A paixão pela estrada dos nômades digitais do “Love & Road”

Rob e Nat na Tailândia

Como um casal de brasileiros largou casa e empregos para viajar e trabalhar sem endereço fixo

Por Verônica Mambrini*

Os brasileiros Robson Cadore, 37, e Natalie Deduck, 34, são um interessantíssimo exemplo de nômades digitais que se sentem confortáveis e satisfeitos em uma nova rotina de viajantes após largarem seus empregos. Conheceram-se há anos, em Santa Catarina, casaram um tempo depois, construíram uma casa do jeito que queriam e viviam felizes, com animais de estimação e amigos. Mas faltava algo. Um dia Rob pediu para conversar com Nat e ela gelou: a moça também sentia a mesma coisa. O amor de um pelo outro continuava forte, porém era preciso se lançar em novas conquistas, novos horizontes – faltava a estrada. “Por fora parecia tudo perfeito, mas na real a gente sabia que não estava feliz. Começamos a pensar em como viver viajando e fazer essa conta fechar”, conta Nat.

Há três anos eles correm o mundo à frente do projeto Love & Road, que se desdobra em site, Instagram e Facebook, nos quais registram suas viagens, muitas vezes convidados por hotéis, secretarias de turismo e agências que querem divulgar destinos. As antigas funções de Rob em comércio exterior e Nat em salão de beleza ficaram para trás, porém o casal levou consigo o amor pelos esportes – mesmo sem endereço fixo, treinam diariamente, e Rob até mesmo se preparou para um Ironman recentemente, correndo, pedalando e nadando em vários países.

Mas nem tudo é sempre azul na rotina de quem saiu do escritório e resolveu fazer da estrada a sua nova casa. “Parece tudo muito fácil nos blogs. A pessoa voa para Chiang Mai, na Tailândia, a meca dos nômades digitais, fica rica e vive feliz para sempre trabalhando na beira da piscina com vista para o mar”, diverte-se Nat. Ok, alguns dias são assim, mas não todos. Uma boa parte do tempo o casal passa ralando atrás do computador, como boa parte da galera que ainda vive no esquema das 9h às 18h.

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Até virarem blogueiros profissionais e começarem a ter renda com isso, enfrentaram muitos erros e acertos. “A gente poderia ter se preparado melhor antes de começar com marketing digital, algo que acabamos aprendendo na prática,” conta Rob. Além das viagens para divulgar destinos, topam outras funções, como cuidar de casas e bichos de estimação enquanto os donos viajam em troca de hospedagem. “Estamos no terceiro ano nessa rotina e agora achamos um equilíbrio: dois ou três meses trabalhando mais pesado e programando a próxima viagem e depois um mês viajando sem parar, coletando material”, diz Nat.

Para partir, eles exercitaram o desapego e reduziram os pertences a duas mochilas com 17 kg cada uma, que baixaram para 10 kg conforme deixavam para trás itens desnecessários. Por outro lado, para produzir conteúdo de qualidade e boas fotos, a bagagem precisou engordar de novo. “Vimos a necessidade de ter um bom equipamento de fotografia, porque começamos a produzir mais imagens. Adquirimos tripé, GoPro, HD, mais cabos. Ficamos mais estilosos”, diverte-se Nat. O tempo de trabalho é consumido escrevendo textos, produzindo e editando fotos, promovendo o blog e estudando maneiras de monetizá- lo, avaliando propostas, pesquisando o melhor dos futuros roteiros e cuidando da burocracia, já que algumas coisas simples como cancelar um cartão perdido e pedir um novo podem se tornar um problema quando você está do outro lado do mundo.

No início, acharam que poderiam emendar uma viagem na outra. Estavam totalmente enganados. “Era uma maluquice, a gente mudava de lugar toda semana. Depois descobrimos como isso atrapalhava. Só quando começamos a ficar pelo menos um ou dois meses em um lugar é que conseguimos trabalhar de verdade”, conta Nat. “No primeiro ano só gastamos dinheiro, no segundo passamos a ganhar também”, conta Nat.

É essa disciplina aprendida no dia a dia que permite que os dois tenham alguns luxos de uma “vida normal” – como treinar sempre. “Eu fiz a Maratona de Paris em 2015, um Ironman na Malásia em 2015, uma meia maratona no Camboja em 2014 e a Maratona de Cingapura”, conta Rob. Ele segue planilhas enviadas pelo treinador no Brasil, e os dois encaixam a atividade física em academias e sessões ao ar livre, na rua. No Ironman, por exemplo, ele alugou uma bike para o dia da prova. E nos treinos muitas vezes pede uma bicicleta emprestada de amigos. “Não vale a pena ficar carregando equipamentos pesados na mala”, diz.

E às vezes não bate saudade dos amigos, de casa, da família? “Eu não trocaria minha vida de hoje por nada. Trabalhamos muito, mas de repente pegamos um pôr do sol incrível em uma ilha distante da Tailândia”, diz Nat. “Sem esses momentos mágicos, a gente se afasta do objetivo principal, que é ser feliz.”

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*Reportagem publicada na edição nº 150 da revista Go Outside, abril de 2018.







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