Impacto do protetor solar na vida marinha exige investigação urgente, aponta estudo

Por Redação

Compostos químicos que bloqueiam os raios UV podem levar ao branqueamento dos corais e à redução da fertilidade dos peixes. Foto: Lesterman / Shutterstock.

É necessária uma investigação urgente sobre o impacto potencial dos protetores solares nos ecossistemas marinhos, de acordo com este novo relatório do Marine Pollution Bulletin.

Os protetores solares contêm compostos químicos conhecidos, que bloqueiam os raios ultravioleta (UV) do sol e podem causar o branqueamento e deformação dos corais, além de reduzir a fertilidade dos peixes.

Veja também
+ ‘Rio de lava’: snowboarders descem o Monte Etna em erupção na Itália
+ Por que você deveria fazer um bike camp pela região de Mendoza, na Argentina
+ Ele foi engolido por uma baleia — e sobreviveu para contar a história

O mercado global de protetores solares está em plena expansão, com vendas projetadas para atingir US$ 13,6 bilhões até 2028. Segundo a revisão do estudo, esses produtos são lavados para os oceanos em volumes surpreendentemente altos.

Um dos estudos destacados calculou que, assumindo que 50% do produto seja removido pela água, se uma pessoa aplicar 36g de protetor solar e reaplicar a mesma quantidade após 90 minutos, uma única praia com 1.000 visitantes pode liberar até 35 kg de protetor solar no oceano.

A revisão analisou mais de 110 publicações relacionadas a protetores solares, filtros UV e seus impactos ambientais e ecotoxicológicos. Estima-se que entre 6 mil e 14 mil toneladas de filtros UV sejam lançadas anualmente apenas em zonas de recifes de corais, levando os cientistas a enfatizar a necessidade urgente de estudos mais abrangentes sobre os efeitos da poluição por protetores solares na vida marinha.

“A pesquisa atual apenas arranhou a superfície da compreensão de como esses produtos químicos podem afetar a vida marinha”, afirma Anneliese Hodge, autora principal do estudo e pesquisadora de doutorado no Plymouth Marine Laboratory e na Universidade de Plymouth, na Inglaterra.

“O que é particularmente preocupante é que esses compostos são considerados ‘poluentes pseudo persistentes’ devido à sua introdução contínua no ambiente marinho. Precisamos entender melhor como essas substâncias interagem no oceano e se possuem o potencial de se bioacumular na cadeia alimentar.”

Os filtros UV foram detectados em ecossistemas marinhos ao redor do mundo, desde áreas turísticas movimentadas até locais remotos, como a Antártica. Esses compostos podem entrar no ambiente marinho diretamente, por meio do banho no mar, ou indiretamente, através de chuveiros de praia ou toalhas que absorveram o produto aplicado na pele.

O composto mais comum encontrado nos filtros UV é a benzofenona. As benzofenonas são identificadas como substâncias persistentes, bioacumulativas e tóxicas, e a benzofenona-3, um dos principais ingredientes dos protetores solares e produtos cosméticos, está atualmente sob investigação pela Agência Europeia de Produtos Químicos por seu potencial como disruptor hormonal.

A poluição por filtros UV também foi detectada em práticas agrícolas, quando a água reciclada de estações de tratamento de esgoto é utilizada como fertilizante para o solo. Os contaminantes encontrados nesses resíduos não apenas impactam as plantações, mas também atingem ambientes aquáticos por meio do escoamento agrícola.

Enquanto isso, tecnologias tradicionais de tratamento de esgoto e água, como a ozonização — um processo químico que utiliza gás ozônio para remover poluentes —, demonstraram ser ineficazes na redução da toxicidade dos filtros UV.

“Há um número crescente de protetores solares entrando no meio ambiente, com uma variedade cada vez maior de compostos, e esses contaminantes aparecem em todas as combinações possíveis”, afirma o professor Awadhesh Jha, coautor sênior da revisão e professor de toxicologia genética e ecotoxicologia na Universidade de Plymouth.

Entre as recomendações do estudo para uma melhor compreensão do problema da poluição por protetores solares estão o aumento das pesquisas em diferentes regiões geológicas e testes mais diversos envolvendo várias fases da vida marinha.