Imortalidade em cápsula? Esse remédio pode desacelerar o envelhecimento

Por Megan Miller, da Outside USA

Imortalidade em cápsula
Ilustração de Hannah McCaughey.

NO OUTONO DE 2016, Michael e Shari Cantor faziam parte de um grupo que realizava uma cicloviagem na Europa e, pedalando ao longo do rio Danúbio, ouviram falar de uma pílula – tomá-la sai por US$ 2 ao mês – que poderia desacelerar potencialmente o processo de envelhecimento.

Eles não teriam dado importância a essa possível fonte da juventude se ela não estivesse sendo reivindicada por Nir Barzilai, companheiro de pedalada, médico e diretor do Instituto de Pesquisas sobre Envelhecimento da Faculdade de Medicina Albert Einstein, em Nova York.

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Enquanto o grupo pedalava ao lado de castelos, cervejarias artesanais e videiras de Riesling, o casal Cantor conversava com Nir sobre a metformina – um medicamento barato e comumente receitado para diabetes – e a pesquisa sobre a capacidade do fármaco de prevenir uma gama de doenças associadas à velhice. O papo despertou tanto a curiosidade do casal que eles acabaram conseguindo receitas para si mesmos.

Shari, que tem 61 anos, pedala e faz trekkings e esqui cross-country com frequência na região de Nova Inglaterra, onde ela e Michael vivem. Ela é magra e ativa e espera que tomar metformina a ajude a continuar assim. “Para mim não é uma questão de viver mais, mas de melhorar minha qualidade de vida.”

Sintetizada pela primeira vez em 1922, a metformina foi usada para tratar malária e influenza antes que fosse descoberta a sua capacidade de reduzir a glicose sanguínea, nos anos 1950. Ganhou credibilidade na Europa como um medicamento eficaz no tratamento de diabetes e, em 1995, foi aprovada nos Estados Unidos.

Apenas na década passada, no entanto, pesquisadores identificaram que o potencial da metformina ia além da diabetes. Desde então, muitos estudos embasam a eficácia do fármaco no tratamento de determinados problemas de saúde e causas de morte entre pessoas idosas, incluindo doença cardiovascular, perdas cognitivas e câncer.

No ano que vem, Nir e pesquisadores de 14 universidades planejam lançar um estudo plurianual, batizado como ensaio TAME (TarGeting Aging with Metformin, Combatendo o Envelhecimento com Metmorfina), que acompanhará 3.000 participantes de 65 a 79 anos de idade para observar se a metformina pode prevenir o aparecimento de certas doenças relacionadas ao envelhecimento e, desse modo, retardar a morte.

O objetivo: convencer a Food and Drug Administration (FDA) a considerar o envelhecimento uma condição tratável, abrindo caminho para todo um novo campo terapêutico direcionado a melhorar nossa saúde à medida que envelhecemos. Dados do ensaio TAME ajudarão pesquisadores a determinar se a metformina poderia se tornar o primeiro medicamento aprovado especificamente para colocar freios ao envelhecimento.

A metformina é o mais comum de um tipo emergente de medicamento conhecido por mimetizar os efeitos de regimes de restrição calórica, que funcionam enganando o corpo e fazendo-o acreditar que está em jejum. Isto pode ocasionar uma série de efeitos significativamente importantes para o envelhecimento.

As células empregam duas proteínas-chave para a detecção de nutrientes, a AMPK e a mTOR. Da mesma forma como o sensor do seu carro te avisa quando o tanque de gasolina está vazio, essas proteínas ativam o cresci- mento celular e o funcionamento metabólico quando há combustível disponível. Ao longo dos anos, resíduos metabólicos se acumulam, causando inflamação crônica, o que os pesquisadores acreditam ser um dos principais gatilhos do envelhecimento.

A metformina tem como alvo as proteínas AMPK e mTOR, essencialmente informando-as de que as reservas de energia das células estão vazias. Isto poderia ajudar a reduzir a inflamação e interromper potencialmente o envelhecimento celular. O problema das dietas restritivas é que a maioria das pessoas considera difícil se forçar a não comer – tão difícil que elas não chegam nem mesmo a tentar. Mas e se existisse uma pílula que proporcionasse os mesmos benefícios?

A ideia é cativante. Ainda há muitas incógnitas no que diz respeito ao potencial antienvelhecimento do jejum – e também em relação à própria metformina. A maioria dos estudos relacionados com o medicamento foi realizada em pacientes diabéticos. E, embora a metformina tenha se popularizado entre um certo tipo de entusiastas da boa forma e do body-hacking, atualmente não há dados que demonstrem qualquer tipo de benefício para a saúde de pessoas de menos de 50 anos.

De fato, de acordo com Eric Verdin, médico e diretor do Instituto Buck de Pesquisas sobre Envelhecimento em Novato, Califórnia, pessoas mais jovens que tomam a pílula podem sofrer inconvenientes consideráveis, como redução dos níveis de testosterona e da absorção da vitamina B12. “Se você tem 40 anos, é saudável e pratica atividade física quatro vezes por semana, não consigo imaginar como poderia se beneficiar da metformina”, diz Eric.

Pior, um ensaio publicado em 2018 na revista científica Aging Cell sugeriu que a metformina poderia até mesmo mitigar alguns dos benefícios do exercício.

Nesse estudo, pesquisadores colocaram 53 pessoas sexagenárias saudáveis, porém sedentárias, em um programa de 12 semanas de exercício e receitaram a cada participante, de forma aleatória, metformina ou um placebo. Aquelas que tomaram o placebo demonstraram ganhos de condicionamento maiores que aquelas que tomaram metformina.

A lição? Pessoas jovens e aficionadas por esporte devem resistir até que mais estudos sejam realizados. Mas para pessoas moderadamente ativas de 50 anos ou mais, a metformina pode vir a ser uma arma poderosa na luta contra o declínio biológico. Os Cantors conhecem as potenciais desvantagens do fármaco, mas acreditam que os possíveis sacrifícios valem a pena.

“Falando com Nir, decidi que os benefícios superavam os riscos”, conta Michael. “Aos 63, sinto-me forte como sempre, talvez ainda mais forte, e acho que a metformina tem algo a ver com isso. Assim como com a longevidade, simplesmente teremos que esperar para ver.”







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