Meu amor pelas montanhas: um desejo para o Dia Internacional da Montanha

Por Verônica Mambrini, editora da Go Outside

amor pela montanha
Imagem: arquivo pessoal/ Verônica Mambrini

Eu lembro exatamente qual foi minha primeira montanha: o Pico dos Marins. Certamente eu já tinha subido em outras montanhas antes, como turista, e feito outras trilhas de maneira mais informal. O Marins é um pico de 2.420 metros no interior de São Paulo, com acessos pelos municípios de Piquete e Marmelópolis. Já faz parte da serra que se tornou um dos meus lugares mais amados no mundo: a Mantiqueira. E despertou imediatamente meu amor pelas montanhas.

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Eu tive um mestre incomparável nessa primeira noite em um cume: o escalador e guia de montanha Davi Marski, que anos depois faleceu ao ser atacado por um enxame de abelhas durante uma escalada. Foi quase por acaso: eu fui parar naquela viagem graças à amigos em comum com Marski. Ganhei de presente a possibilidade de aprender as primeiras técnicas com uma pessoa que verdadeiramente amava as montanhas e escolheu-as como primeira casa, passando quase tanto tempo nelas do que na cidade, se não mais.

Como usar corretamente um bastão de caminhada, como pisar na rocha de forma a aproveitar ao máximo a aderência para vencer trechos íngremes, como ouvir e ler a trilha. Além de outros aprendizados pela dor: eu fui com o equipamento que eu tinha, mais “mateiro” do que montanhista. Passei um frio horrível durante a noite, porque não tinha roupas quentes o suficiente, nem um saco de dormir parrudo. Mas arrasei na cozinha outdoor pra galera (fiz estrogonofe no fogareiro, com direito a arroz fresquinho e batata palha!), então ao menos uns pontinhos eu garanti no que seria o começo da minha vida de montanhista.

Depois do Marins, vieram tantas. No Parque Nacional do Itatiaia, o Pico das Agulhas Negras, as Prateleiras, o Morro do Couto. Não só o amor pelas montanhas, mas também pelos refúgios de montanha e pelo laço invisível que nos une a quem está neles, buscando as mesmas coisas. Cordilheira dos Andes: o complexo do Condoriri e o Huayna Potosí na Bolívia, cumes no deserto no altiplano andino entre Bolívia e Peru. As primeiras montanhas nos Alpes italianos, como o Monviso e o Parque Nacional Gran Paradiso. Pequenas e adoráveis montanhas, como o Pico do Lopo em Extrema, e outros pequenos cumes quase desconhecidos na Mantiqueira, em cidades encantadoras de roça.

É difícil dizer o que alimenta meu amor pelas montanhas: às vezes, o desafio, seja ele físico, mental ou logístico. A paz do silêncio. As amizades e o bate papo que florescem nas tantas horas divididas quando sua vida está mergulhada nos mesmos elementos que seus companheiros. O PF de arroz e feijão e a cerveja na volta depois de uma dura travessia, os mais gostosos do mundo, sempre. O banho depois de vários dias sem ele, para deixar a sensação de ter virado um saruê do mato para trás. Ver o sol nascendo antes do resto do mundo, ver a noite caindo depois de pores-do-sol sem igual. A poesia da vida que surge frágil e delicada entre rochas e condições meio inóspitas nas altas cotas. A certeza de que na montanha se tem tudo, e que se precisa de muito pouco.

Neste texto um pouco diferente de Dia Internacional da Montanha, eu desejo muitas delas para todo mundo que compartilha desse amor pela montanha. Que a gente entenda o valor inestimável desta fonte de vida, que recolhe e cria reservas de águas que permitem nossa existência, que protegem as florestas dos vales, que inspiram o sonho humano e que impulsionam para frente nossa fome de desafios. Nossas montanhas merecem nosso respeito e cuidado.

 







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