A Maratona de Londres 2020 certamente foi a mais surreal de sua história de 40 anos: um percurso especial no Saint James Park recebeu os atletas, que foram saudados por imagens da Rainha Elizabeth de papelão enfileiradas no percurso. Ao mesmo tempo, 43.000 pessoas de 109 países fizeram a maratona virtual em vez de correr pelas ruas da capital da Inglaterra.
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Os organizadores acreditam que mesmo com as medidas de precaução devido à pandemia do Covid-19, a prova manteve seu “espírito indomável”, com cada participante se mantendo como um foco de luz em tempos incertos. Além disso, a prova ajudou a levantar fundos para milhares de instituições de caridade.
Hugh Brasher, diretor da organizadora da prova, concorda que foi a maratona mais estranha da história do evento. Mas reconhece que foi memorável ver pessoas do mundo todo, da China à Costa Rica, encarando os 42,2 km da Maratona de Londres.
“O que vimos foi o espírito indomável que sempre foi a marca da Maratona de Londres”, disse. Foi um choque a quebra do recorde mundial na elite masculina, mantido por sete anos por Eliud Kipchoge. O queniano, que já venceu a prova quatro vezes, terminou em oitavo e parecia estar mancando no final.
Maratona de Londres 2020: surpresa na elite masculina
A prova foi vencida pelo etíope Shura Kitata com um sprint emocionante, em 2:05.45, um segundo a menos do que o queniano Vincent Kipchumba. Kitata dedicou sua vitória ao seu país e a seu técnico, Haji Adilo, que não pode viajar para Londres ao ser testado positivo para Covid-19.
“Estou muito feliz de vencer essa prova em uma área muito forte do meu país e pelo meus colegas”, disse Kitata. “Vou levar minhas medalhas para meu ténico, que está na Etiópia.”
A prova feminina teve menos surpresas: a queniana detentora do recorde Brigid Kosgei venceu com 2:18:58, mais de três minutos à frente da americana Sara Hall.
Atletas “remotos”
Mas a história mais tocante do dia foi a da britência Natasha Cockram, que correu sem patrocínio e com um cisto no tornozelo, levando seu primeiro título nacional apenas 2 segundos à frente de Naomi Mitchell, com 2.33:19, e Tracy Barlow em terceiro. Natasha tinha feito um apelo na mídia para conseguir tênis para treinar em agosto, ao mesmo tempo em que tentava superar a lesão no tornozelo.
A história é ainda mais surpreendente: ela trabalhou como farmacêutica em tempo integral enquanto treinava e passou para meio período no último mês. Nos últimos dias, ela não estava conseguindo sequer correr, e diante dos resultados dos últimos ultrassons e ressonâncias magnéticas, não sabia nem se conseguiria largar.
Na corrida masculina, outro momento exótico foi Sir Mo Farah no papel de pacer dos compatriotas Jonny Mellor e Ben Connor – no qual se saiu muito bem, ajudando-os a qualificar para as próximas Olimpíadas.
Para a elite que competiu presencialmente, o percurso foram 19,6 voltas no Saint James Park, onde tantos corredores residentes em Londres fazem seu treino cotidiano. Os amadores que competiram a prova tiveram 24 horas para fazer o percurso usando um aplicativo exclusivo.
O participante mais velho da edição era Ken Jones, com 87 anos, que participou de todas as edições desde a primeira, em 1981. Ele diz que não tem planos de se aposentar da corrida ainda. Como todos os anos, muitos corredores usaram fantasias na prova. Cada um que correu os 42,2 km da Maratona de Londres 2020 a seu modo manteve o espírito da prova vivo.