termina no litoral norte de São Paulo, em Caraguatatuba ou São Sebastião. Boa parte do caminho (inteirinho por terra) acompanha um rio de águas translúcidas, inclusive com excelentes pontos para um tibum na água fria, boa para as câimbras. Embora o destino final seja o mar, há muita ladeira antes do biker molhar os pés na água salgada: são 1.858 metros de subida acumulados em 450 metros de desnível.

Se decidir ir até São Sebastião, prepare-se para uma sensacional vista da praia de Maresias quando estiver no topo da serra. Mas não pense que para baixo todo santo ajuda. A descida é tão abrupta, inclinada e longa, que braços e dedos pedirão arrego. Um roteiro só para os mountain bikers valentões (ou valentonas).

2. Do inferno ao paraíso

Percursos de bike no Brasil: Itajubá (MG) a Campos do Jordão (SP)

Percurso total: 60 km

Subida acumulada: 1.367 metros

Desnível total: 900 metros

Pedalada por uma região conhecida como “a Suíça brasileira”. Por quê? Do que mais você se lembra quando pensa na Suíça, além dos queijos e bancos sem leis? Montanhas! O percurso brasileiro tem quase 60 km, 900 metros de desnível, 1.367 metros de subida acumulada, 75% em estrada de terra e praticamente nenhuma sombra.

Mas você conhece a história da cenoura amarrada na vara de pescar, balançando na frente do cavalo que puxa a carroça? Pois bem, você só segue barranco acima porque deseja as mordomias que Campos do Jordão oferece: hotéis e pousadas de luxo, restaurantes, bares, lojas, banheiras de hidromassagem, refeições principescas, camas com lençóis egípcios, chocolates e por aí vai. Mas antes de alcançar o paraíso, não deixe passar em branco uma das melhores surpresas do caminho, a represa de São Bernardo, na divisa de Minas Gerais com São Paulo: uma pequena usina hidroelétrica dos tempos do lampião a gás.

3. Ai que dor

Joanópolis (SP) a Monte Verde (MG)

Percurso total: 42 km

Subida acumulada: 1.118 metros

Desnível total: 700 metros

Diz a publicidade local que Joanópolis (SP) é a “pérola da Mantiqueira” e a cidade vizinha, Monte Verde (MG), um “brinco”. Talvez seja por isso que a dor que sentimos ao subir a montanha que liga os municípios seja equivalente a furar a orelha com um prego para depois usar um brinco de pérolas. São 700 metros de desnível, 1.118 metros de subidas acumuladas e quase 42 km em estradas de terra.

É comum passar um carro lotado de turistas gordinhos rindo da sua cara (mas lembre-se que quem ri por último, ri melhor). Irmã mais nova de Campos do Jordão, Monte Verde (MG) também tem aquele ar suíço e mordomias da boa. Ah, não deixe de apreciar uma enorme araucária (árvore típica das bandas frias do sul do país), que fica bem no meio (literalmente) da estrada de acesso à Monte Verde. Parece história de bêbado, mas dá gosto ver a árvore preservada, apesar do progresso automobilístico.

4. Paciência pra chuchu

Santo Antônio do Pinhal (SP) a Campos do Jordão (SP)

Percurso total: 38 km

Subida acumulada:1.097 metros

Desnível total: 550 metros

Também dá para chegar a Campos do Jordão (SP) partindo de Santo Antônio de Pinhal (SP), num percurso de 38 km pela subida da Cabana Norge, que passa por detrás da Pedra do Baú. O trajeto também acompanha um pedaço do ribeirão do Baú, que serpenteia por um vale verde indescritível. Em apenas 15 km, são 800 metros de desnível, com muita sombra e quase nenhum trânsito de carros. Asfalto, só mesmo dentro de Campos do Jordão e na rua principal de Santo Antônio do Pinhal.

A inclinação da subida final – com 11 km de extensão sem nenhum milímetro de trégua – dá a impressão inicial de que dá para subir um pouco mais rápido. Não cometa esse engano. Uma das principais qualidades de um bom biker-escalador é a paciência.

5. O rei da pedra

Bairro do Portão à Pedra Grande (Atibaia/SP)

Percurso total: 18 km

Subida acumulada: 1.147 metros

Desnível total: 600 metros

Você pára o carro no bairro do Portão (à beira da rodovia Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte, a uns 60 km da capital paulista), desce rindo e se prepara para a choradeira. Serão 18 km de subidas, com um desnível de 600 metros, 1.147 metros acumulados de subida e 70% do percurso em estrada de terra. Quando alcançar o alto da Pedra Grande, pode dançar e pular à vontade, sem pudor ou vergonha, pois você merece.

E saiba que a Pedra Grande – um ponto concorrido dos adeptos do vôo livre, parapente e escalada – não vende gato por lebre: é uma pedra grande mesmo. Só tenha paciência com os carros no trecho final de 2 km. Também não esqueça a máquina fotográfica para registrar a clássica pose como o Rei da Montanha, no melhor estilo Tour de France.

6. Pequena, mas tinhosa

Percursos de bike no Brasil: Trilha da Placa na Serra do Japi (Jundiaí/SP)

Percurso total: 9 km

Desnível total: 300 metros

A Serra do Japi é aquela montanha verde do lado esquerdo da rodovia Anhangüera (para quem vem da capital) na altura da cidade de Jundiaí (SP). Reduto de mountain bikers batatudos (aqueles com as batatas das pernas hipertrofiadas), a subida me lembra um “causo” com um amigo meu: nós dois olhávamos uma cobra coral e tentávamos adivinhar se ela era verdadeira ou falsa. Eu comentei: “ela é tão pequena”. Ele retrucou: “pequena, mas tinhosa”.

A trilha da Placa é a coral dos mountain bikers: são apenas 300 metros de desnível e um percurso de 9 km de subida. O problema é a inclinação da subida, que está no limite do possível. Fora as erosões, galhos, raízes, pedras soltas, falta de sombra e as motocas off-road que, de vez em quando, te obrigam a se jogar no mato. A tal “placa” do nome é um sinalizador vermelho e branco, quadriculado, para os aviões desavisados. Sofrimento? Pode crer! Mas se precisar de companhia pode me chamar.

 

*Guilherme Cavallari é autor da coleção Guia de Trilhas EnCICLOpédia. Estes e outros roteiros estão em detalhes – com mapas, planilhas, fotos e altimetrias – nos livros da coleção, publicados pela editora Via Natura.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de julho de 2007 – atualizada em novembro de 2018)