Ter aptidão física é mais importante do que ser magro, aponta estudo

Por Dr. Jeffrey Sankoff*, para a Triathlete/Outside USA

Pessoa subindo escada - aptidão física
Foyo: Freepik

Um especialisra explica por que a aptidão física é mais importante do que a perda de peso para a longevidade.

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Se você começou a praticar triatlo para melhorar a saúde, não está sozinho – estudos mostram que o desejo de ficar ou se manter saudável é uma das principais motivações para muitos triatletas. Mas o que realmente significa “estar saudável”? Uma nova pesquisa publicada no British Journal of Sports Medicine revela que a aptidão física (ou estar em forma), e não o peso, é o melhor indicador de saúde a longo prazo.

O estudo, que analisou a relação entre aptidão cardiorrespiratória, índice de massa corporal (IMC) e risco de mortalidade, concluiu que estar fora de forma aumenta o risco de morte prematura, independentemente do peso corporal.

Contexto

Desde 1980, a prevalência da obesidade dobrou em mais de 70 países ao redor do mundo. A obesidade está associada a diversas doenças crônicas, bem como à mortalidade cardiovascular. Por essa razão, médicos há muito tempo aconselham seus pacientes com sobrepeso a perder peso para reduzir esses riscos e potencialmente prolongar suas vidas.

Apesar desses esforços, as taxas de obesidade continuam a crescer. A Organização Mundial da Saúde (OMS) relata que mais de 43% dos adultos em todo o mundo estão acima do peso e 16% são obesos. Enquanto isso, alguns estudos descobriram que a perda de peso nem sempre reduz o risco de mortalidade – mas a aptidão cardiorrespiratória sim.

Muitos estudos demonstraram que o exercício físico está inversamente correlacionado com morbidade e mortalidade cardiovascular – ou seja, mais exercício leva a menos doenças e menor risco de morte. O exercício também é conhecido por ser um fator de proteção contra várias doenças crônicas e até certos tipos de câncer. Mesmo níveis moderados de aptidão física podem ter impactos significativos.

Diante dessas informações, os pesquisadores se perguntaram se os efeitos protetores de ter aptidão física também poderiam se estender àqueles que estão acima do peso.

Estudo “magro vs. em forma”

O Dr. Nathan Weeldreyer, da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, conduziu uma revisão sistemática na qual 20 estudos menores foram analisados em conjunto, abrangendo quase 400.000 participantes. O objetivo foi avaliar qual fator era mais importante para bons resultados de saúde: estar em forma ou ter um peso considerado “normal”.

Os participantes do estudo foram classificados como “aptos” ou “inaptos” e, em seguida, subdivididos com base em seu IMC em peso normal, sobrepeso ou obesidade.

Os resultados foram inequívocos. Em comparação com indivíduos com peso normal e em forma, aqueles com sobrepeso e em forma ou obesos e em forma não apresentaram aumento significativo no risco de mortalidade por qualquer causa. No entanto, em comparação com indivíduos com peso normal e em forma, observou-se um aumento no risco de mortalidade por qualquer causa em todas as pessoas inaptas, independentemente do peso.

Em relação ao risco de mortalidade por doenças cardiovasculares, estar em forma ofereceu proteção para indivíduos de todos os pesos, com diferenças mínimas na taxa de mortalidade entre pessoas com peso normal, sobrepeso e obesidade. Estar fora de forma dobrou o risco de mortalidade por qualquer causa e aumentou de duas a três vezes o risco de mortalidade cardiovascular, independentemente do peso.

Curiosamente, na maioria dos estudos analisados, para ser considerado “em forma”, bastava superar o percentil 20 dos padrões de aptidão física. Isso sugere que reduções significativas no risco de mortalidade podem ser alcançadas com níveis moderados de aptidão, independentemente do IMC.

O que isso significa

É importante destacar que os autores deste estudo (e de outros semelhantes) enfatizam que essas descobertas não significam que pessoas com sobrepeso ou obesidade não devam considerar a perda de peso como um fator para melhorar a saúde. O excesso de peso continua associado a uma variedade de doenças crônicas e pode dificultar o condicionamento físico em comparação com aqueles mais próximos do peso normal.

O que este estudo sugere é que, em vez de focar na perda de peso como um objetivo principal, as pessoas devem priorizar o aumento do nível de aptidão física. A perda de peso pode ou não ocorrer, mas mesmo que não aconteça, a melhora na aptidão cardiorrespiratória proporcionará benefícios essenciais e duradouros para a saúde física e mental.

Resumo:

  • Concentre-se em melhorar sua aptidão física e não se preocupe tanto com o peso como um objetivo principal.
  • Contar calorias pode ser estressante e, muitas vezes, não é eficaz. Pequenas mudanças nos hábitos alimentares podem ajudar na composição corporal e no peso, mas esses fatores devem ser secundários à aptidão física.
  • Se você tem uma balança, resista ao impulso de se pesar diariamente ou de dar muita atenção ao número. Em vez disso, acompanhe o VO2 máx. calculado pelo seu relógio fitness como uma melhor métrica de saúde.
  • Medições de percentual de gordura corporal feitas por balanças são notoriamente imprecisas e não devem ser usadas como um indicador de saúde. Foque na aptidão física e deixe o restante seguir naturalmente.

 

*Dr. Jeffrey Sankoff é um médico de emergência em Denver, Colorado (EUA), e produtor do TriDoc Podcast. Ele também é triatleta e treinador certificado pela USAT e Ironman.