A missão de uma magricela para ser rata de academia

Por Maren Larsen*

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Foto: Chris Ware/Keystone Features/Getty.

A PIOR COISA SOBRE minha nova academia é ser repleta de espelhos. Eles cobrem todas as paredes, então não posso ignorar o contraste entre meu reflexo e o de todos os demais. Pareço pequena, fraca e errada, e estou usando roupas que seriam mais apropriadas para um trekking do que para malhar. Todo mundo parece sarado e confiante, puxando ferro com regatas coladas ao corpo.

Sempre apoiei o modelo “as montanhas são minha academia” de condicionamento físico, mas depois de mudar para uma cidade grande, ficou mais difícil manter a forma apenas com atividades ao ar livre. A solução óbvia era me matricular numa academia, então propus a meu editor um experimento de 30 dias de treino. No mínimo, imaginei, entraria em forma pela primeira vez antes da temporada de esqui começar.

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Encontrei uma alternativa a 13 minutos andando do meu apartamento e mandei um e-mail a Todd, o proprietário, para contar minha história: Nunca tinha frequentado uma academia que não tivesse um estúdio de yoga ou uma parede de escalada, e nunca tinha levantado peso, mas queria tentar. Combinamos um mês de treino personalizado: três sessões por semana. Junto com as taxas de matrícula, tudo custaria quase três-quartos do meu aluguel. O que me lembrou da razão de eu nunca ter feito aquilo antes, e me deixou ressentida com meu professor de educação física do ensino médio que não me ensinou os fundamentos do levantamento de pesos.

No primeiro dia, encontrei com Todd já na recepção de manhã bem cedo. Ele se ofereceu para ser meu personal trainer. Ele é mais baixo que eu, mas pelo menos duas vezes mais largo, e parece poder rebocar um ônibus escolar apenas com suas mãos.

Todd me explicou detalhadamente como seriam minhas três sessões semanais: um dia focaríamos em pernas e ombros, no outro em peitoral e tríceps, e no terceiro trabalharíamos costas e bíceps. Todos os treinos começariam com um aquecimento e terminariam com um desaquecimento que enfatizaria a musculatura abdominal. Eu assenti como se tudo aquilo fizesse um sentido intuitivo.

A primeira sessão é confusa. Ao terminar, minhas pernas parecem gelatina e meu estômago está embrulhado. Mas inexplicavelmente, eu sorrio. Todd diz que mandei bem – para alguém que jamais tinha puxado ferro. Ele se despede com um soquinho e diz que nos veremos no dia seguinte. Tenho a sensação de que ele está se perguntando se eu aparecerei ou não.

A caminhada de volta à casa leva alguns minutos a mais do que o normal. Quando chego no meu prédio, uma perna falha na escada e quase caio. De tarde, dores musculares começam a aparecer. Digo ao meu melhor amigo que estou preocupada com o segundo dia. A resposta dele é: “A dor é temporária, Maren. Músculos são… temporários , também, mas divertidos!”.

Na manhã seguinte, Todd me cumprimenta com um sorriso lunático e pergunta como estou me sentindo. “Formidável”, eu digo. De alguma forma me supero, embora tenha certeza de que pareço um bebê cervo que acaba de ficar de pé pela primeira vez. (Espelhos são evitados). Todd continua dizendo que “o movimento é a melhor medicina”; e assim que meus músculos se aqueceram, comecei a acreditar nele. No final, me sinto exausta. Mas agora sei que posso superar um treino mesmo com a sensação de não ser capaz, o que é uma novidade.

A primeira sessão é confusa. Ao terminar, minhas pernas parecem gelatina e meu estômago está embrulhado. Mas inexplicavelmente, eu sorrio. Todd diz que mandei bem – para alguém que jamais tinha puxado ferro.

Quando volto à academia na semana seguinte, os aparelhos já não parecem tão intimidantes. Todd diz que as dores musculares que senti eram normais, e que esta semana não seria tão dolorosa. Não sei se acredito nele, mas sua previsão dá resultado.
Ao longo das três semanas seguintes me sinto um pouco mais forte a cada treino. Os exercícios ficam mais fáceis, e percebo que o número de pesos que Todd me dá está aumentando. Pequenos marcos parecem vitórias: um dia os pesos realmente parecem realmente leves. Faço meus primeiros agachamentos com barra. Vou à academia de top e não de camiseta.

No final da quarta semana, meu treinador me diz que pareço mais forte e que estou me movimentando melhor. Tenho a mesma sensação – não apenas na academia, mas em todas as outras partes da minha vida. Agora estou acostumada a acordar cedo e as dores musculares prolongadas me fazem lembrar que estou ganhando músculos. O melhor de tudo, quero continuar me superando. Não posso pagar um personal em todos os treinos, mas tenho uma planilha para seguir sozinha, que inclui alguns dias estratégicos com Todd para aprender novas combinações de treino.

Durante minha última sessão, confiro minha forma no espelho e percebo que já não pareço deslocada. Vejo outras pessoas que também não parecem deuses gregos – um casal mais velho, duas mulheres da minha idade, um garoto pré-adolescente. Estamos todos aprendendo juntos. O mesmo vale para as pessoas que parecem se encaixar: elas compartilham dicas, ajudam umas às outras, e dão ânimo. Às vezes elas até mesmo acenam para mim com um movimento de cabeça, como se estivessem dizendo: Oi, companheira de ferro..

*Trecho da matéria “O hábito faz o monge”, publicada na edição 178 da Go Outside.







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