Passei muito tempo tentando identificar exatamente o que leva a quebras mentais durante as corridas em trilha. Essa curiosidade me levou a ter muitas conversas intrigantes com alguns dos atletas e treinadores mais experientes do esporte.
Existem vários fatores mentais que podem levar a um desempenho abaixo do esperado, mas um deles sempre aparecia repetidamente. Quase todos os atletas e treinadores mencionavam o mesmo conceito: o desempenho é muito afetado quando a experiência real da corrida não corresponde às expectativas ou à imagem que o atleta criou em sua mente.
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Entrar em uma experiência com crenças rígidas sobre como as coisas devem acontecer cria o ambiente perfeito para padrões de pensamento disfuncionais surgirem. O principal problema aqui é a incapacidade de se adaptar às circunstâncias.
Seja aberto e curioso
De acordo com o trail runner e treinador David Roche, os atletas tendem a idealizar a experiência antes da corrida. Quando as dificuldades começam a aparecer e o atleta não se preparou para lidar com elas, é muito mais fácil se fechar, pensando: “Isso não está nem perto do que eu imaginei.” Seu cérebro precisa interpretar uma experiência que não lhe é familiar, e além disso, ela pode ser desconfortável e até dolorosa.
David incentiva seus atletas a pensarem antecipadamente nos desafios que irão enfrentar. Grandes desempenhos acontecem apesar – ou até por causa – das adversidades, não na ausência delas. Cada vez que você encara um novo desafio, aprende mais sobre si mesmo. Como Courtney Dauwalter disse sobre os momentos difíceis nas corridas: “Você não pode simplesmente convocá-los quando quiser.”
Encare esses momentos com uma mente aberta e curiosidade para descobrir até onde você consegue ir. Eles são um presente. Sem resistência no seu caminho, você nunca saberá do que realmente é capaz. Você é mais forte do que imagina. Dê a si mesmo a chance de provar isso.
Responda, não reaja
Uma coisa que as corridas continuam me ensinando é que eu não tenho tudo resolvido. Quando eu acho que sei de tudo, sempre aparece uma nova lição. Já passei por várias situações em que as coisas não saíram como planejado, e eu simplesmente reagi sem pensar. Reagir coloca você na defensiva, muitas vezes assumindo o papel de vítima e gerando emoções negativas. Alguém mais já teve uma crise de autopiedade no meio da trilha? Pois é, eu também.
Por outro lado, responder às circunstâncias significa absorver as novas informações e se ajustar. Deixe de lado a sua percepção ou ideias pré-concebidas sobre como a experiência deveria ser. A flexibilidade mental e emocional para resolver problemas é um superpoder no trail run. Reagir é um ato passivo, enquanto responder é um ato ativo. Seja ajustando seu plano de corrida, mudando sua perspectiva ou resolvendo um problema de nutrição, permita-se ser adaptável.
Persistência, não teimosia
Outro efeito negativo de uma mente muito rígida é a teimosia. Quando a realidade do dia da corrida não corresponde ao “filme perfeito” que você criou na sua cabeça, uma reação comum é a negação. Quando as coisas ficam difíceis, a primeira reação pode ser simplesmente forçar a corrida a se encaixar nas suas expectativas. O problema é que isso pode levar a uma visão limitada.
Quando você está tão focado em fazer a corrida acontecer exatamente do jeito que imaginou, pode ignorar ou até mesmo desprezar os sinais e feedbacks da realidade ao seu redor. A teimosia toma conta, e você deixa de ser um participante ativo na sua própria corrida.
Isso não significa desistir dos seus objetivos, mas sim entender que há diferentes caminhos para alcançá-los. Para mim, persistência significa continuar em busca da sua meta, mesmo que o caminho para chegar lá seja diferente do que você imaginou.
Não há nada mais perigoso do que cair na armadilha de achar que você já sabe de tudo. Sem a curiosidade de aprender mais sobre si mesmo, é difícil superar momentos difíceis. Estar preparado para um desempenho de sucesso significa desenvolver habilidades para responder e se adaptar a qualquer situação que a trilha colocar no seu caminho. Melhor condicionamento físico e preparação não garantem maior controle sobre a corrida – no máximo, criam a ilusão de controle.
Uma mente aberta, a disposição para se adaptar e um verdadeiro canivete suíço de habilidades mentais e físicas são as ferramentas que permitirão que você explore o máximo do seu potencial.