Escaladora iraniana, que competiu sem o véu, é recebida como heroína em Teerã

Por Redação

Foto: Reprodução / AP . Twitter_HKH_HOSSEIN

A escaladora iraniana Elnaz Rekabi, que participou de uma competição na Coreia do Sul sem usar o hijab, retornou a Teerã nesta quarta-feira (19) e foi acolhida como uma heroína por apoiadores no aeroporto, de acordo com a agência de notícias RFI.

Sua participação nos campeonatos asiáticos de escalada, usando apenas uma bandana na cabeça, havia sido interpretada como um gesto de solidariedade com as manifestações desencadeadas há um mês pela morte da jovem curda iraniana Mahsa Amini.

Veja também

+ Tricampeã mundial de kite, Bruna Kajiya compete pela primeira vez na Arábia Saudita

+ Felipe Camargo escala a maior boca de caverna do mundo – e te leva junto

+ Vestígios históricos são encontrados na restauração do Museu Nacional

A República Islâmica do Irã exige que as atletas usem o tradicional véu islâmico, que é obrigatório para todas as mulheres, mesmo em competições no exterior.

Em duas ocasiões desde terça-feira (18), Elnaz Rekabi, de 33 anos, já pediu desculpas e explicou que seu lenço de cabeça havia escorregado por engano.

Mas os ativistas de direitos humanos disseram que as declarações, feitas à imprensa e nas mídias sociais, podem ter sido feitas sob pressão.

“Elnaz é uma heroína”, “Bravo Elnaz”, gritavam dezenas de pessoas reunidas nesta quarta-feira (19) de manhã em frente ao terminal do aeroporto Imam Khomeini de Teerã para receber a jovem mulher com aplausos, brandindo telefones celulares para filmar a cena.

Vestida com um casaco preto com capuz e usando um boné e um lenço leve para esconder seu cabelo, segundo a correspondente da RFI em Teerã, Siavosh Ghazi, a atleta Elnaz Rekabi foi saudada no terminal por seus parentes, antes de se dirigir à mídia.

“Devido ao clima durante as finais da competição e ao fato de ter sido chamada para começar quando não estava esperando, fiquei emaranhada no meu equipamento técnico (…)”. Por causa disso, eu não prestei atenção ao cachecol que deveria estar usando”, declarou a esportista iraniana.

“Voltei ao Irã em paz, em perfeita saúde e de acordo com o cronograma. Peço desculpas ao povo iraniano pela tensão criada”, disse ela, acrescentando que não tem “nenhuma intenção de dizer adeus à equipe nacional”.

Mulheres sem véu

A multidão, que incluía mulheres sem véu, cercou uma van e um carro em que a esportista estava sentada. Os dois veículos deixaram o aeroporto para um destino desconhecido, ainda em meio a aplausos.

“Foi uma recepção digna de um herói, o que inclui mulheres sem o véu obrigatório, fora do aeroporto de Teerã, para a esportista Elnaz Rekabi. As preocupações com sua segurança permanecem”, comentou o Centro de Direitos Humanos no Irã (CHRI), uma ONG com sede no Irã.

A República Islâmica tem sido repetidamente acusada de provocar confissões ou declarações forçadas. A atriz britânica de origem iraniana, Nazanin Boniadi, embaixadora da Anistia Internacional no Reino Unido, considerou que a esportista havia sido “forçada a fazer esta declaração pelas autoridades, que estão acostumadas a confissões forçadas na televisão”.

Os observadores “não devem ser influenciados pela propaganda estatal”, disse o CHRI. O jornalista iraniano exilado Maziar Bahari descreveu as declarações da jovem mulher como uma “confissão forçada”. “Você pode ver o medo em seus olhos. Ela está apenas repetindo o que lhe foi dito”, escreveu ele no Twitter.

A Anistia Internacional ressaltou que a jovem mulher estava de volta “sob risco de prisão arbitrária, tortura e outros maus-tratos”. Ativistas de direitos humanos fora do Irã haviam expressado preocupação sobre seu destino, com vários de seus amigos dizendo que não conseguiam falar com ela.

Elnaz Rekabi usou uma bandana durante o evento de escalada e uma faixa de cabeça revelando seus cabelos durante uma competição, de acordo com imagens divulgadas pela Federação Internacional de Escalada.

A competição, na qual ela ficou em quarto lugar, aconteceu no domingo, um mês após a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, que foi presa em 13 de setembro em Teerã pela polícia moral por violar o rígido código de vestimenta das mulheres da República Islâmica, que inclui o uso do véu.

O esporte se tornou uma questão extremamente sensível no Irã desde os recentes protestos, com várias destacadas esportistas iranianas se pronunciando a favor dos direitos das mulheres.

Com informações de AFP e RFI.