Em 2018, escrevi um artigo sobre uma nova pesquisa que mostrava que o treinamento de mindfulness poderia melhorar o desempenho mental e físico de atletas de elite.
Foi uma época agitada para o mindfulness, e meu artigo era apenas um entre muitos sobre o assunto. Desde então, o hype diminuiu — o interesse caiu cerca de um terço desde 2020, de acordo com o Google Trends — mas as evidências de que o mindfulness e outras formas de meditação trazem benefícios reais continuam a se acumular de forma discreta.
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O exemplo mais recente: um novo estudo publicado no Journal of Sports Sciences, realizado por uma equipe de pesquisadores da Universidade Nacional de Taiwan, liderada por Yu-Kai Chang. Chang e seus colegas compararam dois grupos de atletas, um com experiência em meditação e outro sem, e encontraram diferenças marcantes em como lidavam com a fadiga mental e mantinham o foco durante exercícios de resistência.
Os participantes do estudo — 24 meditadores e 25 não-meditadores — eram todos atletas sérios, praticando esportes como atletismo, judô e luta. Eles tinham, em média, 20 anos e treinavam cerca de 16 horas por semana. Três quartos dos participantes eram homens e um quarto, mulheres. Eles apresentaram desempenhos semelhantes em um teste cognitivo que envolvia lembrar uma série de dígitos.
Em outras palavras, os dois grupos eram muito bem equilibrados em todos os aspectos, exceto um: os meditadores relataram passar, em média, 41,7 minutos por semana meditando, e já faziam isso pelo menos uma vez por semana há um ano ou mais. Para serem elegíveis para o estudo, a meditação deles precisava se enquadrar em uma de duas categorias: atenção focada (manter atenção contínua em um objeto específico) ou monitoramento aberto (focar no que surge no momento presente). Os meditadores, como esperado, também pontuaram ligeiramente mais alto em um questionário que avaliava seu nível típico de mindfulness na vida cotidiana.
Para descobrir se havia uma ligação entre meditação e desempenho em resistência, o protocolo do estudo envolveu uma tarefa de computação mentalmente desgastante (mais detalhes abaixo), seguida de uma tarefa cognitiva que avaliava o “controle inibitório” e, por fim, um teste progressivo de esteira até a exaustão. Controle inibitório é o que nos permite manter o foco, ignorar distrações e resistir a impulsos que interferem em nossos objetivos. De certa forma, o lado mental da resistência atlética é um grande teste de controle inibitório — então você pode pensar no protocolo do estudo como um teste de controle inibitório baseado em computador seguido de um teste semelhante na esteira.
O papel da fadiga mental
No início de uma maratona, você pode estar hiper-motivado para correr até o limite. No quilômetro 32, seu corpo implora por alívio — e, na maioria das vezes, sua mente não está mais tão focada em esgotar toda a energia que ainda resta. É difícil manter-se firme, pois exige muita concentração, e essa concentração tende a diminuir com o tempo. Nos últimos anos, cientistas do esporte têm tentado desvendar as causas exatas dessa fadiga mental — uma teoria sugere que está relacionada ao acúmulo de uma substância química no cérebro chamada adenosina — e estão buscando maneiras de combatê-la.
Neste estudo, os pesquisadores usaram uma tarefa chamada Teste de Stroop para aumentar a fadiga mental dos participantes. Uma palavra de cor (VERMELHO, VERDE, AZUL ou AMARELO) aparece na tela. As letras são exibidas em uma dessas cores, e você precisa pressionar rapidamente um botão correspondente à cor das letras. O problema é que a cor das letras não corresponde à palavra (VERMELHO pode aparecer em letras verdes, por exemplo). Você precisa inibir sua resposta automática ao significado semântico da palavra para responder apenas à cor das letras. Isso é mentalmente desgastante, e, após meia hora, demonstrou reduzir tanto o desempenho mental quanto o físico.
Na condição de controle, os participantes fizeram o mesmo Teste de Stroop por meia hora, mas com as cores e palavras correspondendo, de modo que não desafiava tanto a inibição de resposta. Pesquisas anteriores mostraram que meditadores experientes têm melhor controle inibitório, então os pesquisadores levantaram a hipótese de que o grupo de meditação se sairia melhor após a versão mentalmente desgastante do Teste de Stroop.
Meditação e desempenho de resistência
Os resultados foram mais ou menos o que os pesquisadores esperavam. Para os atletas, o principal resultado foi o desempenho no teste de esteira até a exaustão. Veja como a meditação afetou o desempenho de resistência dos atletas com experiência em meditação (AME) e dos atletas sem experiência em meditação (AWME):
Na condição de controle (à direita), que foi precedida pelo Teste de Stroop não desgastante, os dois grupos foram aproximadamente iguais. Na condição de fadiga mental (à esquerda), os meditadores produziram quase o mesmo desempenho, enquanto os não-meditadores desistiram 4% mais cedo. Houve resultados semelhantes no teste de computador que avaliou o controle inibitório: os não-meditadores pioraram quando estavam mentalmente fatigados, e os meditadores não.
Existem duas maneiras de interpretar esses resultados para meditação e desempenho de resistência. Uma é que os meditadores, com sua inibição de resposta superior, não acharam o Teste de Stroop mentalmente desgastante, então seu desempenho subsequente não foi afetado. A outra é que os meditadores ficaram mentalmente fatigados, mas sua inibição de resposta superior permitiu que superassem a fadiga e continuassem na esteira. Se você observar suas avaliações subjetivas de fadiga mental em várias fases do protocolo, parece que há um pouco dos dois: os meditadores tiveram níveis mais baixos, mas não nulos, de fadiga mental, e não permitiram que isso afetasse seu desempenho na esteira.
Uma das minhas perguntas sobre a pesquisa de meditação para esportes sempre foi se a meditação ajuda mais do que o treinamento regular já faz. Claro, você pode melhorar seu controle inibitório sentado em um tapete. Mas se você passa muitas horas por semana treinando intensamente e testando seus limites, não é possível que já tenha alcançado seu limite de controle inibitório? O treino de maratona não conta como meditação? É uma questão difícil, mas se atletas que já treinam 16 horas por semana obtêm um benefício mensurável com mais 40 minutos de meditação, isso sugere que há algo mais envolvido.
*Alex Hutchinson escreve sobre treinamento na Outside USA.