O jovem negro Matheus Nunes Ribeiro, de 22 anos, foi acusado injustamente por um casal de roubar uma bicicleta no Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro, no último sábado (12). O rapaz filmou a abordagem do casal e publicou o vídeo em suas redes sociais e registrou um boletim de ocorrência na polícia dois dias depois.
“Isso não foi um desespero de quem foi furtado, isso o é o desespero do racista quando vê a gente perto”, relatou o jovem na publicação.
Na quarta-feira (16), a polícia prendeu Igor Martins Pinheiro, jovem branco de 22 anos, pelo furto da bicicleta.
Matheus nasceu no Complexo da Maré e é instrutor de surf, esporte que já lhe deu muitas oportunidades.
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O surfista contou ao UOL que começou a vida no esporte há cinco anos, quando conheceu o surfista profissional Marcelo Bispo, dono da escolinha Team Bispo, em uma praia do Arpoador. Até então, Matheus não tinha contato com o esporte, apesar do desejo de aprender a surfar.
“Eu comecei a assistir a campeonatos na minha adolescência, porém, por ser um esporte um pouco elitizado e por morar longe da praia, eu não tinha tanta possibilidade. Procurava algumas escolinhas, mas estavam todas fugindo um pouco do meu orçamento”, contou ao veículo.
No encontro com o instrutor, Matheus pediu uma promoção em sua escola de surf. “Pode vir que a gente vai dar aula para você”, respondeu Bispo. Pouco tempo depois de iniciar na escolinha, o professor precisou de um ajudante para carregar as pranchas e acabou convidando Matheus, que aceitou a proposta na hora.
Cerca de um ano depois da contratação como ajudante, o jovem já foi promovido. “Devido à excelência do trabalho que ele apresentou e o nível de surfe que ele rapidamente adquiriu, eu passei a precisar de um professor, de um instrutor lá comigo. Eu falei para ele: ‘Cara, você quer aprender a dar aula? Eu vou te ensinar tudo. Com a experiência que você já tem dá para fazer muita coisa’. Na verdade, eu ia botar ele para só para cuidar das crianças, mas até nisso ele mostrou excelência e, rapidamente, virou um instrutor normal, padrão. Hoje em dia, ele é meu braço direito lá”, contou Bispo também ao UOL.
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Foi pelo surf também que Matheus realizou a sua primeira viagem internacional e de avião. Bispo organizou uma viagem com os alunos da escolinha a El Salvador em fevereiro de 2018 e ajudou com os custos da viagem do jovem.
Matheus mora na Vila do João, na Maré, e conta que é a única pessoa do bairro que surfa, mas quer mudar isso “Sempre que meus amigos têm disponibilidade, eu levo eles lá pra praia para ensinar. Então, estou sempre incentivando e dando aula de graça, depois do meu horário de trabalho, para quem está próximo de mim.”
“Então, tenho muita vontade de continuar sendo professor, de um dia ter minha própria parada, de fazer um projetão para a galera da minha periferia, de mostrar que o surfe dá oportunidade, como me deu, para criar uma opção a mais para as pessoas. Meus amigos de lá não veem o surfe como uma opção de esporte porque [a praia] é longe, porque é caro, então, a galera é do futebol, outras coisas. Eu quero incluir eles nisso”, finalizou.
Depois do vídeo que mostra o racismo sofrido ao ser acusado de roubar a bicicleta, o jovem acredita que pode alcançar uma visibilidade que o ajude a alcançar o sonho de tornar o surf um esporte mais democrático.
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