Escalador italiano de elite Cristian Brenna morre após queda no Monte Biaina

Por Federico Bernardi, para a Climbing/Outside USA

Escalador italiano de elite Cristian Brenna
Foto: Richard Felderer

Cristian Brenna será lembrado não apenas por seu talento extraordinário na escalada, mas também por suas qualidades humanas profundas.

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Cristian Brenna, de 54 anos, alpinista italiano de destaque, escalador esportivo extremamente talentoso e guia de montanha, faleceu tragicamente em 3 de junho de 2025, após um acidente no Monte Biaina, nas proximidades de Arco, na Itália. Por volta das 11h, enquanto percorria uma crista a 1.350 metros de altitude com um companheiro, Brenna teria tropeçado na trilha, escorregado por uma encosta arborizada e caído sobre rochas mais abaixo. Seu parceiro, sem conseguir alcançá-lo, acionou os serviços de emergência.

As equipes de resgate chegaram rapidamente, com apoio de um helicóptero, socorristas locais e colegas do Soccorso Alpino da Guardia di Finanza (SAGF), corporação da qual Brenna fazia parte. Apesar dos esforços da equipe médica para reanimá-lo, sua morte foi confirmada no local. A perda súbita e inesperada — ocorrida não durante uma escalada extrema, mas em uma descida considerada não técnica — serve como lembrete dos riscos inerentes ao ambiente de montanha, mesmo para os mais experientes.

Nascido em Bollate, em 22 de julho de 1970, Cristian Brenna começou na escalada esportiva aos 15 anos e entrou para o circuito da Copa do Mundo em 1991. Alcançou grande sucesso competitivo, incluindo uma vitória na etapa da Copa do Mundo em Courmayeur (1998) e diversos pódios, chegando ao segundo lugar geral em 1998 e ao terceiro em 1996 e 2000. Também conquistou duas medalhas de prata no Campeonato Europeu de Dificuldade (1998 e 2000) e uma prata na Velocidade (1992), demonstrando versatilidade notável. No cenário nacional, foi tricampeão italiano.

Em 2005, Brenna se aposentou das competições para se dedicar ao alpinismo exploratório. Essa transição do ambiente estruturado das competições para os desafios imprevisíveis da alta montanha foi uma mudança marcante, mas não surpreendente para seus parceiros. Seu primeiro grande projeto foi o “UP-Project”, no Paquistão, em 2005, onde abriu e encadenou Up & Down (7c/5.12d) no escudo do Chogolisa, a 5.000 metros de altitude.

Em 2003, realizou a primeira ascensão em livre de Itaca nel Sole (8b/5.13d tradicional) no Valle dell’Orco. Também escalou Bellavista (8b+/5.14a; 450 m) nas Tre Cime di Lavaredo com Mauro “Bubu” Bole em 2002. Já em fevereiro de 2008, ao lado de Hervé Barmasse, fez a primeira ascensão da via La Ruta del Hermano (A3 6b+/5.10d; 850 m) na até então inexplorada face noroeste do Cerro Piergiorgio, na Patagônia — resolvendo um antigo desafio da escalada.

Além da carreira como escalador, Brenna era guia de montanha (Guida Alpina), socorrista no Soccorso Alpino da Guardia di Finanza e técnico da seleção italiana de escalada esportiva. Também era membro do famoso clube de escalada Ragni di Lecco.

Para ele, as montanhas eram “divertimento, passar bons momentos com os amigos e viver experiências intensas”, destacando que o verdadeiro montanhista precisava de “completude e polivalência”. Para Brenna, o sucesso era algo profundamente pessoal — uma questão de se sentir bem consigo mesmo, e não apenas de reconhecimento externo.

Cristian deixa sua esposa, Jana, e seus filhos, Filippo e Sofia — esta última campeã nacional de escalada.

Cristian Brenna será lembrado não apenas por sua extraordinária habilidade como escalador, mas também por suas qualidades humanas marcantes. Foi descrito como “uma inspiração, um símbolo de paixão pura, força tranquila e dedicação”. Amigos e colegas, em diversas homenagens online, ressaltaram seu “sorriso constante” e “alegria de viver”, descrevendo-o como “educado, sensível, irônico e humilde”.

Conversei com o veterano escalador Riki Felderer, amigo próximo de Brenna, que falou sobre o vazio imenso deixado por sua partida. Felderer disse que era difícil encontrar palavras que não soassem como clichê para descrevê-lo, acreditando que “um livro não seria suficiente para contar sua história”. Uma história que, segundo ele, seria “feita de anedotas, grandes feitos e pequenas bobagens que revelariam um homem especial, longe da perfeição — como, na verdade, todos somos!” Mas, acima de tudo, “ele era um amigo”.

Fabio Palma, ex-presidente dos Ragni di Lecco, lembrou da forma imediata e calorosa com que Brenna cumprimentava todos. Palma conta que Brenna era conhecido por seus fortes princípios éticos, incluindo o desprezo pelas “injustiças meritocráticas e pelas lamúrias sobre o cansaço”.

Lucia Furlani, jovem escaladora que foi treinada por ele, disse que ele era “muito mais” do que um técnico — “um guia, um exemplo concreto a ser seguido, um ponto de referência”. Sua capacidade de escutar e apoiar criou um “vínculo verdadeiro e sincero”. Por meio de seus ensinamentos, transmitiu “garra e vontade”, incentivando os atletas a vencerem “aquelas [batalhas] contra nós mesmos”. Sua força, afirmam, seguirá viva “em cada batida do nosso coração”.