Moradores do Paquistão estão ressuscitando uma prática antiga para lidar com o iminente derretimento das geleiras do Himalaia devido ao aquecimento global.
Com mais de 7 mil geleiras, a região de Gilgit-Baltistan é chamada de “a terra dos glaciares”, mas onde alguns estão desaparecendo, está sendo usada uma técnica secular que também envolve um pouco de folclore local.
Recentemente, uma equipe de reportagem da National Public Radio (NPR) dos EUA foi ao país conhecer esta prática peculiar, onde os habitantes tentam criar “bebês glaciares” introduzindo glaciares “machos” em glaciares “fêmeas”.
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Primeiro, deve ser encontrado um local apropriado – uma caverna ou um poço profundo em uma montanha situada a pelo menos 4.000 metros acima do nível do mar, onde as temperaturas permanecem abaixo de zero ao longo do ano. Queda de neve e avalanches devem ser comuns, sem exposição direta à luz solar.
A história local registra que uma figura religiosa, Ameer Kabir Syed Ali Hamdani, visitou Gilgit-Baltistan no início do século XIV e realizou o primeiro “enxerto” de glaciares, acompanhado de uma oração a Deus para que o gelo crescesse e bloqueasse a passagem de povos inimigos.
Agora, os habitantes fazem isso na esperança de criar novas fontes de água potável e para prosperar uma nova geração de geleiras, substituindo aquelas que, segundo os habitantes locais, encolheram consideravelmente ao longo dos últimos anos.
Depois de achar o local adequado, os moradores têm a missão de unir pedaços de gelo de glaciares brancos, que a tradição local considera serem glaciares fêmeas, e glaciares marrons, que são considerados glaciares machos (são marrons devido ao solo e a acumulação de material rochoso).
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Para o artigo da NPR, foi exatamente isso que a equipe de homens da aldeia de Chunda, liderada pelo líder Saeed Baltistani, fez.
Há dois anos, eles partiram em uma jornada de quatro dias para recuperar o gelo feminino, que os aldeões quebraram com martelos até que alguns pedaços se soltassem. Para o gelo masculino, o parceiro de Saeed, Malik, levou outros homens ao K2, a segunda montanha mais alta da Terra.
Quando a repórter Diaa Hadid, da NPR, visitou o glaciar dois anos depois, os habitantes locais pareceram desapontados no início, porque o pequeno glaciar não havia crescido muito. Mas eles notaram que o solo ao redor havia congelado e que o gelo já havia começado a avançar sobre algumas grandes pedras próximas.
Métodos indígenas de preservação de glaciares estão sendo investigados pela ONU como uma espécie de paliativo diante das mudanças climáticas. Este método de reprodução de glaciares exige pouco esforço e apenas alguns dias para reunir o gelo necessário. Ele também pode ser implantado em vários lugares.
Segundo os aldeões locais, é preciso 24 anos para o gelo se tornar um glaciar de fato e mais 24 anos para que ele comece a se mover.
Liaquat Ali Baltee, um documentarista e morador de Skardu, disse: “As pessoas de Gilgit-Baltistan acreditam que os glaciares são entidades vivas. É por isso que uma combinação de gelo masculino e feminino para eles é absolutamente necessária. O glaciar masculino, chamado ‘po gang’ localmente, libera pouca água e se move lentamente, enquanto um ‘glaciar feminino’ – ou ‘mo gang’ – é um glaciar em crescimento que libera muita água.”