QUE TAL UMA VIAGEM de moto desde a Califórnia (EUA), percorrendo toda a rodovia Pan-Americana até o Brasil, trazendo consigo uma prancha de surf, algumas peças de roupa e um diário de bordo, que mais tarde se tornaria um livro? Imagine então reviver essa experiência 35 anos depois, agora a bordo de uma van, para a produção de um documentário. Pois é exatamente isso que o jornalista e editor especial da Hardcore Adrian Kojin está fazendo.

No último 20 de agosto, Adrian saiu da Califórnia rumo à sua primeira parada em território mexicano, mais precisamente a cidade costeira de Ensenada, em Baja Califórnia. A entrada no México foi tensa. “Havia passado a semana ansioso, ligado nas notícias sobre a situação em Tijuana e Ensenada, com uma escalada de violência entre cartéis de traficantes rivais e forças policiais mexicanas como não se via havia dez anos”, conta Adrian, que está produzindo reportagens exclusivas sobre a viagem para o site da Hardcore.

A estreia da viagem, apesar de tensa, transcorreu sem maiores percalços para além de problemas triviais com o trânsito e o excesso de burocracia para conseguir a autorização mexicana e atravessar o país com sua van. Adrian terá pela frente nove meses de incontáveis praias, ondas surfadas e um arsenal e tanto de imagens registradas, além de, claro, muita história para contar.

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Em 1987, aos 24 anos, quando percorreu a rodovia Pan-Americana a bordo de uma motocicleta, Adrian não tinha tantos planos nem muita informação sobre o que viria pela frente. Partindo também da Califórnia, ele passou os oito meses seguintes percorrendo 13 países latino-americanos até chegar ao Brasil: México, Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Colômbia, Equador, Peru, Chile, Argentina e Uruguai.

Adrian e sua van, devidamente equipada, em meio à beleza árida do deserto mexicano. Foto: Arquivo Pessoal.

Quando fez essa viagem de 25.000 km pela primeira vez, passou por situações de alto risco, como no período em que atravessou El Salvador em meio a uma das mais sangrentas guerras civis da década de 1980 nas Américas. Isso numa época em que não existia internet nem celular e cartões de crédito eram uma raridade. Motivado pela força de sua juventude e protegido pela inocência de ser um surfista preocupado apenas em dropar todas as ondas perfeitas que encontrasse, muitas vezes andou de mãos dadas com o perigo, mas também experimentou a liberdade em sua forma mais pura.

“Essa viagem transformou minha vida e me abriu as portas para uma carreira, a de jornalista de surf”, revela. O diário e as fotos da viagem se tornaram um livro, Alma Panamericana, publicado em 1994, e colocou Adrian definitivamente no radar dos principais veículos de surf do mundo, impulsionando uma bem-sucedida carreira no segmento.

Ao longo dos meses de viagem, Adrian espera encontrar muitas ondas como essa, em Baja California, quebrando perfeitas e sem crowd. Foto: Arquivo Pessoal.
REVISITANDO A ROTA PAN-AMERICANA

Há cinco anos, no 30o aniversário da expedição, Adrian decidiu reviver a experiência, mas, dessa vez, dirigindo uma van e trazendo consigo, além do equipamento de filmagem, suas pranchas de surf e uma bike elétrica. “Levo na minha van um par de pés de pato da Jack’s e um handplane Lasca, dois longboards bem rodados – um Dewey Weber 9’ e algo, pareado com um Stewart 10’ – e uma meio tamanho amarelada 8’, que a vizinha aqui ao lado me emprestou e foi ficando. Com- pleta a turma uma semi gun Gerry Lopez, 8’ também, mas essa zerada, ainda nem coloquei na água. É o quiver que fui arrematando aqui e ali para a viagem, já que desembarquei por essas bandas seis meses atrás na condição de sem-prancha”, conta.

Já a bike elétrica terá a função de ajudá-lo a explorar as regiões por onde passar com mais agilidade, sempre em busca das melhores ondas e paisagens. A intenção desta nova jornada é a de traçar um paralelo entre a trajetória pela rodovia Pan-Americana de 35 anos atrás e a atual, para então dar vida ao documentário Pan-American Soul 2022. “Ao mesmo tempo, pretendo perseguir a história do surf nas Américas, sempre conectado às questões sociais e ambientais locais”, enfatiza o surfista.

A previsão é de que Adrian fique na estrada de oito a nove meses, tempo necessário para cobrir a janela da possibilidade de ondas perfeitas pelo caminho. A viagem está sendo feita com orçamento enxuto, o que, segundo ele, não é um problema. “Com menos dinheiro, você tem mais aventura e interação com a população local, e é isso que eu procuro. Exatamente como aconteceu na viagem original, em 1987”, revela.

CAMPANHA DE CROWDFUNDING

Para viabilizar a produção do documentário, que será feito a partir das imagens registradas pelo jornalista ao longo da viagem, Adrian lançou uma campanha de crowdfunding. É a primeira vez que ele faz algo do tipo, e assim pretende levantar fundos para realizar o documentário. Ele estima arrecadar US$ 20 mil, recursos que segundo ele serão usados para pagar despesas iniciais do projeto documental. “A partir dessa rede, conseguirei apresentar um documentário que informará as pessoas e irá inspirá-las a viajar de forma parecida ou realizar qualquer viagem que queiram. Quando viajamos, aprendemos mais sobre os outros e sobre nós mesmos. Acredito que encorajar as pessoas a sair e explorar é uma maneira de ajudar a humanidade rumo a um futuro melhor”, explica.

O financiamento do projeto vai bancar edição, direção de arte e publicação dos exemplares de Alma Panamericana, que será traduzido para o inglês, com versões digital, impressa e de livro de mesa, além de camisetas e impressões em tela, customizadas com fotos da viagem de 1987 que Adrian oferece como recompensa. O valor arrecadado também vai cobrir parte dos gastos com equipamento e as despesas com taxas cobradas pelos fotógrafos e videomakers, somando-se a isso o paga- mento de diárias. O trabalho para arrecadar fundos vai continuar ao longo de todo o período de estrada.

Surfistas e aventureiros em geral, segundo Adrian, têm grande responsabilidade de ajudar a preservar o modo de vida e a cultura das comunidades locais com as quais interagem. “Os surfistas estão na vanguarda da proteção de muitos pontos ameaçados pelo superdesenvolvimento. Mas temos de olhar também para o outro lado da moeda. Seria cínico não admitir que, de certa forma, eles foram os respon- sáveis por abrir as estradas que levaram à popularização de lugares antes desconhecidos das massas”, admite.

Para ele, o documentário Pan-American Soul servirá como ferramenta de inspiração para que as pessoas tenham consciência do que fazem enquanto estão viajando, com resultado positivo.

Vai lá:

A jornada de Adrian pode ser acompanhada através do perfil de Instagram @panamericansoul2022 e também nas reportagens produzidas com exclusividade para o site da Hardcore ao longo da viagem.







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