Influenciador ucraniano morre após queda em escalada no gelo

Por Owen Clarke, para a Climbing/Outside USA

Influenciador ucraniano Eugene (Zhenya) Vahin
Foto: Ekaterina Shurko

Eugene (Zhenya) Vahin, de 33 anos, morreu enquanto escalava no gelo em The Junkyards, no Bow Valley, Alberta, Canadá. O influenciador ucraniano,  que publicava vídeos no Instagram sob o nome @take_a_course, havia imigrado recentemente da Ucrânia para o Canadá. Ele começou a escalar no gelo há cerca de nove semanas.

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The Junkyards era sua “cachoeira de casa”, disse sua esposa, Ekaterina Shurko, à revista Climbing, da Outside USA. Ela contou que seu marido havia escalado lá mais de 20 vezes, e que a área ficava a apenas 10 minutos de sua casa. “Parece-me que foi justamente essa ideia de que a cachoeira era ‘de casa’ e o local mais fácil de todos os que ele escalava que resultou em seu erro fatal”, afirmou.

Shurko começou a se preocupar com o marido no dia 23 de janeiro, quando ele não fez a ligação de check-in programada para as 16h. “Quando deu 17h e ele não voltou para casa nem atendeu as ligações, fui procurá-lo”, disse. Ela encontrou o carro do marido estacionado na trilha e soube imediatamente que algo estava errado. “Peguei nosso kit de primeiros socorros de montanha e curativos e corri para o lugar onde costumávamos escalar.”

Caminhando no escuro, com uma lanterna, Shurko chegou à cachoeira, mas quase se feriu tentando encontrar o marido. “Havia muito gelo e a inclinação era muito íngreme”, relatou. “Meus crampons escorregaram, e eu caí da encosta, deslizei cerca de 15 metros e consegui me segurar em uma árvore para parar.” Percebendo que a situação estava além de sua capacidade, ela chamou os serviços de emergência.

A Polícia Montada Real do Canadá e o resgate de montanha de Kananaskis chegaram ao local e encontraram o corpo de Vahin mais tarde naquela noite. Os socorristas disseram não saber ao certo de que altura ele caiu. A queda não foi registrada pela câmera GoPro que ele usava. Segundo Shurko, seu marido não estava preso à corda e provavelmente havia acabado de filmar um vídeo perto do topo de uma rota quando escorregou. “O último vídeo [que ele fez] parou às 15h44. Nele, é possível ver que ele está na beira do gelo, e a um metro dele há terra e grama. Suponho que isso tenha dado uma falsa impressão de segurança.”

“Até agora, não sei exatamente o que aconteceu ali, se meu marido simplesmente tropeçou ou se o crampon dele se soltou, porque um dos crampons me foi devolvido sem a presilha”, acrescentou. Os médicos legistas informaram que Vahin provavelmente morreu devido a uma combinação de grave traumatismo craniano e hemorragia interna.

Vahin era conhecido nas redes sociais por sua atitude despreocupada em relação à segurança. Seus posts mostravam quedas em vias guiadas, escaladas solo frequentes, proteções inadequadas e más decisões em ancoragens e técnicas de escalada. Ele frequentemente ignorava comentários que questionavam sua técnica e nível de habilidade. Até mesmo o nome de seu perfil, @take_a_course (“faça um curso”, em tradução livre), parecia ser uma provocação aos seguidores que o incentivavam a buscar treinamento adequado. Quando um usuário perguntou se ele havia lido os blogs de Will Gadd sobre como escalar no gelo guiando, ele respondeu: “Não, mas se eu sobreviver, vou escrever meu próprio livro sobre como escalar [WI6] sem guia 🤣🤘.”

Shurko revelou que seu marido havia sido demitido recentemente de seu trabalho como zelador em um hotel próximo, função que exercia desde sua chegada ao Canadá. Essa demissão o deixou em um “estado psicológico ruim”, disse ela, “e acho que isso teve um papel significativo nessa tragédia. Foi um período difícil para nossa família, e a total incerteza com trabalho e moradia realmente afetou sua mente.”

Ela acrescentou que, embora soubesse dos riscos extremos que ele corria, acabou sendo levada a uma sensação de segurança, pelo menos em relação a The Junkyards, por ser um local que ele frequentava tanto. “Eu sabia e entendia que meu marido fazia coisas realmente perigosas e, mais cedo ou mais tarde, imaginava que isso poderia acontecer. Mas não naquele dia e não naquele lugar”, disse.

Na época de sua morte, Vahin tentava ganhar a vida como criador de conteúdo online. Seus posts e os vídeos fixados no topo de seu perfil indicavam que ele se sentia compelido a publicar conteúdos aparentemente arriscados ou controversos para aumentar o engajamento, uma estratégia conhecida como “rage baiting” (atrair engajamento por meio de polêmicas).

Shurko praticamente confirmou isso em sua conversa com a Climbing. “Os vídeos do Instagram e a vida real dele eram duas vidas diferentes”, afirmou. “Para aumentar as visualizações e o alcance da sua página, você precisa fazer algo que chame muita atenção do público e gere discussões acaloradas… As pessoas adoram discutir falhas e ensinar, aumentando as visualizações. Ele amava seus haters… No entanto, sempre apreciamos os comentários de profissionais que não apenas diziam que [ele estava] escalando errado, mas ofereciam ajuda.”

Vahin era voluntário frequente na organização sem fins lucrativos Canmore Food Recovery Barn, que o homenageou em uma postagem, chamando-o de “faísca de luz” e uma “alma muito bondosa”. Uma amiga de Shurko criou uma campanha no GoFundMe para apoiar a jovem viúva.

“Zhenya amava muito a vida”, disse sua esposa. “Ele amava o risco, amava esportes radicais. Nós íamos com frequência para as montanhas. Às vezes, tínhamos que caminhar por uma encosta propensa a avalanches, e ele sempre me dizia: ‘Katya, tenho tanto medo de que você seja soterrada pela neve e eu continue vivo. Como vou viver então? O que devo fazer?’ Eu sempre brincava e respondia: ‘Isso não vai acontecer, não tenha medo.’”

“Agora me faço essa pergunta todos os dias: ‘Zhenya, como vou viver agora?’”