Lapônia na garra: Manoel Morgado e sua recente aventura pelo Ártico

Por Redação

manoel morgado
Vista aérea da jornada de dogsled pela Lapônia. Foto: Daniel Kroiss.

Conhecido por suas expedições extremas em lugares como a Antártica e o Himalaia, Manoel Morgado recentemente trocou as altas altitudes pelas planícies inóspitas da Lapônia.

O montanhista e médico brasileiro se lançou em um desafio inédito: uma travessia de 300 km de dogsled, o trenó puxado por cães, na remota Reserva Natural de Vindelfjällen, na Lapônia sueca — a maior área protegida da Europa e, paradoxalmente, uma das menos visitadas.

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“Eu tenho muita curiosidade em fazer coisas novas. Sempre digo que divido o mundo entre especialistas e generalistas, e eu sou esse cara que gosta de experimentar tudo”, conta Morgado, que sem saber exatamente no que estava se metendo, escolheu a versão mais desafiadora deste rolê elaborado pela agência britânica Nature Travels.

Morgado prestes a iniciar a aventura ao lado do amigo André Moraes. Foto: Arquivo Pessoal.
O trenó puxado por cães atravessando lagos congelados na Suécia. Foto: Arquivo Pessoal.
Café da manhã rústico na Lapônia. Foto: Arquivo Pessoal.

A expedição Wilderness Dogsled Adventure in Vindelfjällen é uma jornada considerada difícil pelos organizadores — uma verdadeira imersão de oito dias no estilo de vida ártico que exige resistência física, mental e muito espírito de adaptação. Em sua primeira visita ao Ártico, Morgado encontrou a dose de aventura que buscava.

“Me disseram que para guiar o trenó tinha que ter experiência, mas na prática foram dez minutos de instrução. Subi, tirei o freio e de repente já estava voando numa curva. E lá fui eu”, brinca Morgado, que participou da expedição ao lado de um guia italiano, do amigo André Moraes e de dois outros europeus.

Cada participante era responsável por um time de seis huskies, todos “atletas” de elite treinados para percorrer longas distâncias. Com o trenó sob seus pés e a equipe canina à frente, Manoel deslizava diariamente por cerca de 40 km de terreno gelado — atravessando lagos congelados, florestas nevadas e vales entre montanhas. “Era como surfar. Você fica de pé num trilho estreito atrás do trenó, equilibrando pra um lado e pro outro, tentando acompanhar a dança dos cães”, descreve.

“Só que a gente aprendeu no caminho, tomando uns belos tombos. E a neve, ela varia, às vezes é fofa, às vezes, mais dura. Tinha períodos que a gente andava no gelo mesmo, aí era tudo mais rápido e sem obstáculos, mais fácil de se equilibrar. Mas tinha outros períodos que a gente entrava na neve, daí subia montanha, descia montanha, e sempre tentando controlar os doidos dos cachorros”, diz o guia brasileiro.

Os doguinhos ansiosos para iniciar o rolê do dia. Foto: Arquivo Pessoal.
Visual da Lapônia Sueca. Foto: Daniel Kroiss.
As noites eram passadas em barracas ou cabanas rústicas no meio do nada. Foto: Daniel Kroiss.

A rotina era puxada: começava com o preparo do café da manhã dos cachorros — grandes blocos de carne derretidos em banho-maria —, seguida por desmontar o acampamento, reorganizar os trenós e partir para mais um dia na neve. Ao fim do dia, a prioridade seguia a mesma: cuidar dos cães em primeiro lugar. Só depois vinham a janta e o descanso merecido em cabanas rústicas ou acampamentos improvisados no meio do nada.

“Você se apega aos cães. Sabe o nome de cada um, alimenta, veste o casaco neles à noite, cuida mesmo. Eles adoram isso. Quando a gente subia no trenó, eles ficavam desesperados para começar a correr. E no fim do dia, era bonito ver o cuidado da equipe. Colocavam até uma espécie de bolsa de gelo no tornozelo dos cachorros, como um fisioterapeuta faria com um atleta.”

Apesar de já ter enfrentado temperaturas brutais nas montanhas do Himalaia e na Antártica, o Ártico revelou um tipo diferente de desafio: a exposição contínua ao vento gelado em movimento constante. “O frio que sentimos nos lagos congelados, com vento de frente, foi algo que eu nunca tinha experimentado. E aqueles lagos intermináveis… 10, 15 quilômetros de gelo puro. É uma vastidão que impressiona.”

“Eu sou meio tendencioso com montanhas, mas aquele visual me pegou. Era como se o Ártico estivesse abrindo a cortina e mostrando tudo de uma vez.”

Ao fim da jornada de 300 km, Manoel retornou ao local onde tudo começou, com a barba mais branca e a pele castigada pela neve. “Foi minha primeira vez no Ártico, mas ficou um gostinho de quero mais. A experiência de se mover como os povos antigos da Lapônia, em silêncio, com os cães e a neve, é algo que te transforma.”

Vai lá:

Dogsled na Reserva Natural de Vindelfjällen, na Lapônia Sueca

Melhor época:

Entre março e abril, quando há bastante neve, mas o frio não é tão extremo quanto no auge do inverno. Em março, as temperaturas variam de -15°C a -5°C.

Nível de dificuldade:

Opcional. A expedição de Morgado era considerada de nível difícil, com 300 km percorridos em 8 dias. É necessário ter preparo físico e disposição para horas de atividade intensa, incluindo montagem de acampamento, cuidados com os cães e deslocamentos em terreno irregular.

Dica de ouro:

O bem-estar dos cães é prioridade. Escolha agências como a Nature Travels, com histórico comprovado de cuidados com os animais — e prepare-se para criar laços com eles. No fim da viagem, você vai saber o nome de todos os seus companheiros de quatro patas.