E se magnésio líquido pudesse ter o mesmo efeito do álcool gel, tornando a escalada em ginásio mais segura? O “maguina” que tanto ajuda na escalada pode ser um aliado nas medidas de higiene, se for na versão líquida, formulada álcool com alta concentração, de acordo com cientistas.
Ross Kedl é escalador e trabalha como imunologista no Campus Médico da Universidade do Colorado Anschutz. Normalmente ele pesquisa biologia das vacinas, focando em vacinas com propósitos terapêuticos. “Mas desde que a pandemia de Covid começou, muitos de nós direcionamos nossa pesquisa a projetos relacionados ao SARS-CoV-2”, disse à Climbing Magazine.
Magnésio líquido higiênico
Kedl mora há 16 anos no Colorado e escala há 10. Ao ficar sabendo de um magnésio da Friction Labs com 80% de etanol líquido, o Secret Stuff Hygienic, ele decidiu investigar. Outras marcas, como a Black Diamond e Mammut, também têm opções com mais de 70% de álcool na composição, mas só a Friction Labs está dando ênfase às propriedades sanitárias do produto.
Conversando com colegas, eles decidiram testar o produto. Joseph Sun da Memorial Sloan Kettering, em Nova York, tinha a mesma dúvida. Kedl chamou o virologista Thomas “Tem” Morrison, e Michael Schurr, professor associado de imunologia e microbiologia para a empreitada.
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Eles começaram a testar a propriedades antibacterianas do magnésio a base de etanol em culturas de laboratório com microorganismos. Foi seguido um protocolos padrão para este tipo de teste, usando higienizante para as mãos como controle. Ao testar com uma cultura de microorganismos comum de bactérias, como as que se encontram nas mãos de qualquer pessoa, o resultado foi ótimo. O magnésio líquido impedia as bactérias de se reproduzirem, comprovando a função antibacteriana do produto.
Depois eles testaram o magnésio líquido contra o SARS-CoV-2. Morrison estuda patógenos emergentes, então tinha acesso ao vírus. Ele inclusive tinha estudado os coronavírus em seu projeto de conclusão da graduação. Quando a pandemia começou, ele aproveitou o ambiente do laboratório para fazer uma cultura de SARS-CoV-2 para possíveis estudos.
Eles aplicaram o vírus em filme plástico e esperaram secar. Aí passaram os swabs (cotonetes que colhem a amostra) no plástico e aplicaram na placa de petri, onde é desenvolvida a cultura e a deixaram se desenvolver. Aí aplicaram o magnésio líquido na superfície. Em segundos após a aplicação, 99% do vírus tinha sido eliminado. Em 5 minutos, 100% do vírus sumiu. Eles usaram também agentes esterilizantes em outra placa para fazer o controle.
Cuidado com as fórmulas
No laboratório, a eficácia do magnésio líquido com 80% de etanol foi comprovada, mas as fórmulas existentes no mercado podem não atender este requisito. O próprio Secret Stuf da Friction Labs tem só 45% de álcool isopropílico, por exemplo. E não adianta nada usar um produto formulado com menos de 65% de álcool isopropílico para desinfetar.
Além do álcool, outros componentes na fórmula dos desinfetantes têm esta função. É importante que o produto final seja testado para esta finalidade, porque os ingredientes do magnésio líquido podem afetar o resultado final no que se refere às propriedades sanitárias.
Além disso, assim como qualquer álcool em gel para as mãos, ele deve ser reaplicado com frequência para ser eficaz – ao descer da via em que você tocou as agarras com as mãos, por exemplo. “Se você tem um ginásio com pessoas usando máscara e reaplicando constantemente um magnésio líquido capaz de higienizar as mãos, as chances de contaminar a parede com o vírus são menores”, disse Kedl à Climbing.
Outras precauções
Dito isso, seguem válidas as recomendações da OMS: evitar alomeração, manter distanciamento social, usar máscaras e não sair de casa se tiver sintomas de Covid. Outros cientistas estão fazendo o mesmo teste também: a Associação Britânica de Paredes de Escalada publicou um comunicado anunciando resultados preliminares de uma pesquisa sobre a proteção que o magnésio comum pode proporcionar contra coronavírus (por questões de disponibilidade, eles usaram o coronavírus humano OC43). A pesquisa completa deve ser liberada durante o mês de agosto.