Houve algumas tentativas ousadas de escalar o Monte Everest antes da primeira ascensão, em 1953, mas nenhuma tão louca como a de Maurice Wilson em 1934.
O soldado e aviador britânico nunca havia escalado antes, mas fez um plano para aprender a voar, fazer um pouso forçado perto do topo do Everest e depois subir até o cume.
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Durante a Primeira Guerra Mundial, Wilson acabou ferido por tiros, sobreviveu e recusou uma pensão militar. Mas suas feridas nunca cicatrizaram totalmente.
Depois de escutar sobre uma tentativa frustrada de George Mallory e Andrew Irvine de chegar ao topo do mundo em 1924, ele decidiu tentar a ser o pioneiro no topo do Everest.
Wilson acreditava que a fé e a oração o capacitariam a ter sucesso. Ele chegou a descrever a missão como “o trabalho que me foi dado fazer”.
Nenhum alpinista jamais havia tentado escalar o Everest sozinho e o feito não seria realizado até 1980. Além disso, realizar um voo solitário para o outro lado do mundo era uma tarefa apenas para os melhores pilotos da época.
Apesar de não saber nada sobre montanhismo ou voo, Wilson comprou um De Havilland DH.60 Moth, que batizou de Ever Wrest. Seu instrutor lhe disse que ele nunca chegaria à Índia, mas Wilson disse que era possível, ou morreria tentando.
Ele não tinha treinamento ou equipamento técnico de escalada e nunca havia subido uma alta montanha, mas partiu mesmo assim. Na época, pouco se sabia sobre os perigos de escalar no Himalaia, já que os relatórios muitas vezes omitiam detalhes sobre avalanches nas encostas e fendas no gelo.
O voo
Depois de sobreviver a um acidente em sua aeronave, a data de partida foi adiada. A essa altura, o Ministério da Aeronáutica e a imprensa já sabiam do plano de Wilson. Assim, o Ministério da Aviação o proibiu de voar, mas ele conseguiu sair ilegalmente do país em 21 de maio e pousar no Cairo. Como não teve permissão para voar sobre a Pérsia, Wilson aterrissou no Bahrein, onde as autoridades ordenaram que ele voltasse para a Inglaterra. Depois de decolar, ele voou para Gwadar, no oeste da Índia, que estava bem além do alcance de seu avião, mas de alguma forma ele conseguiu chegar. Ele continuou para Lalbalu, onde as autoridades apreenderam seu avião.
A caminhada
Wilson foi impedido de entrar no Tibet, então passou o inverno em Darjeeling, na Índia. No período, ele encontrou aleatoriamente três sherpas: Tewang, Rinzing e Tsering. Todos eles trabalharam para Hugh Ruttledge em uma tentativa no Everest em 1933 e concordaram em acompanhar Wilson. No primeiro dia da primavera de 1934, Wilson, Tewang, Rinzing e Tsering partiram disfarçados de monges budistas. Eles chegaram ao Mosteiro de Rongbuk em meados de abril, após 21 dias de viagem. Eles foram bem recebidos e ganharam equipamentos deixados pela expedição de Ruttledge. Wilson ficou dois dias no local, antes de partir para o Everest sozinho.
A escalada
A geleira Rongbuk foi sua estreia no gelo. Wilson achou difícil e, apesar de encontrar grampos, não os usou. Depois de quase uma semana de mau tempo, ele deu meia volta. Em seu diário, escreveu: “Foi o clima que me derrotou – que maldito azar”. Ele voltou ao mosteiro cego pela neve, com dores e com um tornozelo machucado. Após 18 dias, ele partiu novamente em 12 de maio, desta vez acompanhado por Tewand e Rinzing. Eles alcançaram o acampamento 3 na rota do colo norte. Em seu diário, ele disse: “Não peguei um atalho para o Acampamento 5 como pretendia inicialmente, pois deveria abrir minha própria estrada no gelo e isso não adiantaria quando já há uma corda de mão e degraus (se ainda houver) para o Acampamento. 4.” Durante quatro dias, ele subiu lentamente até 6.900 metros. Em 29 de maio, ele escreveu: “Este será um último esforço e me sinto bem-sucedido”. Então, em 31 de maio, ele escreveu: “De novo, lindo dia”. Os dias se passaram sem sinal dele, então Tewand e Rinzing deixaram a montanha e compartilharam a notícia de sua morte.
Corpo encontrado
Em 1935, Eric Shipton encontrou o corpo de Wilson no sopé do colo norte, deitado de lado na neve. A tenda de Wilson foi destruída pelo vento e pelas tempestades. Shipton encontrou um pacote com o diário de Wilson. Ele e sua equipe enterraram o corpo em uma fenda. Supõe-se que Wilson morreu de exaustão ou fome, mas não se sabe quando.
Chegou ao topo?
Em 2003, Thomas Noy propôs que Wilson poderia ter alcançado o cume e morrido na descida. Em 1960, um alpinista tibetano chamado Gombu disse ter encontrado os restos de uma tenda a 8.500 metros, que não deveria estar lá. Noy disse que ela poderia ter sido deixada por Wilson. Alpinista especialista no Himalaia, Chris Bonington, disse: “Acho que você pode dizer com absoluta certeza que Wilson não teria nenhuma chance”. E o historiador de escalada Jochen Hemmleb e o biógrafo de Wilson, Peter Meier-Hüsing, sugeriram que Gombu estava enganado sobre a altitude da tenda. No entanto, talvez nunca se saiba ao certo o quão alto Wilson chegou.
Expedição soviética
Também foi sugerido que, se houvesse uma tenda a 8.500 metros, poderia ser uma relíquia de uma suposta expedição soviética de 1952. A alegada expedição, aparentemente liderada por Pavel Datschnolian, teria falhado e levado à morte de Datschnolian e outros cinco alpinistas. As autoridades russas e chinesas negaram que tal tentativa tenha ocorrido, e nenhuma evidência física foi encontrada, nem há qualquer registro de uma pessoa chamada Pavel Datschnolian.
Livros
A expedição de Wilson foi abordada em vários livros, incluindo um em 1957 de Dennis Roberts chamado I’ll Climb Everest Alone, que foi reimpresso em 2011. Ele também foi mencionado em Mount Everest The Reconnaissance 1935, de Tony Astill, e em Walt Unsworth’s. Em 2020, Ed Caesar escreveu sobre Wilson em The Moth and The Mountain: A True Story of Love, War and Everest.