Novos filmes de aventura que trazem o outdoor para dentro de casa

Por Verônica Mambrini

filmes de aventura
Documentário sobre o alpinista nepalês Nirmal “Nims” Purja é atração na Netflix. Foto: Reprodução.

QUANDO VOCÊ menos esperava, aconteceu: desta vez, não foi você que ficou falando de montanha para todos seus amigos e família, e sim eles que vieram comentar com você os últimos filmes de aventura bacanas que viram na Netflix.

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O novo documentário sobre o alpinista nepalês Nirmal “Nims” Purja, 14 Picos, da Netflix, está bombando na plataforma e promete mover o universo outdoor da categoria “excêntricos e loucos” para a de entretenimento de não-ficção – da melhor qualidade, diga-se de passagem.

Já na primeira semana de exibição, o filme ficou entre os dez mais assistidos da plataforma, indicando que esse divertido e ambicioso nepalês furou a bolha da escalada hardcore. O pulo do gato de 14 Picos é seu subtítulo: “Nada é impossível”.

Essa é a energia que move Purja, um homem com um talento especial para fazer discursos inspiradores mesmo nas piores situações – uma proeza nada fácil enquanto ele tenta escalar todas as 14 montanhas do mundo com mais de 8.000 metros em tempo recorde. Não escapa do público seu senso de humor, quando ele chama a si mesmo de “Usain Bolt dos 8.000 metros”.

No feito do alpinista, há dois méritos notáveis: primeiro, ele enxugou de forma inacreditável o intervalo necessário para escalar todos os 14 picos acima de 8.000 metros (altitude definida como o início da “zona da morte”, inóspita para a vida humana). O recorde anterior era do sul-coreano Kim Chang Ho, que em 2013 completou o feito em sete anos, dez meses e seis dias.

Purja derrete esse prazo e faz tudo em inacreditáveis menos de sete meses, incluindo o combo de Everest, Lhotse e Makalu consecutivamente, num total de 48 horas. O Project Possible, como o montanhista o batizou, foi completado em seis meses e seis dias. De quebra, o nepalês resgatou outros escaladores no meio do caminho.

O filme, dirigido por Torquil Jones e realizado em associação com Elizabeth Chai Vasarhelyi e a produtora de Jimmy Chin, Little Monster Films, acompanha Purja em todos os picos, enquanto um verdadeiro coro grego de grandes escaladores explica o que torna o Project Possible tão assustador. O outro mérito que não passa batido é o fato de o montanhista ser nepalês, assim como toda sua equipe. “A comunidade alpinista do Nepal sempre foi a pioneira, mas nunca teve o respeito que merece”, afirma.

Por décadas, escaladores da etnia sherpa viabilizaram expedições estreladas por escaladores vindos de diversas partes do mundo, fazendo todo o trabalho pesado até o cume de maneira praticamente anônima. Purja devolve ao povo do Nepal o mérito que lhes é de direito. Com uma equipe autossuficiente, é revelador ver outras equipes esperando a de Purja instalar as cordas fixas, que seriam usadas também pelos outros depois.

“Muitos alpinistas ocidentais escalaram com uma grande ajuda de sherpas. O que eu ouvi na maior parte do tempo é: ‘Meu sherpa me ajudou’”, diz o alpinista mais tarde no filme. “Isso é errado porque ele tem um nome. O que eles deveriam dizer é: ‘Mingma David me ajudou’ ou ‘Gesman Tamang me ajudou’. Senão, você é um fantasma.” Ele também faz questão de pagar sua equipe melhor do que as expedições ocidentais o fariam. Toda essa humanidade, embalada numa produção de altíssima qualidade, é para não deixar ninguém indiferente – nem mesmo os menos chegados a uma aventura outdoor.

O mais legal é que 14 Picos não é o único desta nova safra de “blockbusters” da aventura. Veja outros filmes imperdíveis que trazem o outdoor para dentro da sua casa.

Viagem ao Topo da Terra

Esta animação de 2021 do francês Patrick Imbert explora muito bem as possibilidades de imagem que o gênero permite. Afinal, na montanha, em altitude, às vezes a captação das cenas nos deixa na mão, por motivos óbvios. Mas a animação vai além das situações belas e delicadas de alpinismo. Baseada no mangá do mestre Jiro Taniguchi em parceria com Baku Yumemakura, ela corre ao redor da questão central desse esporte: por que escalar a montanha?

O fotojornalista e escalador diletante Fukamachi está em busca da câmera que supostamente teria tirado fotos de George Mallory, o primeiro homem a tentar escalar o Monte Everest. O corpo de George nunca foi encontrado quando ele tentou a escalada, em 1924, e o rolo de filme dentro da câmera poderia revelar a verdade. Fukamachi acredita ter visto a câmera nas mãos do alpinista Habu, um herói no Japão que desapareceu depois de uma tragédia pessoal. Bem construída, a história prende ao tentar traduzir o desejo inexplicável de conquistar montanhas e toda a silenciosa vida interior que brota dele.

Disponível na Netflix.

Alpinistas: Desastre no Everest

E já que estamos no embalo, aproveite para mergulhar no assunto “o cume mais alto do mundo”. Baseado em fatos reais, o filme retrata a primeira subida de alpinistas chineses ao Monte Everest pela face norte, conhecida por ser o lado mais desafiador da montanha. A expedição alega ter chegado ao cume, mas perde a câmera com as fotos que provariam o feito. Treze anos depois, uma nova expedição é organizada. Jackie Chan faz uma pontinha, que deixa o filme mais simpático. O diretor Daniel Lee explora as tensões humanas que explodem nesse tipo de escalada.

Disponível no Now, Google Play, Vivo Play e Sky.

Elu/Delu

Lor Sabourin é uma pessoa trans que escala com a divertida tendência de deixar rolar em voz alta seu fluxo mental, em frases como “Oh, eu realmente não queria estar fazendo isso agora”na hora do crux. Com uma narrativa ritmada e um ótimo equilíbrio entre escalada e a história pessoal do protagonista, Elu/Delu (They/ Their) conta como Lor abraçou sua identidade de gênero.

O filme, dirigido por Blake McCord e Justin Clifton, tem como fio condutor a via que é o projeto dessa temporada de Lor, em paredões de arenito do norte do Arizona (EUA), para contar sua narrativa pessoal. O próprio título, Elu/ Delu, é o pronome neutro que vem sendo usado para se referir a pessoas não-binárias. Lor explica cuidadosamente alguns dos desafios que tem enfrentado, incluindo disforia de gênero, dismorfia corporal e transtorno alimentar.

Ao longo do filme, dá conselhos que vão muito além do mundo da escalada.“O medo não é estúpido ou algo para odiar, é sensato e nos permite saber coisas sobre nós mesmos”, fala durante uma escalada. “E isso não é uma coisa esotérica e pegajosa. Vamos sentir ansiedade ou medo quando nossas necessidades não forem atendidas, sabe?”

Disponível no canal de YouTube da Patagonia.

Cousteau Passado e Futuro

Jacques Cousteau detestava que chamassem seus filmes de documentários. “Fico furioso quando rotulam meus filmes com essa palavra. Significa ‘palestra de um cara que sabe mais do que você’”, conta ele numa passagem no novo filme Cousteau Passado e Futuro.

“Nossos filmes não são documentários. São verdadeiros filmes de aventura”, classifica. Este documentário biográfico fica à altura da definição. A diretora Liz Garbus usou sua experiência em retratar figuras pop como Marilyn Monroe e Nina Simone para mostrar um Cousteau inesperado. Ela entrevistou pessoas próximas ao lendário explorador, ouviu suas entradas no diário de áudio e examinou 550 horas de material de arquivo.

É um retrato histórico envolvente sobre o que sabemos em relação aos oceanos, o início da carreira de Cousteau, a tomada de consciência sobre ecologia e a preocupação com o futuro do planeta. “Estamos dando cheques em branco para as gerações futuras”, disse ele em uma entrevista. “Nós não pagamos. Eles vão pagar.”

Disponível no Disney+.

Matéria originalmente publicada na Go Outside 172.







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