Sentindo-se sobrecarregado? Estar perto de um desses ambientes já ajuda a desacelerar
Você já se perguntou por que sua mente parece instantaneamente mais leve ao se deparar com árvores? Ou por que o oceano tem o poder quase automático de te colocar num estado meditativo? Ambientes ao ar livre têm efeitos comprovados sobre o sistema nervoso — e o alívio é rápido.
Pense nisso: florestas nos aterram. Montanhas nos elevam. A água nos abre. As selvas nos despertam. Até mesmo sentar num parque, debaixo de uma árvore, tem efeito restaurador.
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Ainda assim, apesar de tudo isso, vivemos numa era dominada por espaços fechados. O americano médio passa cerca de 90% do tempo dentro de casa — e estamos cada vez mais colados em telas que consomem horas do nosso dia, aumentam o estresse e drenam nossa energia mental.
Ambientes naturais, por outro lado, ativam o sistema nervoso parassimpático, que ajuda o corpo a se acalmar e oferece um tipo de reinicialização fisiológica. E mais: diferentes paisagens têm impactos positivos distintos sobre o bem-estar.
Qualquer espaço verde traz benefícios
Mas calma, moradores das cidades: não é preciso fugir para o meio do mato para sentir os efeitos da natureza. Segundo Lindsay McCunn, professora de Psicologia na Vancouver Island University e editora-chefe do Journal of Environmental Psychology, qualquer experiência de contato com a natureza — e não apenas seu tamanho ou grandiosidade — já é benéfica.
“A pesquisa em psicologia ambiental mostra que espaços verdes em pequena escala, como ruas arborizadas, praças de bairro ou jardins no terraço, podem oferecer efeitos restauradores”, diz McCunn. “Eles também têm um papel importante na saúde social: o acesso à natureza está ligado a laços comunitários mais fortes, menores índices de depressão e maior resiliência.”
McCunn acrescenta que até mesmo a natureza simulada — em obras de arte, fotografias ou vídeos — pode trazer benefícios moderados. Ainda assim, se for possível visitar lugares mais selvagens, o ideal é vivenciar isso pessoalmente. Seja o vai e vem ritmado da maré, o silêncio de um deserto ou a abundância sensorial de uma floresta tropical, cada ambiente natural fala uma linguagem diferente — e nos afeta de formas distintas, reduzindo os batimentos cardíacos, mudando nosso humor e nos devolvendo a um estado mais equilibrado.
5 ambientes ao ar livre que acalmam você
De florestas exuberantes a montanhas imponentes, esses espaços naturais ajudam o corpo e a mente a desacelerar de forma instintiva
1. Florestas
De acordo com um estudo, o banho de floresta (ou shinrin-yoku, em japonês) pode fortalecer o sistema imunológico e oferecer um verdadeiro “reset” hormonal ao corpo. Após apenas dois dias em uma floresta, os participantes apresentaram um aumento de 50% na atividade das células NK (natural killer), fundamentais na defesa imunológica, além de uma redução significativa nos hormônios do estresse.
“A luz filtrada pelas folhas, o cheiro da terra, o farfalhar das folhas — todos esses elementos ativam o que os psicólogos chamam de ‘fascinação suave’, que prende nossa atenção de maneira gentil, sem nos sobrecarregar”, explica a neurocientista e guia certificada em terapia da natureza e da floresta, Karina Del Punta.
Essa pausa mental permite que o córtex pré-frontal — parte do cérebro responsável por planejamento e tomada de decisões — descanse, reduzindo a fadiga mental e ajudando na regulação emocional, segundo Del Punta. Ela destaca que, do ponto de vista evolutivo, as florestas ofereciam alimento, abrigo e proteção aos nossos ancestrais, o que explica por que nossos corpos ainda reagem com conforto sob a copa das árvores.
“Espaços verdes têm papel essencial no bem-estar psicológico, fisiológico e social”, afirma Lindsay McCunn, professora de psicologia ambiental. Ela destaca que os aspectos multissensoriais da natureza — como o canto dos pássaros e os padrões visuais complexos e repetitivos da vegetação (os chamados fractais) — ajudam a aliviar a carga cognitiva e promovem o estado de atenção plena.
2. Oceanos, lagos e rios
O oceano tem o poder de acalmar até as mentes mais inquietas, convidando você a pensar menos, respirar mais devagar e liberar o que está pesando. “Mente azul” (blue mind) é o termo cunhado pelo falecido biólogo marinho Wallace J. Nichols para descrever o estado semi-meditativo induzido pela presença da água, seja nela ou perto dela.
Del Punta define esse estado como uma “atenção aberta e suave”, marcada por criatividade, liberação emocional e serenidade. “No plano simbólico, a água reflete nosso mundo emocional — está sempre em fluxo, mudando, oferecendo espaço para soltar e se renovar”, diz ela. “Estar perto da água muitas vezes nos dá a sensação de estar mais próximos das nossas próprias profundezas. Até mesmo observar a água pode diminuir a frequência cardíaca e a pressão arterial, ativando o sistema nervoso parassimpático, que regula o descanso e a digestão.”
Apenas dois minutos observando a água já podem provocar relaxamento. Um estudo sobre a resposta psicológica a sons de água demonstrou que, em apenas um minuto ouvindo o som de uma nascente, as emoções negativas dos participantes caíram em cerca de 67%, e os índices de bem-estar restaurativo praticamente dobraram.
A visão e o som da água em movimento em ambientes “azuis” — como costas marítimas, rios e lagos — geram a mesma “fascinação suave” que sentimos em áreas verdes, permitindo que a mente divague e se recupere da sobrecarga cognitiva sem estímulo excessivo, explica McCunn.
Ela também ressalta que associações pessoais e culturais influenciam a forma como cada indivíduo responde à presença da água. “Para algumas pessoas, a água pode evocar memórias ou conexões positivas que intensificam seus efeitos reguladores do humor”, diz. “Mas, para outras, ela também pode despertar lembranças desagradáveis ou preocupações, dependendo de experiências anteriores.”
3. Montanhas
Ocupando cerca de um quarto do nosso planeta e com picos que alcançam alturas impressionantes, as cadeias de montanhas nunca deixam de nos paralisar e tirar o fôlego — uma resposta conhecida como “reverência” ou “encantamento”. Pesquisas mostram que esse poderoso estado de atenção plena pode atenuar a resposta do corpo ao estresse e mudar a forma como processamos informações.
Segundo Karina Del Punta, essa experiência também quebra expectativas e silencia o ego. “Ambientes montanhosos expandem nossa visão — literal e metaforicamente —, e essa perspectiva ampla ajuda a limpar a mente e pode recalibrar nosso senso de propósito e proporção”, afirma.
Um estudo de campo comparou caminhantes no topo de uma montanha com aqueles que estavam na base e descobriu que os que chegaram ao cume relataram sentimentos significativamente maiores de encantamento, além de uma maior percepção de tempo disponível, mais abertura ao aprendizado e maior criatividade nas experiências vividas.
Além dos benefícios psicológicos, passar tempo em altitudes elevadas também provoca adaptações fisiológicas, como melhora na regulação do oxigênio, na circulação, na resistência e na resiliência, segundo Del Punta. Ela explica que, do ponto de vista evolutivo, pontos altos ofereciam vantagens de sobrevivência aos nossos ancestrais. “Psicologicamente, eles nos trazem clareza e orientação”, diz. As montanhas também nos reconectam com algo maior — vasto, antigo e duradouro. “Na presença delas, lembramos o quão pequenos somos — e, curiosamente, o quão inteiros também”, completa.
4. Deserto
Muita gente enxerga o deserto como um ambiente inóspito, seco e sem vida. Mas, segundo Del Punta, a aridez pode ser um bálsamo para mentes agitadas.
“Com seu terreno despido e o silêncio profundo, os desertos reduzem tudo ao essencial, oferecendo um ambiente praticamente livre de distrações”, explica. Essa redução de estímulos sensoriais favorece a introspecção profunda e a clareza emocional. Os desertos também amplificam nossa interocepção — a capacidade de perceber e interpretar os sinais internos do corpo — e convidam à quietude e à contemplação.
No livro Return to Nature: The New Science of How Natural Landscapes Restore Us, a autora Emma Loewe analisa como o horizonte amplo do deserto estimula a criatividade na resolução de problemas e favorece pensamentos expansivos. Loewe cita estudos que mostram que, quando as pessoas tentam resolver um problema, seus olhos tendem naturalmente a buscar espaços vazios — um reflexo visual para minimizar distrações externas.
Ao comparar ambientes urbanos, verdes e desérticos (também chamados de “marrons”), verificou-se que caminhadas no deserto oferecem níveis de redução de estresse e conforto equivalentes aos das caminhadas em áreas verdes.
5. Floresta tropical
Em contraste direto com o minimalismo do deserto, as florestas tropicais transbordam vida. Esses ambientes biologicamente ricos inundam os sentidos com sons, cores, movimentos e aromas.
“Essa abundância sensorial estimula o cérebro, despertando a curiosidade, a presença e a vitalidade emocional”, afirma Del Punta. “Em um ambiente que pulsa vida, somos lembrados da nossa própria vitalidade — selvagem, encarnada e profundamente conectada ao mundo natural.”
A exposição a esses ecossistemas complexos favorece o bem-estar mental e tem sido associada a níveis mais altos de resiliência psicológica e maior engajamento emocional.
A primatóloga Jane Goodall, famosa por seu trabalho com chimpanzés, chamava as florestas tropicais de seu “templo”. Para ela, o poder dessas paisagens só pode ser realmente compreendido estando dentro delas. “Para aqueles que já sentiram a alegria de estar sozinhos com a natureza, não há muito mais que eu precise dizer”, ela declarou certa vez. “Para os que nunca viveram isso, nenhuma palavra minha será capaz de descrever a força — quase mística — do conhecimento repentino da beleza e da eternidade que chega, do nada, de forma inesperada.”
*Victoria Malloy escreve na Outside USA.