Faleceu na manhã de hoje (29) Alexandre Freitas, que trouxe a corrida de aventura para o Brasil. Ex-atleta, Alexandre trouxe o conceito para o país há mais de 20 anos, em 1998, a Expedição Mata Atlântica, conhecida no meio outdoor apenas por EMA. Ele tinha 59 anos. Alexandre acordou indisposto e não quis levantar para iniciar a rotina de exercícios que mantinha sua qualidade de vida – em 2002, participando do Eco Challenge Fiji, ele pegou um parasita que quase o matou e deixou sequelas com as quais conviveu pelo resto da vida.
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“É um mito, alguém que trouxe a corrida de aventura para o Brasil. O pai da corrida de aventura. Ele experimentou, gostou, e decidiu empreender. Tudo que veio depois é um legado dele”, conta o amigo e corredor de aventura Rafael Campos. Freitas lançou a EMA em 1998. “Hoje a corrida de aventura é mais comercial, tem provas de entrada, pequenas, de 3h ou 5h. Quando tudo começou, ele criou uma prova de 300 km. Era um visionário, louco, e conseguiu chamar pouco mais de 20 equipes para a primeira edição. A segunda tinha 30 equipes, e eu já participei dela”, conta o amigo.
Além de inaugurar o esporte no país, Alexandre Freitas fundou a Sociedade Brasileira de Corrida de Aventura e realizou dezenas de provas, entre distâncias mais curtas e alguns EMA. Durante o Eco Challenge Fiji, ele foi contaminado pelo parasita Angiostrongylus Cantonensis, que usa caramujos como hospedeiros para depois infectar peixes, verduras cruas e água.
A infecção de Alexandre foi grave: além do mal estar intestinal, ele teve danos permanentes no sistema nervoso, quase perdeu a visão totalmente (recuperada em parte com cirurgias posteriores), parte da audição e chegou a ficar 3 meses internado em coma ao retornar, em um hospital em São Paulo. Entre os 400 atletas que participavam da edição de 2002 do Eco-Challenge, nas ilhas Fiji, três foram contaminados pelo parasita. Duas pessoas não tiveram grandes problemas, mas Alexandre teve a medula invadida pelo bicho, que procriou e provocou um tipo forte de meningite. “Quase morreu, mas teimoso, resiliente, não se entregou. Ele foi desacreditado por médicos mas saiu dessa. A cabeça continuava ativa igual, e continuou trabalhando, fazendo fisioterapia e exercícios para não perder mais ainda a parte motora”, conta Rafael.
“O Alexandre era um visionário. Sabia da vocação do Brasil para os esportes de aventura e resolveu largar a vida no ambiente corporativo para investir em trazer um esporte inédito até então aqui, a corrida de aventura!, conta o amigo e corredor de aventura Zé Pupo. “Para isto foi para o exterior participar de provas e investiu montando uma empresa organizadora de corridas, que esteve em amplo crescimento até acontecer o acidente que limitou sua vida e a atuação no mercado. Mas o legado ficou, e as corridas continuaram prosperando no Brasil.”
Depois do incidente no Ecochallenge Fiji, Alexandre Freitas passou a seguir uma rotina que o ajudasse a recuperar ao máximo a saúde e a mobilidade, e organizou ainda diversas provas, em paralelo a administrar o patrimônio conquistado como investidor nos tempos do banco Síntese, fundado por ele e vendido em 1999 quando decidiu se dedicar às corridas de aventura.