A maratona de Paris 2024 pode ser a mais difícil da história

Por Abby Levene, da Run/Outside USA

maratona de Paris 2024
Foto: Jean LucIchard/Shutterstock

O percurso histórico da maratona de Paris 2024 desafiará os maratonistas masculinos e femininos com subidas implacáveis nos dias 10 e 11 de agosto

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À medida que os Jogos Olímpicos de 2024 chegam ao fim, o último fim de semana traz duas das corridas mais aguardadas em Paris. A maratona masculina e feminina ocorrerá nos dias 10 e 11 de agosto, respectivamente. As corridas não serão apenas repletas de competidores ferozes e rápidos, mas também de história, calor e umidade, além de algumas das subidas mais difíceis da história das maratonas olímpicas.

Percurso

Cada corrida contará com cerca de 80 corredores e começará às 08:00, horário local (03:00 no horário de Brasília), no Hôtel de Ville, a prefeitura no centro de Paris, que data de 1535. Os corredores seguirão até o Palácio de Versalhes, do século XVII, cerca de 20 km a oeste, antes de voltar para Paris e terminar na Esplanade des Invalides, o complexo com cúpula dourada de 1706 que abriga o túmulo de Napoleão.

Ao longo do percurso, eles passarão por nove distritos da Île-de-France, tendo como pano de fundo alguns dos marcos mais icônicos da Cidade Luz, parques e florestas, incluindo a Place de la Concorde, a Rue de Rivoli, o Jardim das Tulherias e o Louvre.

Enquanto as últimas três maratonas olímpicas (Tóquio 2020, Rio 2016 e Londres 2012) apresentaram mais de uma volta e foram relativamente planas, o percurso de 2024 possui uma única volta com uma seção intermediária extenuante entre os quilômetros 14 e 28, que inclui três subidas e mais de 435 metros de elevação. Igualmente desafiadora é a descida de 435 metros, onde os corredores terão que tomar cuidado para não esgotar as pernas com a tentadora “velocidade grátis” de duas longas descidas.

A primeira grande subida do percurso da maratona olímpica começa próximo à marca de 16 km e tem um inclinação de 4%, similar à inclinação média da Heartbreak Hill da Maratona de Boston. Cerca de 3 km depois, os corredores enfrentarão uma subida ainda mais íngreme de 5%, que atinge o topo pouco antes do meio da corrida. A partir daí, eles serão desafiados com a seção mais difícil do percurso entre os quilômetros 27 e 32, onde enfrentarão a subida mais íngreme, uma subida abrupta de 600 metros com 10,5% de inclinação – que atinge um máximo surpreendente de 13,5% – seguida por uma descida de 3,2 km com uma inclinação média de 4,4%.

Os últimos 10 km são totalmente planas até o final, então a disputa pelas medalhas provavelmente se resumirá a quais corredores ainda terão força nas pernas para retornar a uma corrida rápida e fluida.

Temperatura

Somando-se à dificuldade do percurso, os dois dias da maratona olímpica ocorrerão em uma das semanas mais quentes do ano na cidade. A maratona masculina está prevista para começar com temperaturas em torno de 17,8°C e 92% de umidade, chegando a cerca de 21,7°C às 10h e cerca de 75% de umidade.

No dia seguinte, a corrida feminina deverá começar com cerca de 19,4°C e 77% de umidade, e por volta das 10h chegará a cerca de 23,9°C com 63% de umidade. Nenhum dos dias prevê cobertura de nuvens. Embora isso possa parecer relativamente agradável para comer um croissant em um café parisiense, os dados indicam que maratonistas de elite desaceleram 0,6 segundo por quilômetro para cada grau Celsius acima de 15°C. A umidade opressiva certamente aumentará o desafio de várias maneiras.

Como as subidas do percurso – e o calor e a umidade – influenciarão a estratégia de corrida será interessante. Enquanto esses fatores podem nivelar o campo de jogo, permitindo que aqueles com mais determinação do que velocidade se encontrem na disputa, avanços iniciais – seja por um indivíduo ousado ou por vários corredores – podem atrapalhar o plano de jogo daqueles que esperam correr de forma mais conservadora pelas subidas.

Maratona Olímpica masculina

Embora o bicampeão olímpico e ex-recordista mundial Eliud Kipchoge esteja entre os favoritos na corrida masculina, ele ainda não provou seu valor em um percurso montanhoso. O queniano de 39 anos é conhecido como o GOAT (sigla em inglês para “melhor de todos os tempos”) da maratona, mas falhou em sua tentativa de vencer a Maratona de Boston em 2023, quando perdeu fôlego nas Newton Hills e terminou em sexto.

Sisay Lemma, da Etiópia, de 33 anos, o quarto maratonista mais rápido da história, vem de uma vitória impressionante em Boston este ano, enquanto o queniano Benson Kipruto, de 33 anos, o quinto mais rápido de todos os tempos, conquistou as subidas de Boston em 2021 (e foi terceiro em 2023) e vem de uma vitória na Maratona de Tóquio em março. Também na disputa está Kenenisa Bekele, da Etiópia, de 42 anos, o terceiro maratonista mais rápido da história.

Maratona Olímpica feminina

A corrida feminina promete ser tão competitiva quanto, com Peres Jepchirchir, do Quênia, 30, e Tigist Assefa, da Etiópia, 27, liderando o que pode ser o campo feminino mais profundo da história. Elas vêm de um resultado 1-2 na Maratona de Londres em abril, onde Jepchirchir superou Assefa por sete segundos, estabelecendo o novo recorde mundial feminino (2:16:16) para uma corrida sem pacers masculinos. Assefa, claro, estabeleceu um surpreendente recorde mundial de 2:11:53 na Maratona de Berlim em setembro passado.

As quenianas Hellen Obiri e Sharon Lokedi também devem ser concorrentes na corrida quente e montanhosa. Obiri entra como campeã da Maratona de Boston em 2023 e 2024, além de vencedora da Maratona de Nova York em 2023. Embora Lokedi tenha sido nomeada para a equipe apenas no início de julho para substituir Brigid Kosgei, muitos acreditam que a vice-campeã de Boston de 2024 e campeã de Nova York de 2022 deveria ter sido nomeada na equipe desde o início, a maratona mais difícil de se fazer parte.

Enquanto isso, Sifan Hassan, uma corredora de 31 anos, nascida na Etiópia e competindo pela Holanda, estará correndo a maratona apenas uma semana depois de competir nos 5.000 metros femininos, onde ganhou a medalha de bronze, e apenas alguns dias após a final dos 10.000 metros, que ocorre em 9 de agosto. Ela terá cerca de 36 horas para se recuperar antes da maratona.

O Brasil não terá atletas profissionais na maratona feminina nem masculina.

Passos históricos

O percurso da maratona, além de ser pontilhado por locais e vistas de Paris, presta homenagem à Marcha das Mulheres a Versalhes, um protesto organizado por mulheres na primeira fase da Revolução Francesa.

Em 5 de outubro de 1789, mais de 6.000 mulheres e homens parisienses marcharam do Hôtel de Ville, a prefeitura no centro de Paris, até Versalhes, em protesto contra os altos preços e a escassez de necessidades básicas, como pão. Os manifestantes carregavam facas de cozinha, porretes e até mesmo arrastaram vários canhões retirados do Hôtel de Ville. A caminhada, que os corredores seguirão nos dias 10 e 11 de agosto, levou seis horas para ser concluída e terminou com a invasão do palácio da rainha.