QUANDO RESOLVER conhecer o Uruguai, é provável que só se dê conta do quanto o país e seus atrativos estão perto de você na hora de ver o tempo total de voo até a capital Montevidéu, saindo de São Paulo: menos de três horas.
São infinitas as opções de exploração (todas regadas a muito mate!) em um bioma tão lindo e próximo, se estendendo por todo o país, rodeado por pampas da Argentina e do extremo sul do Brasil, ali na famosa cidadezinha que decreta o fim das fronteiras brasileiras, Chuí.
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O segundo menor país da América do Sul tem pouco mais de 3 milhões de habitantes, 1,7 milhão dos quais vivendo na capital.
O tamanho diminuto, entretanto, dá conta de guardar muita cultura, natureza e conquistas sociopolíticas vanguardistas: foi o primeiro na América Latina a instituir o voto para a mulheres, em 1927, a permitir o aborto em casos de violência ou risco de morte da mãe (1938, legalizando o procedimento antes de 12 semanas de gestação em 2012), a reconhecer o casamento gay (2013) e a legalizar o uso da maconha (2017).
Ali, espremido entre Brasil e Argentina, oferece espaço de sobra para seus visitantes, em cenários estupendos que variam de praias a montanhas, perfeitos para uma road trip com um porta-malas completo: prancha de surf, remo, bike, bota, mochila e o chimarrão, claro.
Para quem vem de Porto Alegre e tem mais tempo, a viagem de carro pode valer a pena. A distância até Punta del Leste, por exemplo, é de cerca de 700 km. Mas é preciso ficar atento a alguns detalhes, como a Carta Verde, exigida para quem cruza a fronteira dirigindo.
Funcionando como um seguro de responsabilidade civil obrigatório, que tem o objetivo de proteger terceiros afetados por acidentes de trânsito durante o período da viagem, todo condutor deve tê-la em mãos. É possível fazer o seguro na fronteira, mas o ideal é não deixar para a última hora.
Chegar de avião por Montevidéu e alugar um carro a partir dali é uma boa ideia para quem calcula uma viagem com cerca de cinco dias de duração. E, nesses casos, para quem aluga um carro e circula dentro país, a Carta Verde não é necessária. O aeroporto possui boas agências, mas é sempre melhor fazer uma reserva antecipadamente.
A capital do Uruguai fica às margens do rio da Prata. Ali, ele tem cerca de 100 km de largura e desaparece atrás do horizonte assim, como se fosse o mar, dando a sensação de estarmos à beira do oceano.
Os largos calçadões com as ruas bem próximas à água quase traz um cheiro de sal, que entra pelas janelas abertas do carro. Mas não: é uma cidade litorânea sem água salgada, com praias e areia. Fora dali, no entanto, o país oferece mais de 660 km de praias em rotas que vão beirando o mar e passando por cidadezinhas bem charmosas. As condições das estradas ajudam, e a escolha da rota só vai depender mesmo do seu objetivo principal.
Pela manhã, um vai e vem de carros com pranchas de surf domina as rodovias. Isso porque as condições do mar são ótimas para o esporte e variam de ponto a ponto, servindo a todos os níveis de surf. O litoral uruguaio é bastante recortado, possibilitando diversas combinações de swell e vento para a formação de boas ondas.
A rota perfeita para quem busca uma surf trip ou um roteiro de praias começa a partir de Punta del Este. A cidade combina um certo clima cosmopolita com natureza. Entre grandes hotéis, diversos restaurantes, vida noturna e cassino, estão praias em vilarejos como José Ignácio, El Emir e La Virgen, points para boas ondas e lugarzinhos secretos que você só descobre curtindo um dia no mar com os surfistas locais.
Depois de uma parada ali, dá para seguir viagem para praias como Santa Tereza, La Paloma, La Pedrera e Punta del Diablo, todas bem próximas umas das outras, com cidadezinhas muito gostosas para passar o resto do dia.
Qualquer que seja o objetivo da viagem, o Parque Nacional de Cabo Polônio é imperdível. Área protegida desde 2009, o lugar é um ponto de observação de baleias e animais marinhos, sem acesso a carros (é preciso pegar uma jardineira do próprio parque para circular), cercado por dunas e praias desertas. Você vai conhecer uma vila rústica, bem diferente do resto do país.
O clima subtropical é ameno e agradável, com relevo suave, altimetrias amistosas, mas na medida certa para um mountain bike ou hike moderados. A menos que você escolha uma cicloviagem para cruzar a parte oceânica (o que também é fantástico), a boa pedida ali é pedalar ou caminhar visitando as fazendas e vinícolas da região, berço das uvas Tannat.
Situada no sul do Departamento de Maldonado, também ao sul do Uruguai, a Serra de los Ánimas traz um cenário de cordilheiras. Ali está o segundo ponto mais alto do país, um morro chamado Cerro de las Ánimas, com 501 metros de altitude. Além das vinícolas, vale conhecer os domos para passar a noite e observar as estrelas da cama, no coração da serra.
O mais estruturado é o Pedra de los Ánimas, com domos de vários tamanhos e restaurante de comida típica local. É um belo ponto para rodar de bike e explorar melhor a região toda. A Rota 60 é a principal da serra e nos presenteia com paradas em sítios arqueológicos, poços azuis, cachoeiras e morros, como o conhecido Pan de Azúcar (sim, o Uruguai também tem o seu).
A ideia de buscar destinos de natureza é uma atitude que nos liberta da rotina desgastante da cidade. E não só para períodos de férias, mas como fuga e resgate da saúde mesmo. Da próxima vez que bater vontade de escapar, lembre-se desse vizinho, que está logo ali, aberto e generoso nas suas possibilidades. Uma rota completa, o Uruguai pode ser um dos menores países do continente, mas entrega tudo de melhor.
Matéria originalmente publicada na revista Go Outside 175.