Recentemente, durante o Saquarema Pro, o surfista Gabriel Medina sofreu uma lesão do ligamento do joelho esquerdo e assim anunciou algumas semanas de fora do Circuito Mundial da WSL.
A partir desse acontecimento, a especialista clínica e ex-atleta, Walkyria Fernandes, destaca abaixo a importância da mobilidade e do fortalecimento muscular para a prática do surf.
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“No caso do Medina, ele mesmo postou nas suas redes sociais que teve uma lesão do ligamento colateral medial do joelho esquerdo grau 2 para 3, ou seja, ruptura parcial do ligamento. Quando a entorse acontece e há uma lesão do ligamento, perde-se essa proteção do corpo, que nós chamamos de propriocepção”, descreve a especialista.
Seja para os surfistas amadores ou profissionais, Fernandes explica a importância de trabalhar a mobilidade e fortalecer a musculatura, a fim de diminuir a possibilidade de lesões nesse esporte.
A fisioterapeuta clínica explica que no surf, o fato de ficarmos em cima da prancha requer equilíbrio. Para isso, o corpo humano usa uma capacidade sensorial, chamada propriocepção – que é quando o nosso corpo avalia qual posição se encontra para ter o melhor equilíbrio. “Por exemplo, uma pessoa que vira o pé ou o joelho, fazendo surf ou outro esporte. Isso pode gerar um estiramento ou até um rompimento do ligamento.”
Fernandes ainda explica sobre a importância de os praticantes do esporte aquático terem mobilidade na região lombar e na pelve.
“Quem está começando não tem muita noção da onda. Não sabe se a onda vai quebrar na pessoa ou se vai quebrar depois, é muito fácil levar caldo. E quando a pessoa leva caldo, ela pode cair de mau jeito e se machucar. Existem algumas coisas que o iniciante precisa desenvolver para diminuir a probabilidade de lesões. Para subir na prancha, o praticante faz uma hiperextensão da coluna lombar, isso acontece quando a pessoa está deitada na prancha, ela tem que esticar os braços para levantar o tronco e se preparar para ficar em pé na onda. Então, quando ela faz esse movimento, ela precisa ter mobilidade na região lombar e na pelve. Se a pessoa não tiver, será mais difícil de fazer esse movimento e consequentemente de ficar em pé na prancha para surfar”, explica a fisioterapeuta.
Fernandes, que faz aulas do esporte, sentiu a sua musculatura do quadril, do lado esquerdo em uma das aulas. A ex-atleta relata que houve uma sobrecarga nos músculos. “Ter a musculatura fortalecida é muito importante para dar esse apoio pra subir na prancha”, conta a fisioterapeuta clínica.
O surf trabalha vários músculos do corpo, em especial o peito, braços, costas, glúteos e panturrilha. Por isso, essas áreas, além do pescoço, por exemplo, precisam ser fortalecidas.
“Quando a pessoa está na prancha deitada e ela está olhando para ver se vem uma onda, ela fica muito tempo com a cabeça para cima, que nós chamamos de extensão cervical, isso cansa muito a região do pescoço. Assim como na hora que é preciso remar para chegar até a onda, são várias braçadas. Por isso, é importante estar com o corpo o mais íntegro possível, com a mobilidade legal e com a musculatura fortalecida, com isso a chance de se machucar são menores,” esclarece Walkyria.
Tratamento e recuperação
A fisioterapeuta ainda comenta qual é o tratamento mais adequado para as pessoas que sofrem uma lesão como a do surfista Gabriel Medina. “Repouso, crioterapia, a fim de diminuir o processo inflamatório e evitar que aumente o edema local e diminuir a dor, além de exercícios de isometria, para ativar a musculatura da coxa sem movimentar o joelho. Exemplo disso é o exercício de elevação do membro inferior estendido. Nele, estamos trabalhando os músculos da coxa para estabilizar o joelho e não movimentamos o joelho”, esclarece a especialista.
Walkyria explica que é um trabalho progressivo de aumento de carga e de fortalecimento. “É preciso respeitar a cicatrização ligamentar e ir aos poucos trabalhando propriocepção e treinos de mudança de movimento. Como ele mesmo colocou nas redes sociais dele, daqui 2 semana vão reavaliar para confirmar a gravidade da lesão, se for mesmo uma lesão grau 2, ruptura parcial do ligamento, o tratamento é totalmente conservador com fisioterapia. É provável que em seis semanas ele esteja reabilitado”, finaliza.
Sobre Walkyria Fernandes
Walkyria Fernandes é graduada em Fisioterapia pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (Paraná) há 18 anos. Tem especialização em ortopedia e traumatologia desportiva, pela Faculdade Evangélica do Paraná. Além disso, conta com uma especialização em osteopatia pela Escuela de Osteopatía de Madrid (EOM) e D.O. reconhecido pela Scientific European Federation of Osteopaths (SEFO). É mestre em Tecnologia em Saúde, pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC), e fez doutorado sanduíche – parte na UniNove, em São Paulo e parte na Universidade de Sevilla, na Espanha.
A fisioterapeuta clínica ainda é idealizadora do método “Raciocínio Clínico Avançado – RCA 360”, curso on-line que já conta com mais de 5 mil alunos no Brasil e em nove países. Já foi proprietária de uma grande clínica de fisioterapia no estado do Mato Grosso, onde também atuou durante 7 anos como professora de anatomia, na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMT), no curso de Medicina.