Um estudo publicado na revista Plos One, no início deste mês, revelou que pedalar pode melhorar os tremores de quem tem doença de Parkinson, reduzindo e organizando a atividade cerebral, além de ativar sistemas que produzem dopamina.
A pesquisa, liderada por cientistas das universidades federais do Rio Grande do Norte (UFRN) e do Paraná (UFPR), em colaboração com instituições do Reino Unido, também mostra como o exercício pode contribuir para evitar doenças degenerativas de maneira geral.
Veja também
+ “Catastrófico”, furacão Milton se aproxima da costa da Flórida
+ As perguntas mais hilárias que os viajantes fazem aos guias
+ 4 trilhas de bike em Campos para você treinar para o Rocky Mountain Games
O estudo analisou a atividade elétrica do cérebro de 24 participantes saudáveis, utilizando eletrodos colocados no couro cabeludo. Os pesquisadores registraram a atividade cerebral dos voluntários tanto em repouso, por dois minutos, quanto pedalando pelo mesmo período.
Para o experimento, foram utilizadas bicicletas ergométricas, que facilitam a medição da atividade cerebral por não exporem a pessoa ao ruído externo, como ocorre nas ruas, explica o neurocientista John Fontenele Araújo, professor titular da UFRN e responsável pelo estudo.
Segundo o neurocientista, a atividade cerebral de uma pessoa pedalando é menor e mais organizada do que quando ela está em repouso. Isso acontece porque, enquanto a pessoa pedala, o cérebro consegue se concentrar na ativação de um conjunto de neurônios específicos, afirma Araújo.
Enquanto a pessoa está de repouso, o cérebro não está parado, ele está se preparando para fazer alguma coisa. Na hora de pedalar, menos neurônios são ativados porque será colocado em prática um conjunto específico deles”, disse Araújo em depoimento reproduzido pelo jornal Folha de S.Paulo.
O achado pode ter impacto significativo no tratamento de pessoas com Parkinson, uma doença crônica e neurodegenerativa caracterizada pela morte de neurônios em uma área do cérebro que produz dopamina, neurotransmissor crucial para controlar os movimentos e transmitir informações entre cérebro e corpo.
Segundo Araújo, o movimento simultâneo das pernas durante o pedal estimula os sentidos e ativa circuitos que liberam dopamina, o que ajuda a diminuir os sintomas da doença. “Isso explica a redução dos tremores ao pedalar”, destaca. Além disso, ele reforça que pedalar pode ajudar a prevenir doenças degenerativas em geral, ao reorganizar a atividade cerebral. Ele ressalta que o exercício não precisa ser intenso para ativar os circuitos de dopamina.
Em relação aos sintomas do Parkinson, como os tremores, pedalar tem um efeito imediato, segundo Araújo. “Um paciente está tremendo e, ao começar a pedalar, o tremor desaparece na hora, é uma coisa espetacular”, afirma.
A longo prazo, pedalar pode diminuir os tremores, mas não eliminar totalmente, segundo o neurocientista. Mesmo que os sintomas não diminuam por completo, a expectativa é melhorar a qualidade de vida do paciente, “diminuir a agressividade da doença, e talvez, daqui a cinco ou 10 anos, esses pacientes terão condição de serem submetidos a novos tratamentos medicamentosos, que possam parar o desenvolvimento”, explica o profissional.