Desde que a escalada entrou oficialmente para os Jogos Olímpicos em 2021, o esporte ganhou popularidade e, com ela, a atenção da comunidade científica.
Uma das pesquisadoras que tem se debruçado sobre o tema é a fisioterapeuta Gabriela Saliba, escaladora e doutoranda em Ciências da Reabilitação pela UNISUAM (RJ).
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Desde 2019, ela estuda os fatores de risco de lesões em praticantes de escalada. Em 2022, levou sua pesquisa para a Université Aix-Marseille, na França, como pesquisadora convidada.
Saliba foca nas lesões musculoesqueléticas, que variam conforme a modalidade da escalada e estão frequentemente ligadas a cargas excessivas de treinamento (overuse) sem o devido repouso.
Segundo ela, “as regiões mais afetadas são os dedos, punhos e ombros, principalmente devido ao uso de agarras minúsculas, que exigem força extrema e precisão”.
Essas lesões, comuns entre escaladores esportivos, muitas vezes se acumulam de forma silenciosa. Entre as mais recorrentes estão tendinites, distensões e luxações nas extremidades superiores, além da famosa lesão nas polias — o temido “dedo do escalador”.
Essa condição pode gerar edema, dor persistente e até danos articulares. Já no punho, lesões como a do músculo flexor ulnar do carpo e a síndrome do túnel do carpo também são relatadas, esta última presente em até 25% dos escaladores de elite, segundo estudos internacionais.
Um dos focos centrais da pesquisa de Saliba é a dor crônica, classificada pela Organização Mundial da Saúde como um problema de saúde global que afeta cerca de 20% da população. “Na escalada, uma lesão mal curada pode evoluir para dor crônica, o que compromete não só o retorno ao esporte, mas a qualidade de vida do praticante”, explica a pesquisadora.
Para aprofundar a compreensão sobre esses riscos, sua tese de doutorado está sendo desenvolvida em parceria com o Laboratório de Ensaios Mecânicos da Engenharia Mecânica da PUC-RJ, coordenado pelo professor Adrian Giassone, atual presidente do Centro Excursionista Carioca. Com orientação do professor Arthur Sá (UNISUAM), o estudo envolve o uso de dinamômetros com tecnologia norueguesa e brasileira para medir a força aplicada por escaladores do estado do Rio de Janeiro.
A pesquisa conta com o apoio da empresa BR2W e do ginásio de escalada Evolução, localizado no Rio. A ideia é que os resultados sirvam não só para prevenir lesões, mas também para orientar treinadores e atletas em práticas mais seguras e sustentáveis dentro do esporte.
“Escalar é mais do que vencer obstáculos — é entender os limites do próprio corpo”, resume Saliba. Com o crescimento da escalada no Brasil, iniciativas como essa mostram que o caminho para o alto também passa, necessariamente, pela ciência.